Filme em Locarno explica a história do LSD
Substância tão alucinógena como mítica, descoberta pelo químico suíço Albert Hofmann, o LSD é tema de um documentário realizado pelo cineasta Martin Witz e estreado mundialmente no Festival de Cinema de Locarno.
Trata-se da história de uma substância que mudou o realizador assim como milhares de outras pessoas.
“Não podemos fazer um filme como esse, sem saber do que se trata, interiormente também. Jovem adulto, nos anos 1980, eu experimentei-o várias vezes com bastante interesse. Nós fizemos isso com meu amigo na época, guiados por um psiquiatra.”
Roteirista e produtor do “The Substance – Albert Hofmann’s LSD” (A Substância – o LSD de Albert Hofmann), um filme em concurso na categoria “Cineastas do presente”, Martin Witz propõe uma odisseia da qual lhe impressiona o fato de ninguém ter convidado o espectador antes dele: o destino do psicotrópico alucinógeno descoberto quase ao acaso pelo químico suíço Albert Hofmann.
Esse “cientista teve a classe de aceitar que, na sua descoberta, as pessoas não compreendiam tudo”, observa Martin Witz. “Hofmann era um espírito aberto, curioso, que tolerava o fato que não se pode explicar tudo, sem ser um esotérico limitado em todo caso. Esse tipo de espírito se tornou um pouco raro na nossa sociedade.”
Bom começo
Witz começa da primeira “trip” de ácido experimentado por Hofmann, que o próprio químico, falecido em 2008, lembra-se no documentário. Ele mostra como a sociedade e as mídias, inicialmente, receberam de forma favorável esse novo instrumento para a pesquisa psiquiátrica.
Em Praga e nos Estados Unidos as experiências decorrem sem problemas, como mostram os arquivos. “Um miligrama e tudo muda”, afirma um psicólogo. O LSD se torna um instrumento de descoberta da consciência e de tratamentos que, refinados, demonstram cada vez mais eficácia.
Com a Guerra Fria, os exércitos e os serviços de espionagem começam a fazer testes. Com resultados hilariantes sobre as tropas, incapazes de obedecer e mover-se em ordem, mas também com derrapagens próximas da tortura.
A pesquisa continua seu caminho e os artistas entram também na história. Eles são cada vez mais numerosos a querer ter esse “sentimento oceânico”. Os “Merry Pranksters”, os testes de ácido, o psicodelismo, a expulsão de Timothy Leary da Universidade de Harvard, que se torna um guru de uma revolução espiritual sob o ácido: Martin Witz exibe todas essas passagens. Ele o demonstra através de uma montagem minuciosa e transposições das “trips” em imagens.
“Fazer LSD puro é extremamente entediante”, explica-lhe Nick Sand. Em retrospectiva, o químico de Leary confirma também: “Eu sou um criminoso? É claro que sou um criminoso”. Em meado dos anos 1960, o governador da Califórnia, Ronald Reagan, proíbe o LSD, pavimentando o caminho a uma interdição que se tornará brevemente geral.
As más experiências se generalizam
Nesse meio tempo, os hippies invadiram São Francisco, o chamado “Verão do amor” explodirá as convenções sociais, com a guitarra de Jimi Hendrix e seu quinhão de “bad trips” (más experiências de utilização da droga), cujas vítimas lotam os hospitais. O psicodelismo seduziu o planeta.
“Sim, houve abusos e eu nunca teria pensado que essa substância chegaria às ruas”, declarava mais tarde Albert Hofmann, que permaneceu até o fim um defensor da legalização do LSD para a pesquisa.
A experiência extrema de Leary, que o presidente americano Richard Nixon considerou “o homem mais perigoso dos Estados Unidos”, tirou sem dúvida o aval científico do LSD. É um psiquiatra que o diz no documentário. É preciso esperar trinta anos para que a pesquisa retorne timidamente, ligada ao câncer ou à depressão.
“Alguns falam de um renascimento dos alucinógenos no campo da psiquiatria, mesmo se o termo de renascimento me pareça abusivo”, confirma Martin Witz. “Atualmente se realizam pesquisas na Suíça com o LSD e a psilocibina (substância presente em cogumelos usados na medicina tradicional asteca-nahuatl da Meso-América) e nos Estados Unidos somente com a psilocibina.”
A utilização criativa não desapareceu completamente, segundo Martin Witz. “Todo mundo sabe que existe LSD nas ruas, mas consumido por um grupo muito particular da população. Penso que essa situação não irá mudar em curto prazo”. Por sua vez, o cineasta não tomou mais a droga nos últimos vinte anos. Ele próprio relata que foi uma experiência para ser lembrada.
Parte da nossa história
“Alguns dizem que o LSD mudou o mundo, alguns mesmo consideram que o mundo estaria melhor se o LSD pudesse existir livremente”, continua Martin Witz. “Eu não estou seguro. Mas quando experimentamos um bom trip, nos sentimos ligados à natureza, à criação. Eu me sentia parte desse planeta e prestava atenção à minha vida e a dos outros. Parece romântico, mas é a realidade.”
O cineasta ressalta que não fez um filme para defender a droga. Ele o justifica de uma forma simples: “O LSD foi experimentado por milhões de pessoas nos anos sessenta e setenta. É uma experiência coletiva e, portanto, parte da nossa história. Eu considero que valia a pena contá-la no cinema.”
Nascido em 1956 na Suíça, Martin Witz é diretor e roteirista também atuante nos gêneros de ficção, documentário e televisão. Ele trabalha ainda como engenheiro de som e montador.
Cenógrafo de “Hugo Koblet – Pédaleur de Charme” (Hugo Koblet – o ciclista de charme), ele colaborou também em vários filmes: “Letter to Anna“, do diretor Eric Bergkraut, “Les voyages de Santiago Calatrava“, de Christoph Schaub ou “Elisabeth Kübler-Ross“, de Stefan Haupt.
Seu primeiro filme destinado ao cinema foi exibido em 2007. Intitulado “Dutti der Rise“, ele falava sobre Gottlieb Duttweiler, o fundador da rede cooperativa de supermercados Migros.
“The Subtance – Albert Hofmann’s LSD”
Será exibido nos cinemas suíços a partir de 17 de novembro.
Produção em 35 milímetros, 90 minutos
Diretor: Martin Witz
Produção: Ventura Films SA
Distribuição na Suíça: Frenetic Films SA
Distribuição mundial: Autlook Filmsales
Adaptação: Alexander Thoele
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