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Filme mostra realidade de emigrantes suíços

Equipe brasileira grava com apoio suíço em Scheitheim. swissinfo.ch

Começam em Schleitheim as filmagens da história dos emigrantes suíços de Schaffhausen, que fundaram a cidade de Joinville, em Santa Catarina, há quase 150 anos.

O filme Suíços Brasileiros, que deverá ser concluído em 2010, relembra um passado distante e aborda um tema atual: a situação de migrantes que fogem da miséria em procura de uma vida melhor.

O cantão de Schaffhausen (nordeste da Suíça) em meados do século 19: alguns povoados rurais estão divididos. De um lado, os mais ou menos abastados; do outro, uma multidão de miseráveis.

A população cresce e as parcelas de terra para o cultivo agrícola – repartidas de geração em geração –tornam-se cada vez menores. Devido ao excesso de chuvas, três safras consecutivas de batatas apodrecem no solo. Muitas pessoas passam fome.

Essa é também a situação em Schleitheim na primavera de 1852. Os melhor situados não escondem o desejo de se verem livres dos famintos e mendigos, que alguns consideram “inúteis”.

É nesse cenário que aparece Emil Paravicini, agente da Companhia de Colonização de Hamburgo. Ele promete aos pobres o paraíso no Além-Mar, na Colônia Dona Francisca, e tenta convencê-los a cruzar o Atlântico.

Alguns embarcam. Ao todo, 142 moradores de Schleitheim emigram entre 1850 e 1854, a metade para o Brasil. A prefeitura oferece ajuda de 1.730 francos por família disposta a ir embora – os emigrantes renunciam ao direito a heranças.

“O paraíso no pântano”

Essa atmosfera é reconstruída na primeira parte do docudrama Suíços Brasileiros – Uma História Esquecida, que está sendo rodada em Schleitheim. O roteiro de Paulo Esteche baseia-se no livro do historiador Dilney Cunha Das Paradies in den Sümpfen (O paraíso no pântano, em português Suíços em Joinville. O duplo desterro).

A partir do livro e de pesquisas próprias, Esteche criou um panorama que retrata desde a realidade suíça na época de emigração, os engodos e as explorações de que os emigrantes oram vítimas, seu papel no “processo de embranquecimento do Brasil” e até sua perda de identidade cultural. “Eles saíram da Suíça como grupo e se dissolveram em Joinville”, diz Esteche (ouça os áudios na coluna à direita).

Essa perda de identidade foi tão forte que muitos descendentes dos imigrantes de Joinville esqueceram sua origem suíça. Por outro lado, em Schaffhausen, a emigração para o Brasil parecia ter sido apagada da memória. A tradução do livro de Dilney Cunha para o alemão e agora o filme reavivam a memória – aqui e lá.

Falsas promessas aos pobres

“É importante que essa história não muito bonita seja documentada. Naquela época, exportamos uma parte do nosso problema social. Era mais barato pagar as passagens aos pobres do que dar-lhes assistência social”, diz Peter Baumer, da Associação de Parceria Schaffhausen-Joinville, que apóia a realização do filme.

O papel de Paravicini é protagonizado por Mike Zeller, que durante quatro anos foi professor do Colégio Suíço em Curitiba. Casado com uma brasileira, hoje ele vive em Zurique, mas do Natal ao Carnaval é “cozinheiro-chefe” num bar na praia de Itapoá (SC).

Para o agente, a emigração era um negócio – quanto mais pessoas ele convencesse a emigrar, mais ele ganhava. “Paravicini é um pouco corrupto e mente. Ele diz que a viagem é de graça; que até a primeira colheita tudo é emprestado e que os emigrantes terão um crédito de três anos para a terra e a moradia. Só depois começarão a pagar”, descreve Zeller o seu papel.

Ele também paga propina às crianças de Schleitheim para que distribuam os cartazes de publicidade da Colônia Dona Francisca, mas não convence a todos. Muitos jovens entusiasmam-se pela idéia de uma viagem transatlântica; os idosos são mais céticos.

“Pobres vendidos”

Beat de Ventura faz o papel de um “morador sábio”. Ele sabe ler e sua opinião é respeitada por outros. Apesar de não acreditar nas promessas do agente da companhia colonizadora, ele, a mulher e cinco filhos acabam emigrando. “A miséria era tal que não havia alternativa”, justifica.

A família Meyer é a protagonista principal no grupo de emigrantes: Johann Meyer, sua esposa grávida e três filhos embarcam na carroça que os leva a Basileia, de onde seguem para o porto de Hamburgo.

A “Frau Meyer” – Michelle Cordes – mãe de três filhos também na vida real e integrante de um grupo de teatro amador em Schaffhausen – está entusiasmada com sua primeira participação num filme.

“Os figurinos nos transportam àquela época sombria, em que os pobres foram como que vendidos ao exterior”, diz. Ela acrescenta que “o ambiente de trabalho nas filmagens é fantástico. Mesmo que às vezes eu não entenda todas as orientações do diretor, no final tudo dá certo”, diz Cordes.

Essa opinião é partilhada também por Claudia Caviezel, uma professora de música, que faz o papel de “mulher do mato” (Waldfrau). “Sou paupérrima, não tenho sequer bagagem, só alguns pedaços de lenha para levar na viagem.”

Ambiente multilíngue

Caviezel conta que tem uma vaga lembrança de ter ouvido na escola algo sobre a emigração para Joinville e que agora está lendo o livro de Dilney Cunha. Ela diz estar fascinada com a “autenticidade e a possibilidade de improvisação” na sétima arte. Para ela, “os brasileiros são muito tranquilos nas filmagens e criam um clima solto, agradável, que contagia os suíços.”

Uma boa dose de autenticidade do docudrama resulta do trabalho de Monika Stahel, que em Schaffhausen faz encenações chamadas “Tempos Idos”. Ela tira do fundo de um baú herdado da mãe as roupas antigas que transformam suíços de hoje em emigrantes do século 19. Através de sua rede de contatos, Stahel também reuniu a maioria dos 40 atores para a parte suíça do filme.

As gravações em Schleitheim aproximam dois países num ambiente multilíngue. Ouve-se inglês, português, alemão e dialetos suíços. Julian Underwood, um free lancer suíço-inglês, ajuda nas filmagens e atua como tradutor entre o diretor Calixto Hakim e o elenco.

“A integração das equipes brasileira e suíça está sendo perfeita, apesar de falarmos diferentes idiomas. Acontece um aprendizado mútuo. Às vezes, basta um olhar para que o que o outro entenda”, conta Hakim. “Mostramos uma história que une dois países”, acrescenta.

O diretor e a produtora Katharina Beck, suíça de Winterthur, elogiam o apoio recebido da população local. “O pessoal de Schaffhausen e de Schleitheim realmente abraçou o projeto”, diz Hakim (ouça mais declarações do diretor na coluna à direita).

Entender a própria história

O ex-presidente do Partido Social Democrata suíço, Hans-Jürg Fehr, presidente da Associação de Parceria Schaffhausen-Joinville, arranjou 50 mil francos do governo estadual para financiar as filmagens na Suíça. Ele e outras personalidades e historiadores locais também aparecem no filme, em depoimentos sobre “a migração ontem e hoje”.

“A migração hoje acontece principalmente em sentido contrário, da África, da América Latina e da Ásia para a Europa”, diz Hakim, ressaltando a atualidade do tema. Hoje 1,6 milhões de imigrantes vivem na Suíça, entre eles 47 mil brasileiros (contra 15 mil suíços no Brasil).

Também o desenvolvimento de Schleitheim tomou outro rumo – apesar do cenário histórico quase intacto do povoado. No século 19, a maioria dos moradores vivia da agricultura, hoje muitos trabalham na indústria. Nas últimas décadas, houve concentração em vez de divisão das terras.

“Há 50 anos tínhamos 50 pequenos produtores de leite, hoje sobram cinco. Só os grandes sobrevivem”, conta Hans Keller, de 84 anos. De olho nas gravações, ele diz que “é bom que essa história seja relembrada. Isso nos ajuda a entender melhor a nossa própria história”.

As cenas que Hans Keller presencia na praça da igreja são de emoção. Lágrimas misturam-se aos acenos de despedida dos emigrantes. No final da tarde, as duas carretas que os levam a Basileia desaparecem por atrás das colinas de Schleitheim.

Nem todos chegam ao destino. Dos 71 moradores que partem de Schleitheim em 7 de maio de 1852 – na escuridão da madrugada para esconder a dor do adeus – 33 morrem em alto-mar em consequência de uma epidemia de sarampo no navio Colombo.

Quatro dos cinco membros da família Meyer sobrevivem. Os atores que os representam irão ao Brasil no ano quem vem para gravar as cenas da chegada dos imigrantes à Colônia Dona Francisca. Com um brilho nos olhos azuis, Michelle Cordes diz que já se alegra “por poder conhecer Joinville. E pela primeira caipirinha no Brasil”.

swissinfo, Geraldo Hoffmann

Título: Suíços Brasileiros – Uma História Esquecida
Gênero: Documentário
Duração: 52′
Formato: HD-TV
Assunto: História da imigração suíça para o Brasil.

Por mais de um século, ficaram enterrados em pouquíssimos lugares os fragmentos da verdadeira história dos imigrantes suíços ao Brasil. Muitos dos descendentes de Suíços até há pouco se achavam descendentes de alemães.

Este filme, pretende fazer o resgate desta saga: abordando a cultura, história e costumes dessas bravas famílias que ajudaram a construir a região, que hoje é o maior pólo industrial de Santa Catarina.

Produção dividida em:
80% – região onde se localizava a colônia Dona Francisca – Brasil
20% – cantão de Schaffhausen – Suiça.

Bilíngüe (português e suíço alemão).

O filme vai ser o que se convencionou chamar de “docudrama”.

Ficção: dramatização de acontecimentos escritos e recriados (acentuando os valores artísticos e de entretenimento do filme).

Fonte: http://suicosbrasileiros.com.br

O orçamento total do filme é de 695 mil reais. Descontanda a ajuda suíça – o cantão de Schaffhausen deu 50 mil francos (cerca de 100 mil reais) – e alguns apoios logísticos que conseguimos no Brasil, ainda faltam uns 400 mil reais.

Após as filmagens em Schleitheim, Calixto Hakim pretende produzir um trailler do filme para continuar a captação de recursos no Brasil, com base na Lei Rouanet.

As gravações da parte brasileira do docudrama estão previstas para início do ano que vem. A meta do diretor é terminar o filme em 2010.

Hakim está tão entusiasmado com o resultado das filmagens em Schleitheim que já planeja duas versões do filme: uma de 45 minutos para a televisão e outra de uma hora e meia para o cinema.

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