Mulheres pedem fim do serviço militar obrigatório masculino
Um grupo de mulheres do Partido Social-Democrata da Suíça pede o fim do serviço militar obrigatório para os homens, uma das tradições mais arraigadas do país.
Um sistema de voluntários masculinos e femininos, em lugar do alistamento, melhoraria a igualdade de sexos nas forças armadas e colocaria a Suíça no patamar de outros países europeus.
A Sociedade Suíça de Oficiais se opõe à proposta, justificando que esta teria como conseqüência a escassez de efetivos para o exército.
Maria Roth-Bernasconi, co-presidente do grupo feminino do Partido Social-Democrata, é a autora da iniciativa parlamentar. Agora ela espera conseguir apoio suficiente até sua apresentação oficial na sessão de outono.
“Nossa preocupação é lutar pela igualdade em todos os domínios. Queremos que os parlamentares discutam o tema”, explica à swissinfo. “Pedimos a abolição do serviço militar obrigatório para os homens. Assim homens e mulheres estarão equiparados nessa questão”.
A iniciativa diz que o fato do serviço militar obrigatório estar ancorado na Constituição helvética é uma contradição em si.
“O alistamento compulsório é contrário à Convenção européia de Direitos Humanos relacionado ao trabalho forçado. Não é possível forçar alguém a trabalhar de graça para o Estado”, reforça Roth-Bernasconi.
Conflitos distintos
O tema volta regularmente aos debates sobre o futuro das forças armadas. Já no passado outras moções haviam sido apresentadas.
Denis Froidevaux, vice-presidente da Sociedade Suíça de Oficiais, está seguro que a possível abolição do serviço militar obrigatório para os homens poderá provocar uma escassez de soldados voluntários nas tropas.
Porém Karl Haltiner, professor na Academia Militar da Escola Politécnica de Zurique (ETH, na sigla em alemão), explica à swissinfo que o alistamento é obsoleto e não mais necessário na Europa atual.
“Os exércitos de massa são originários do século 19. Eles foram criados para guerras entre Estados e não são mais necessários hoje em dia na Europa ocidental”, diz.
“A maioria dos países europeus mantém tropas em áreas de conflito, em grande parte para apoiar operações de paz. Nenhum deles envia soldados inscritos pelo alistamento obrigatório para essas missões. Por isso é que ela foi abandonada na Europa”.
No “velho continente”, 17 países abandonaram o serviço militar obrigatório ou estão em processo de fazê-lo. “A Suíça está andando muito devagar nesse processo, apesar de ter alguns vizinhos que o fizeram. Eu acredito que quando a Alemanha ou a Áustria fizerem o mesmo, teremos então repercussões aqui”, avalia Haltiner.
Recomendações
Haltiner promove a idéia do fim do serviço militar obrigatório desde que publicou, em 1995, o livro “As forças armadas pós-modernas”.
Na obra, o estudioso afirma que o exército moderno precisa ser multifuncional “como o canivete suíço”, utilizado em caso de catástrofes, resgates ou para impedir uma guerra.
Ele recomenda seguir o exemplo francês: ter um dia informativo compulsório por ano, onde os participantes podem aprender mais sobre as forças armadas e serem encorajados a se alistar como voluntários.
Voluntários serviriam 30 dias por ano paralelamente com o seu trabalho regular, seriam pagos com salários baixos e teriam incentivos em longo prazo – uma iniciativa que, segundo Haltiner, poderia atrair até 40 mil jovens por ano.
Ele avança ainda mais na questão ao sugerir a criação de um batalhão voluntário em um dos cantões suíços para ver se a idéia funciona. O resultado poderia ser semelhante ao das brigadas voluntárias de bombeiros ou corpos de salvamento, que são capazes de responder com rapidez às situações de emergência.
“Eu acredito que a Suíça viveu uma crise de identidade quando a Guerra Fria chegou ao fim. Da noite para o dia, a pedra angular da política helvética de segurança com neutralidade, concordância, milícia, conscrição e federalismo perderam sua importância”, argumenta.
Na opinião do professor, a Suíça atual esta dividida entre tradicionalistas, apoiadores da União Européia e indecisos. “O exército é um objeto de projeção famoso para esse tipo de crise entre as forças de esquerda e de direta”.
swissinfo, Jessica Dacey
O exército suíço chegou a ter durante o período da Guerra Fria efetivos de 600 mil homens, que poderiam ser mobilizados no mínimo espaço de tempo.
Em 1995, o exército reduziu seus efetivos para 400 mil. Hoje tem apenas 220 mil homens.
Homens com idades entre 20 e 36 anos estão obrigados a servir 260 dias. O serviço militar é optativo para mulheres e suíços que vivem no exterior.
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