Locarno 74: o retorno do cinema à grande tela
O Festival Internacional de Cinema de Locarno sempre oferece surpresas, porém a edição deste ano é duplamente única. Não apenas as medidas de combate ao Covid-19 em vigor trazem mudanças, mas este é o primeiro festival dirigido por Giona A. Nazzaro, uma enciclopédia ambulante de cinema e grande especialista em filmes de ação.
O evento, que começa amanhã, foi saudado como um “Festival Seguro”, o que significa que será praticamente impossível participar sem um certificado de vacina contra covid-19, uma prova de infecção prévia ou um teste PCR. Tudo para garantir que o principal o retorno seguro à experiência da tela grande, como explicam os organizadores.
A pandemia prendeu os cinéfilos em casa. A indústria cinematográfica e a forma de assistir um filme são desafiadas por mudanças radicais na produção e distribuição do setor. O surgimento dos serviços de streaming como atores principais em todos os aspectos da produção cinematográfica, como Nazzaro explicou em entrevista à SWI swissinfo.ch, é apenas uma das mudanças marcantes.
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Maratona de filmes
O público do festival em Locarno tem um leque de 209 obras que serão exibidas durante 10 dias. Aqui estão alguns dos filmes apresentados em 2021.
“Beckett”, o filme que abre as sessões na principal praça de Locarno, a “Piazza Grande”, é um dos mais esperados, uma aposta ousada de Nazzaro. O “thriller” italiano tem sua estreia mundial na maior tela ao ar livre do mundo pouco mais de uma semana antes do lançamento na Netflix, previsto para ocorrem em 13 de agosto.
A inclusão de filmes produzidos por plataformas de streaming em festivais ainda é um tabu. Cannes, por exemplo, ainda resisteLink externo. Nazzaro, no entanto, não se limita por tradições ou regras.
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Fantasias e catástrofe
Ficção científica, distopias e catástrofes sempre fazem parte de um programa de festival de cinema. Elas refletem movimentos sociais ao redor do mundo e, afinal, uma época em que temas como pandemia e crise climática dominam as manchetes da imprensa. Algo a destacar é a animação experimental “Mad God” (EUA), de Phil Tippett. O especialista de 30 anos é um “mágico” de efeitos visuais e será homenageado pela atuação em blockbusters como “Robocop” (1987) e “Starship Troopers” (1997), ambos dirigidos por Paul Verhoeven.
Mas ficção científica não é sempre futurista. Já vivemos em um mundo, onde o futuro costuma ser desenhado com cores mórbidas no cinema e histórias em quadrinhos ao longo das últimas décadas no século 20. As atuais distopias transcendem as línguas e culturas, como mostra o filme coreano “Sinkhole” (Sing-keu-hol), o francês “After Blue” (Venda Paradis), “Free Guy” (EUA), o espanhol “The Sacred Spirit” (Espíritu Sagrado), “From the Planet of the Humans” (Itália), e “Zeros and Ones” do polêmico diretor americano Abel Ferrara (“Bad Lieutenant” e “King of New York”).
Não há violência estilizada no trabalho de Ferrara. Nos anos 1980 e 1990, suas representações realistas e chocantes do submundo das drogas e do sexo (seus primeiros passos profissionais foram no cinema pornográfico) provocaram, juntamente com uma lista de “vídeos abjetosLink externo“, uma reação moralista no Reino Unido que levou a uma legislação de classificação mais rígida. Mas agora Ferrara se redimiu. Se tornou budista e vive hoje em Roma há quase duas décadas. Também estará presente em Locarno.
Cinema japonês
O cinema japonês é um dos ausentes em Locarno. Para compensar, o autor de anime japonês Mamoru HosodaLink externo apresenta três de seus filmes, dentre eles o mais recente, “Belle”, e o homenageia com o recém-lançado prêmio “Locarno Kids”. Mas não se deixe enganar: a arte de Hosoda não é brincadeira. Reconhecido mundialmente graças à popular série de TV “DigimonLink externo“, Hosoda dirige hoje seu próprio estúdio e é um dos criadores mais respeitados do universo do anime.
Infelizmente, Hosoda não estará presente para receber seu prêmio. Porém outras celebridades virão: o convidado de honra de 2021 é John Landis, um diretor que revitalizou a comédia americana e lançou a carreira de grandes estrelas do cinema como John Belushi (“National Lampoon’s Animal House”, 1978) e Dan Aykroyd no grande sucesso das telas “The Blues Brothers” (também com Belushi, 1982). Landis levou Eddy Murphy ao estrelato com “Trading Places” (com Aykroyd, 1983) e “Coming to New York” (1988), mas também foi muito além da comédia. Quem se lembra de “The Twilight Zone”? A filmografia de Landis também inclui documentários, vídeos de música e filmes de terror para a TV, entre outros.
Mestres, antigos e novos
O cinema de Hollywood está muito bem representado na cidade do cantão do Ticino. Mas uma presença muito destacada no festival será também a do diretor romeno Radu Jude, que ganhou o Urso de OuroLink externo, o maior prêmio do festival de Berlim, no início deste ano com “Bad Luck Banging or Loony Porn”. Locarno dará as boas-vindas ao último curta-metragem de Jude, “Caricaturana”, nove minutos de genialidade e traz ao festival seu bom humor e ideias espirituosas sobre cinema e política.
Outro ponto forte de Locarno é a “Retrospectiva” (com um R maiúsculo: sempre uma grande oportunidade para descobrir, ou redescobrir, a obra de um grande diretor ou momentos/movimentos importantes na história do cinema). Em 2021, Nazzaro escolheu Alberto LattuadaLink externo, um herói esquecido do cinema italiano, a altura de grandes nomes como Fellini, Antonioni ou Monicelli.
Enquanto isso, as competições internacionais abrangem todos os continentes e dezenas de idiomas; curtas-metragens assinados por diretores estabelecidos na nova seção “Corti d’autoreLink externo” (curtas-metragens de autores); homenagens a personalidades do cinema europeu e às primeiras idades do cinema (“Safety Last!”, 1923, com o gênio da comédia Harold Lloyd); e um desafio para os cinéfilos: o filme português “Pathos Ethos Logos”, com 10 horas e 41 minutos de duração, que será apresentado em três partes.
Difícil resumir tudo o que será projetado no festival. SWI swissinfo.ch cobre o evento, informando os leitores sobre tendências, novidades, debates e avaliações, inclusive de 10 jovens participantes da Academia de CríticosLink externo, selecionados de países como Vietnã, Romênia, Hungria, Brasil, Chile, República Dominicana, Reino Unido e Suíça, para fazer uma imersão intensa no mundo do cinema em Locarno.
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Adaptação: Alexander Thoele
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