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Homenagem a Man Ray, ícone Dadá

Man Ray: "Noire et blanche". Fondazione Marconi, Milano

Personagem emblemático do Dadaismo, Man Ray foi um dos artistas mais famosos e influentes de seu tempo.

O Museu de Arte de Lugano (sul) dedica uma grande retrospectiva ao artista americano, reunindo mais de 300 obras e objetos.

Essa exposição-acontecimento, possível graças a um grande empréstimo da Fundação Marconi, de Milão, propõe um retorno a quase um século de criação. Uma viagem através de fotografias, mas também pinturas e objetos, divididos entre ficção e realidade, à imagem da eterna busca artística de Man Ray.

Mesmo aqueles para quem o nome de Man Ray não evoca nada, conhecem pelo menos o Violon d’Ingres, que se tornou uma das imagens mais famosas e mais importantes da fotografia do século XX. Uma alegoria musical das costas desnudas da cantora Kiki de Montparnasse, de quem o artista era apaixonado.

Uma fotografia que é também uma homenagem à música, às composições de Erik Satie, à língua francesa e, em particular, à pintura orientalista de Jean-Auguste-Dominique Ingres (a cabeça de turbante da modelo), de quem Man Ray era um grande admirador.

Da paixão à criação

Violon d’Ingres, uma obra que reflete principalmente a importância das paixões amorosas que permeiam a obra do artista.

“Um homem sério, rigoroso e ao mesmo tempo consternado, que sempre transpôs seus encontros e amizades em sua arte, como uma necessidade de projetar seus sentimentos do momento em suas criações”, explica o especialista e crítico de arte italiana, Janus, um dos melhores conhecedores de Man Ray, que conheceu pessoalmente.

Na exposição proposta em Lugano, na Suíça italiana, essa sequência de encontros, como sua amizade com Marcel Duchamp, suas relações com Lee Miller, Eluard Nusch e Juliet Browner, é iluminada por uma narração em áudio de algumas passagens da autobiografia do artista, à disposição dos visitantes.

Tantas confidências e holofotes sobre as circunstâncias que serviram de cenário ou de catalisador para esta proliferação artística e que revelam a ambivalência fascinante de Man Ray, entre a dúvida e a certeza durante mais de meio século de criação.

Trocadilhos e significados

Com trocadilhos e alusões, o trabalho de Man Ray é uma busca eterna de sentido, entre a ficção e a realidade, como em Noire et Blanche, uma fotografia tirada em 1926. Ela representa um rosto de mulher (a de Kiki de Montparnasse) de olhos fechados, deitada em uma mesa e, ao lado dela, uma máscara de ébano africana.

Uma linguagem artística simples e sofisticada para a época que o artista também incluiu no seu apelido, Man Ray, de Emmanuel Radnitzky. Uma vontade, não de encobrir sua origem judaica, mas de brincar com as palavras e significados. Man Ray “Homem de Luz”, como o americano gostava de se descrever.

Para Marco Franciolli, um dos três curadores da exposição, este evento cultural é “um sonho tornado realidade”, diz com emoção. “Para os estudantes de arte e história da arte dos anos 70, como eu, Man Ray foi uma fonte inesgotável de referências e reflexões. E é um grande privilégio poder acolher suas obras em nosso museu.”

Páginas da vida

Um percurso e especialmente quatro momentos tumultuados na vida de Man Ray, que os curadores da exposição no Ticino preferiram separar em capítulos, páginas da vida do artista que podem ser percorridas no ambiente íntimo das salas da “Villa Malpensata”, o museu de arte de Lugano.

A primeira parte mostra os anos da formação de Man Ray até 1921, em Ridgefield, no New Jersey, que abriga uma grande colônia de artistas – que ele frequenta se recusando a aderir a qualquer movimento – e em Nova York.

Segue a primeira fase em Paris, de 1921 a 1940, vivenciada ao lado dos maiores artistas do século XX, que se tornaram seus amigos, como Pablo Picasso, Marcel Duchamp, Meret Oppenheim, Jean Arp, Francis Picabia. Período comprovado em alguns dos retratos da retrospectiva e em várias obras contidas na exposição para melhor realçar suas afinidades e uma certa linguagem artística comum.

Da capital francesa ele vai voltar à sua América natal, à Los Angeles e Hollywood, onde permanece por uma década. A terceira fase, de 1940 a 1951, anos da guerra e do pós-guerra, é o período em que o artista “tão pouco americano” é recebido de braços abertos pelos museus e galerias.

Finalmente, e mais uma vez, é a efervescência e a influência artística parisiense que marcará a verdadeira consagração da carreira de Man Ray.

Filadélfia. Emmanuel Radnitsky, Man Ray, nasce em 27 de agosto de 1890, na Filadélfia, EUA.

Nova York. Pintor, fotógrafo, designer, escritor, cineasta, é uma das principais figuras do Dadaísmo em Nova York.

Paris. 1921, se muda para Paris.

Foto. Revoluciona a arte fotográfica e grandes artistas da época posam para ele, como James Joyce e Jean Cocteau.

Morte. Morre em 18 de novembro de 1976, em Paris.

Despreocupado. É enterrado no Cemitério de Montparnasse. Seu túmulo tem seu epitáfio: Unconcerned, but not indifferent (despreocupado, mas não indiferente).

Dadá. O dadaísmo é um movimento intelectual, literário e artístico caracterizado por um questionamento de todas as convenções e restrições ideológicas, artísticas e políticas.

Zurique. O termo dadá nasceu em maio de 1916, em Zurique, por iniciativa dos poetas Hugo Ball e Tristan Tzara e dos pintores Jean Arp, Marcel Janco e Sophie Taeuber-Arp.

Absurdo. Como reação ao absurdo e à tragédia da Primeira Guerra Mundial, batizam o movimento com esse nome, levantando o nariz para todos os movimentos que terminam em “ismo”.

Individualismo. Dadá também surgiu como um movimento sem um verdadeiro líder.

Liberdade. Buscavam maior liberdade de criatividade, usando todos tipos de materiais e formas disponíveis.

A exposição Man Ray está aberta ao público até o domingo 19 de junho de 2011 no “Museo d’Arte de Lugano”.

O catálogo da exposição Man Ray é publicado pela Skira, em italiano e inglês. Os textos são assinados Guido Comis, Marco Franciolli e Janus.

Adaptação: Fernando Hirschy

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