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Criadores de “Heidi” retornam aos Alpes

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Posando frente da "Casa da Heidi", um chalé de montanha: os desenhistas Yoichi Kotabe (esq.), Junzo Nakajima (centro), e Kayoko Takahata, a viúva do diretor Isao Takahata, que dirigiu a série televisiva. swissinfo.ch

O famoso anime japonês "Heidi" produzido nos anos 1970 se baseou em um romance suíço do século 19. A menina órfã dos Alpes disseminou no mundo a imagem de uma Suíça de paisagens idílicas e inocência. Seus criadores visitaram há pouco o país para se lembrar da inspiração.

A visita de um grupo de turistas japoneses ao vilarejo alpino de Maienfeld, ao leste da Suíça, no verão de 1973 foi fundamental para criar o anime, uma animação produzida por estúdios japoneses. “Heidi”, a menina dos Alpes marcou muitas infâncias. Uma jornalista da swissinfo.ch acompanhou dois membros do grupo, hoje na faixa etária dos 80 anos, quando visitaram o lugar que os inspirou.

Maienfeld estava coberta por neblina quando acompanhamos Yoichi Kotabe, um dos mais famosos desenhistas e autor de outros personagens famosos como o “Super Mario”, e Junzo Nakajima. Cinquenta anos se passaram e os japoneses, enfim, retornam à mesma colina, mas dessa vez de carro, com permissão especial das autoridades locais.

Voltamos no tempo. Em 1973, a viagem era uma aventura para Kotabe. Ele nunca tinha saído do Japão ao embarcar. “Quando chegou, a curiosidade era tanta que não parava de desenhar tudo que via. Assim dei asas à minha imaginação”, lembra-se.

O destino se chama “País da HeidiLink externo” (“Heidiland”, em alemão). Os guias locais explicam que é a região onde, supostamente, teria vivido Heidi e seu avô. “Quando chegamos aqui, 46 anos atrás, não era fácil subir nessa íngreme colina”, conta Kotabe ao se aproximar do chalé. “De repente essa cabana apareceu. Fiquei muito surpreso, pois era exatamente como descrito nas histórias da Heidi”, conta o desenhista.

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Posando em 1973: Hayao Miyazaki (esq.), Yoichi Kotabe e Isao Takahata Junzo Nakajima

Aos 82 anos, Kotabe caminha em ritmo constante, mas lento, o que revela a sua idade. É um gigante do seu ramo. Já trabalhou para o fabricante de jogos eletrônicos Nintendo e foi um dos criadores dos personagens Super Mario e Pokémon. O produtor Nakajima, hoje aos 81, também é um “titã” da sua profissão.

A cabana do passado se transformou hoje em um restaurante turístico. Quando Kotabe visitou pela primeira vez o local, era ainda uma residência. “Seus proprietários me convidaram para entrar e então eu vi uma caixa grande e comprida no andar superior, cheia de palha. Assim eu pude descrever a cama da Heidi.”

Transformar a famosa personagem da menina órfã, como descrita em 1880 pela escritora suíça Johanna SpyriLink externo, em uma figura de animes era um antigo sonho de Shigehito Takahashi, o fundador dos Estúdios ZuiyoLink externo, em Tóquio. O empresário japonês estava convencido que a história funcionaria bem na televisão.

Takahashi levou a ideia ao jovem diretor Isao Takahata, hoje falecido. Hayao Miyazaki foi convidado para criar o roteiro. Kotabe o design e Nakajima se tornou o produtor. O grupo foi à Europa, onde passou dez dias viajando entre a Suíça e a Alemanha. Uma das estadias foi Maienfeld.

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Esboços dos desenhos do avô da Heidi em um objeto decorativo de madeira encontrado em uma loja para turistas na Suíça. Yoichi Kotabe

Sem tranças

Kotabe começou a desenhar a figura da Heidi enquanto descobria a Suíça. Ele imaginava uma garotinha bem bonita com tranças. Mas ao retornar, decidiu mudar completamente o personagem. Uma bibliotecária suíça, que encontrou no caminho, recomendou que as tranças fossem retiradas. “Uma menina de cinco anos vivendo nas montanhas não prende os cabelos dessa forma”, contou.

Em seguida mudou os traços da menina: “Eu desenhava uma Heidi como uma bonequinha, posando cheia de charme. Para mim, ela era assim”, lembra-se. Mas quando mostrou os esboços a Takataha, o diretor recusou. “Quero uma menina que possa olhar nos olhos do seu avô rabugento”, disse no momento.

Foi mais difícil criar o avô. No entanto, Kotabe encontrou seu modelo enquanto visitava o Jungfraujoch, a estação ferroviária mais elevada da Europa e uma das principais atrações turísticas do país. Lá, uma figura talhada na madeira encontrada em uma loja de souvenirs lhe chamou atenção. Ele não comprou o objeto, mas desenhou escondido seus traços, tentando não ser descoberto pelos proprietários.

Em MaienfeldLink externo ficaram só dois dias. Para o grupo, o suficiente para ter uma impressão da vida nas montanhas. Kotabe encheu seus dois cadernos de esboços de rostos, roupas e comidas típicas. “Eu estava muito estressado nesses dias”, recorda-se.

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“Importante também era escutar os sons, sentir a brisa e ver tudo se desenvolver na nossa imaginação”, diz Nakajima. “Era verão quando chegamos. Porém a história tem primavera, verão, outono e, obviamente, o inverno. A gente não tinha ideia de como seria a neve no local durante o inverno e as cores das folhas do bordo, no outono”

“Heidi no Japão”

A exposiçãoLink externo está aberta até 13 de outubro no Museu Nacional Suíço, em Zurique.

Ela mostra em imagens o processo de produção e também esboços elaborados pelos criadores do anime em 1973. Em uma sala os visitantes podem também ver a mesa onde a escritora Johanna Spyri escreveu o famoso romance.

Adaptação: Alexander Thoele

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