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Ikebana na Suíça: o medo de murchar

生け花
Ikebana é uma arte japonesa de arranjos florais, também conhecida como kado. swissinfo.ch

A tradicional arte de arranjos florais japonesa chamada "Ikebana" se tornou bastante popular na Suíça. Visitamos uma escola na Basileia e mostramos como os alunos transformam a natureza em obras-vivas.

Quatro mulheres sentam-se às suas respectivas mesas com flores na mão em um estúdio em Sissach, vilarejo no cantão Basileia-campo. Elas são alunas de um curso de ikebana ministrado por Regula Maier, instrutora de Misho-ryu, uma das escolas de Ikebana. Ikebana requer concentração, e é por isso que impera o silêncio na sala de aula. Ouve-se apenas o som do cortar de galhos com a tesoura.

生け花教室
Maie (centro) explicando a Úrsula como montar as flores. swissinfo.ch

Maier preparou três tipos de flores: hypericum, aster de outono e sanguisorba minor. A tarefa é organizá-las em uma forma oblíqua. As regras são muito rígidas. Na forma oblíqua, cada flor deve ser colocada em um determinado ângulo em três direções diferentes. Não há transferidor. Seguindo a regra, as alunas colocam cuidadosamente os galhos no Kenzan, que é como se chama o dispositivo para fixar as flores no vaso. “Você não deveria ter essa diferença de altura entre essa flor à esquerda e essa flor à direita. Caso contrário, você perde o equilíbrio.” Maier anda pela sala e aconselha suas alunas. Cerca de 30 minutos depois, todas concluíram seu trabalho.

A aula de Maier é realizada uma vez por mês. Sua aluna, Ursula, começou a frequentar o curso há cinco anos. Ela havia aprendido arranjos de flores como hobby no Reino Unido, onde morava, e descobriu a classe de Maier por acaso depois de retornar à Suíça. “Ikebana é um desafio. Você tem que aprender muito e é muito difícil”, diz ela, mas a profundidade da arte também a inspira a aprender mais.

700 anos de história

A tradição remonta ao século 6, quando o budismo foi introduzido no Japão. Naquela época, oferecer flores perante o Buda fazia parte da prática budista. No período Muromachi (1336-1573), nasceu o estilo Shoin de arquitetura residencial, caracterizado por um lugar para exibir pinturas, vasos de porcelana, e também flores.

和室
O tradicional estilo “shoin”. photoAC

A escola mais antiga do Japão, Ikenobo, nasceu durante esse período. De acordo com a Associação de Arte de Ikebana do Japão, mais de 260 escolas surgiram nos últimos 700 anos. Por exemplo, a escola Ohara, que introduziu flores ocidentais em Ikebana durante o período Meiji (1868-1912), e a escola Sogetsu, que adotou um estilo mais moderno no século 20.

Originalmente, este trabalho com flores era visto como uma arte masculina: por muito tempo a tradição também foi chamada de “Kado” (o caminho das flores), e era considerada uma atividade masculina. Mas no período Showa (1926-1989), ikebana tornou-se popular para as mulheres aprenderem antes de se casarem, juntamente com a costura.

O ikebana também se espalhou para fora do Japão. Em 1956, a organização sem fins lucrativos Ikebana International foi criada em Tóquio para conectar entusiastas do ikebana em todo o mundo. A organização promoveu a disseminação da cultura tradicional, realizando convenções internacionais regulares e exposições de ikebana em muitos países. Atualmente, existem 160 associações em 50 países com 7.500 membros.

レグラ・マイアーさん
Segundo Regula Maier, sua paixão é poder transformar a natureza em arte. swissinfo.ch

Regula Maier viveu no Japão de 1970 a 1980, acompanhando o marido que lá trabalhava. Depois de viver em Tóquio por dois anos, o casal se mudou para Kobe, onde um amigo a convidou para uma aula de ikebana. “Eu fiquei atraída pela transformação da natureza em arte”, diz Maier. 10 anos depois, ela se tornou instrutora certificada. Ela também se tornou membro da filial de Kobe da Ikebana International. Em 1983, três anos depois de retornar à Suíça, ela abriu uma escola de ikebana em Sissach.

Se o arranjo floral ocidental é uma estética de “adição”, Ikebana é a de “subtração”, diz Maier. Ursula, a aluna da classe de Maier, também concorda: “O espaço também é um elemento crítico em Ikebana. Você precisa estabelecer o vazio em seu trabalho. Tal maneira de pensar não é encontrada nos arranjos florais ocidentais, onde você preenche o espaço o máximo possível com um ramo de flores.

Parece que o exotismo da tradição do Extremo Oriente não é o único elemento que atrai os suíços. Terue Jirgal, presidente da associação de Genebra, disse à swissinfo.ch em um e-mail que “alguns também praticam o ikebana como uma meditação ou relaxamento, para alcançar a serenidade final”.

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Ikebana International

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Ikebana: arte da meditação

Este conteúdo foi publicado em Como encontrar a paz com o mundo? Seja assando pão, lendo um livro ou levando seu amigo de quatro patas para passear, você pode querer parar para pensar um segundo e observar a simetria das flores em seu vaso.

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Sociedade que envelhece

Nos anos oitenta, Maier serviu como presidente da associação de Zurique em seu início, mais tarde ela fundou uma outra associação em Basileia. Em comparação, os suíços-alemães floresceram tardiamente, já que em Genebra, uma associação afiliada já existia desde 1969. A comunidade atingiu seu pico de mais de 400 membros em todo o país. No entanto, a população de entusiastas de Ikebana no Japão tem diminuído desde o pico na década de 1980. Além do envelhecimento dos envolvidos, a diversificação do estilo de vida das mulheres parece afetar a tradição com mais de 700 anos de história.

Na Suíça, a comunidade de Ikebana também vem encolhendo. De acordo com Maier, a maioria dos membros das três associações são mulheres aposentadas. O número de membros diminuiu para metade, ou seja, para cerca de 200. “No congresso internacional da Ikebana International, sempre discutimos como podemos atrair novos membros”, disse Maier. Muitas associações estão fazendo tudo o que podem, incluindo visitar escolas primárias locais para promover Ikebana ou convidar familiares e amigos. “O que podemos fazer é realizar o maior número possível de exposições e workshops para obter mais publicidade”, diz Maier. Como instrutora que dedicou mais de 50 anos ao ikebana, ela não quer ver a tradição murchar.

Edição: David Eugster 

Adaptação: DvSperling

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