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Livro tematiza preconceito na mídia contra estrangeiros

Innocent Naki vive na Suíça há sete anos.

Innocent Naki já escreveu três livros. Seu principal tema é o racismo presente na mídia helvética e a questão da mestiçagem no país.

“Seja perfeito ou volte para casa!” é o título da obra mais recente. Nela o comunicólogo africano da Costa do Marfim e que já vive há sete anos na Suíça denuncia como o retrato dos estrangeiros, sobretudo na mídias e através dos partidos populares.

“Em Ste-Croix, no dia de início das aulas escolares, as crianças do centro de solicitantes de asilo foram recebidas pelos colegas com uma chuva de marrons (castanha escura cozida)”. Para Innocent Naki, essa “minúscula nota geral publicada no jornal local” foi a gota que fez transbordar o balde.

“Se chegamos a esse ponto, isso significa que nos, os adultos, estamos sofrendo um estigma sem precedentes”, declara o escritor e jornalista de Friburgo, um africano nascido na Costa do Marfim.

Clima difícil

Brigas, estupros coletivos entre jovens, tráfico de droga, motoristas incautos: os “casos” se sucedem e a imprensa popular no país dos Alpes se serve. Quando os estrangeiros estão no centro de uma má notícia, alguns políticos não perdem tempo em aproveitar as histórias para aterrorizar a população.

Questões emotivas ligadas à nacionalidade suíça, expulsão de famílias de estrangeiros, naturalizações com prazo de teste, tarifas especiais para motoristas com outros passaportes, etc. Quanto mais próxima estão as eleições federais, mais o debate sobre a questão da população estrangeira da Suíça se acirra.

Innocent Naki se abstém de querer corrigir alguém. Porém ele também se sente atingido pelo clima pesado. Com seu livro, repleto de extratos de artigos e programas, ele relembra a “necessidade de equilibrar o nosso olhar sobre as pessoas de estatuto precário, que não têm a possibilidade de se defender”.

Nesse sentido, o escritor ficou marcado pela coabitação difícil entre a população de Bex e dos solicitantes de asilo alojados na comuna do cantão de Vaud (oeste da Suíça). Tráfico de droga, brigas, insultos, racismo e outras violências envenenaram a atmosfera ao ponto que até o prefeito (social-democrata) pediu o fechamento do centro de asilados.

“O embuste midiático”

Porém Innocent Naki se diz, sobretudo, escandalizado pelo tratamento do caso dado pelo jornal “Le Matin” e o programa “Infrarouge” da televisão estatal suíça.

No seu livro ele não poupa palavras para denunciar o que chama de “embuste midiático” sobre o “clichê do negro”. Ele lamenta “os fatos truncados, a parcialidade e a tolerância em relação à violência cometida contra estrangeiros”. Às vezes ele comete pequenos enganos, mas termina atingindo o leitor.

“Eu não posso negar que, em alguns casos, a questão da nacionalidade pode ser relevante. Porém eu peço apenas que as mídias tentem formar a cabeça do cidadão”, declara à swissinfo.

“Eu dou 64 exemplos mostrando que, nos casos de delitos similares, a nacionalidade é mencionada em apenas alguns casos e não em outros. E lá está o problema, pois damos assim ao público a idéia que a criminalidade na Suíça vem, sobretudo, da população estrangeira”.

Caso de escola

Quando isso começou? “É difícil de datar essas práticas. Em 2001, o Conselho de Imprensa tomou posição sobre os artigos, constatando que a presença dos estrangeiros no noticiário era dominada pela criminalidade”, explica Roger Blum, diretor do Instituto de Ciências da Comunicação em Berna.

Em 1994, o mesmo conselho intimou o jornal “Blick” de “não se esconder atrás da justiça ou da polícia para citar o nome ou a nacionalidade de um suspeito”.

Do seu lado, Olivier Guéniat, chefe da Polícia Cantonal de Neuchâtel, explica que seus serviços determinam a nacionalidade dos suspeitos mesmo quando o fato não tem importância para as investigações. “Como os jornalistas fazem constantemente essa pergunta, nós costumamos dar informações, como a idade, para não ficarmos presos ao telefone”.

Mau humor

Algumas mídias já reagem aos livros de Innocent Naki. O “Le Matin” escreveu em 14 de abril, através do seu redator-chefe, Peter Rothenbühler, a seguinte frase: – “Esse senhor Naki generaliza, cultiva o preconceito, mistura tudo e suspeita de todos”. Ele também afirmou no seu texto que o jornalista africano “é conhecido, sobretudo, pela sua grande vontade de ser convidado pelas mídias a falar”.

A reação do interessado: “De fato, Peter Rothenbühler não está feliz com os meus ataques contra os textos de alguns jornalistas da sua redação. Eu já esperava isso e, afinal, trata-se de uma boa guerra”, analisa Innocent Naki

O africano nota que, se a reação não está relacionada com a questão do tratamento do noticiário, ele pelo menos fica satisfeito com a polêmica. “Eu espero somente que cheguemos à questão de fundo do livro e que isso levante questões que precisam ser colocadas”.

swissinfo, Isabelle Eichenberger

Nascido em 1976 na Costa do Marfim, Innocent Naki tem um mestrado em comunicação social.

Ele vive na Suíça desde 2000 e trabalhou como professor de escola em Solothurn (leste da Suíça), instalando-se posteriormente em Friburgo.

Livros escritos:

2004: “A Suíça, os estrangeiros e os negros”, Editora de l’Aire.

2006: “Mestiçagem cultural, olhar feminino”, Editora Swiss Métis, Marly.

10 de abril de 2007: – “Seja perfeito ou volte para casa!”, crônica de uma exploração populista de assuntos diversos na Suíça”, Editora Swiss Métis, Marly.

Segundo o artigo 8 da “Declaração de Direitos e Deveres do Jornalista”, este deve…

“…respeitar a dignidade humana…evitar toda alusão, por texto, imagem e som, de origem étnica ou nacional de uma pessoa, sua religião, sexo ou orientação sexual, assim como referências às doenças ou deficiências de ordem física ou mental, que poderão ter um caráter discriminatório…”.

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