“Há autocensura na cabeça dos cineastas”
A 45ª edição do Festival de Cinema de Solothurn, no noroeste da Suíça, começa com críticas à superficialidade dos filmes nacionais e à "autocensura" do setor.
O diretor do evento, Ivo Kummer, e a atual presidente da Suíça, Doris Leuthard, pedem aos cineastas mais coragem para abordar de forma crítica e construtiva a realidade social do país.
Em seu discurso de abertura do festival, na “cidade barroca mais bonita da Suíça”, na quinta-feira, Leuthard conclamou o meio cinematográfico a “criar mundos de sonhos. Pelos pesadelos há outros responsáveis”, ironizou.
Ela advertiu, porém, que isso não deve ser entendido como um apelo por um cinema acrítico. Pelo contrário: “Realmente não precisamos de uma Suíça de cartão postal. Precisamos de uma abordagem construtiva de temas difíceis”, declarou.
Nesse sentido, ela elogiou o Festival de Cinema de Solothurn, que “sempre procurou uma abordagem crítica do país, de seu povo e sua realidade”.
Doris Leuthard, que é também ministra da Economia, disse não invejar a Secretaria Federal de Cultura, que atualmente negocia com o setor cinematográfico o fomento ao cinema para o período 2011-2015.
“Sei por experiência própria no meu ministério como é difícil fazer o máximo de justiça para realmente fomentar os que merecem e não preservar estruturas”, disse em seu discurso.
Em 2010, o governo suíço apoia a produção de filmes com 24,5 milhões de francos. Somando-se a isso os 10 milhões para o programa Media, da União Europeia, e outros créditos – incluindo uma ajuda de 2,5 milhões para os festivais-, o fomento à indústria cinematográfica chega a 47 milhões de francos.
Diretor pede mais coragem
O diretor do Festival de Solothurn, Ivo Kummer, disse que, em vez de “filmes superficiais, fomentados com muito dinheiro, os cineastas deveriam realizar projetos mais engajados e corajosos, viáveis também com orçamentos menores”.
“O slogan ‘Popularidade e Qualidade’, sob o qual o governo federal previu sucessos fantásticos, fracassou. Pequenos vagões muitas vezes ultrapassaram grandes locomotivas generosamente fomentadas”, disse.
Em entrevista à swissinfo.ch antes da abertura do festival, Kummer declarou que “o cinema suíço mostra uma grande autonomia”, mas que ele espera dos realizadores mais coragem para abordar temas sociais.
Segundo Kummer, o sistema de fomento ao setor muitas vezes aposta em temas destinados a um grande público. “Mas não existe garantia para tais temas. Também não existe garantia de que só filmes caros têm sucesso e baratos fracassam.”
“Penso que, por isso, um pouco de autocensura tomou conta da cabeça dos cineastas. Eles se perguntam se com este ou aquele projeto têm chance de obter recursos de fomento”, acrescentou.
Kummer disse à swissinfo.ch que “um cinema um pouco mais radical, também com produção mais rápida e barata, faria bem à Suíça e, sobretudo, à cultura cinematográfica suíça”.
O 45° Festival de Cinema de Solothurn deve atrair 45 mil espectadores de 21 a 28 de janeiro. O evento marca a estreia de oito filmes de ficção suíços e serão exibidos vários curtas e desenhos animados, bem como mais de 20 documentários.
Geraldo Hoffmann (com colaboração de Corinne Buchser), swissinfo.ch
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