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Fribourg: um festival com gostinho de Brasil

"Be with me" é um filme em competição de Singapura swissinfo.ch

Dois filmes brasileiros em competição, 2 fora, uma retrospectiva, com destaque para o Cinema Novo ... O Brasil está mais presente do que nunca no Festival de Friburgo, voltado para os "países do Sul" .

Filipinas e Irã também sobressaem no evento, que acontece de 12 a 19 de março.

O Brasil ocupa, de fato, espaço considerável nesta edição 2006 do Festival Internacional de Filmes de Friburgo.

E como o evento anual tem como propósito “contribuir para garantir a diversidade cinematográfica e cultural na Suíça e na Europa”, e ainda “promover filmes de qualidade”, há até motivo de orgulhar-se que a cinematografia brasileira esteja bem representada.

O Festival – que figura entre os melhores do gênero na Europa – associa arte e reflexão sobre realidades políticas e sociais pouco conhecidas no velho continente, no intuito de abrir os horizontes do público suíço (e europeu em geral).

Ele mostra, como diz o presidente do evento, Jean-François Giovannini, o olhar de um cineasta “sobre seu próprio país, sua própria situação”. Um olhar diferente daquele que reflete a TV, “que é geralmente um olhar ocidental”.

O público visado parece cada vez mais interessado por essas outras realidades vistas pelo prisma da 7a. arte, pois com o passar dos anos, a afluência só tem aumentado.

“Tentações” concorre a prêmio

Não é, então, por acaso que se denomine “O Olhar de Ouro” (Regard d’Or, em francês), a principal recompensa contemplando a obra em competição que seja considerada de maior interesse pelo júri.

Neste ano, concorrem a este prêmio dez longas (com uma première internacional e duas premières mundiais): o brasileiro As Tentações do Irmão Sebastião”, de José de Araújo (2005), e sete filmes da Ásia – o que vem mostrar mais uma vez a predominância no Festival da cinematografia daquele continente – e ainda, uma obra egipto-libanesa, intitulada Dunia. Além de um filme francês sobre problemas da juventude africana, Un matin de bonne heure.

Filmes novos, portanto. E desconhecidos por estas bandas. Uma exceção seja talvez Dunia que aborda o conflito de uma egípcia oprimida pela própria cultura, mas com ânsia de liberar-se do que considera tradições ou práticas retrógradas, como a excisão. Para realizar a filmagem, a cineasta egípcia Jocelyne Saab lutou 5 anos contra a censura de seu país.

Um caleidoscópio de documentários

Entre os nove documentários, de médias e longas-metragens, em competição – com duas premières mundiais e três européias – figura 500 Almas, de Joel Pizzini, que aborda a redescoberta dos Guatós. Pensava-se, por engano, que essa tribo indígena estivesse extinta mas sobreviveram quinhentas pessoas. Daí o título da obra.

Os outros documentários em concurso vêm da Argentina (que aborda igualmente problemática indígena), Israel (sobre a futilidade da guerra) e, também, Irã, França, Coréia do Sul, Japão e China.

Na seleção oficial hors-concours, a balança pende para a América Latina, com presença do Chile (La última luna, de Miguel Littin), México (Los héroes y el tiempo, de Arturo Ripstein), Argentina (Ocho años despues, de Raúl Perrone), Uruguai (Palabras verdaderas, de Ricardo Casas)…

… além de Quanto Vale ou é por Quilo?, de Sérgio Bianchi, filme sarcástico sobre o dinheiro destinado a ONGs mas que vai parar em bolsos indevidos. E ainda: Terra em Transe, de Glauber Rocha.

“Cinema Novo” em destaque

Tirando o filme de Glauber, todos os outros são recentes: de 2002 para cá. Mas Terra em Transe, que data de há 40 anos, é um filme cult aqui na Europa. “Ele faz parte da história mundial do cinema”, lembra Marina Mottin, que organizou a retrospectiva do cinema brasileiro, apresentada no Festival.

Helena Mottin tem orgulho de apresentar a versão restaurada desse filme. “É uma cópia maravilhosa”, entusiasma-se. Só tem pesar de não ser o primeiro festival a fazê-lo porque Berlim passou na frente…

Se a retrospectiva merece matéria jornalística à parte (e que virá em breve), o Festival de Friburgo dedicou “panoramas” igualmente às cinematografias filipina e iraniana.

Uma janela para o Irã

Sob o título “o cinema iraniano vai à guerra” são projetados 9 filmes cujos enredos estão direta ou indiretamente relacionados com o conflito Irã-Iraque (1980-1988).

As películas escolhidas que vão de 1980 a 2004 representam para o diretor artístico do Festival, Martial Knaebel, “um estudo quase científico – no sentido histórico do termo – sobre um gênero cinematográfico importante”.

Para Knaebel, revelam-se os códigos utilizados por cineastas, produtores ou países como justificativa de uma situação política ou de guerra. Esse gênero é tanto mais interessante porque “permite compreender melhor como funciona a sociedade iraniana atual”.

Cinema filipino se libera

Quanto ao panorama do cinema filipino do momento, o diretor artístico lembra que a possibilidade (que vem se expandindo) de filmar com câmaras digitais foi uma liberação para os jovens cineastas do país.

“A produção cinematográfica era no país monopólio de grandes estúdios, de grandes produtores – cerca de 4 ou 5 – que exerciam todo o poder sobre o setor. Hoje, os cineastas podem filmar com uma câmara pequena e montar o filme no computador”.

E conclui: “Criou-se um movimento independente que se livrou da produção conservadora, no sentido cultural do termo. Isso transformou completamente a paisagem cinematográfica filipina: buscam-se novas formas de expressão, apuradas ou menos apuradas, mas interessantes pelo potencial…”

E por falar em potencial, um das seções do festival, intitulada Crescendo é dedicada justamente a novos cineastas que revelam grande capacidade de desabrochamento.

Entre eles mencione-se o brasileiro João Falcão, autor de A Máquina, de 2005. O filme de Falcão narra as peripécias de um casal: num vilarejo perdido, Antonio encontrou o amor de sua vida em Karina. Mas esta sonha com grandes espaços… (Confira ao lado, o site do Festival).

Um festival cioso de sua independência

Vale lembrar que no âmbito do evento será projetada, em uma semana, uma centena de filmes. Na maioria obras recentes e ainda desconhecidas do público europeu.

Nem chegamos a mencionar os curtas e longas metragens da seleção oficial com filmes que nos remetem aos 4 cantos do mundo. Nessa seção, a produção brasileira faz-se novamente presente com Dormente, de Joel Pizzini, filme de 2005.

O Festival Internacional de Filmes de Friburgo que comemora 25 anos de existência (suas primeiras edições eram bienais) e continua a cultivar a modéstia e um ambiente informal, vem atingindo seus objetivos: abrir os olhos das pessoas para outras realidades no sentido de contribuir para aproximação de culturas.

Seu orçamento continua também modesto: apenas 1,5 milhão de francos. Na maioria dinheiro público, mas o Festival é cioso de sua independência.

swissinfo, J.Gabriel Barbosa, de Friburgo

O Festival de Filmes de Friburgo realiza-se anualmente em março.

Um dos mais importantes do gênero na Europa, o evento reúne filmes da África, Ária e América Latina, excluídos dos principais circuitos de distribuição.

Um dos feitos do Festival foi introduzir no mercado europeu – bastante fechado – obras que tratam de realidades socio-políticas contribuindo para melhor compreensão entre culturas em geral muito diferentes.

Quase um terço dos filmes projetados no 20° Festival de Friburgo são brasileiros, com destaque para o “Cinema Novo”.
A presença de Helena Ignez, musa e ex-mulher de Glauber Rocha e também ex-mulher de Rogério Sganzerla garantirá melhor promoção dessa tendência do cinema brasileiro.

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