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Museu de Arte de Zurique quer voltar ao topo da cena internacional

O Museu de Arte de Zurique encontra-se em plena transição. A construção de seu gigantesco anexo já está quase concluída. Ao mesmo tempo a instituição seleciona uma nova diretoria, o que gera grande expectativa nos meios artísticos. São elementos que permitirão a instituição se posicionar internacionalmente no futuro? Para responder à questão, SWI swissinfo.ch consultou curadores de importantes museus na Suíça e no exterior.


Kunsthaus Zürich, Aerial Perspektiv
Keystone / Christian Beutler

O anexo do museu Museu de Arte de Zurique (Kunsthaus ZürichLink externo, em alemão) foi assinado pelo renomado arquiteto David Chipperfield. É um projeto ao mesmo tempo monumental, maciço e gracioso. O paralelepípedo compacto que se ergue na praça Heimplatz em frente ao complexo histórico do museu, proporciona, entre lesenas (n.r.: faixa ou banda vertical, em relevo, feita numa fachada e que cria una sombra, usada na decoração de uma edificação) de pilastras rítmicas e através de janelas estreitas e verticais, uma vista do interior do novo templo de arte. O latão da porta de entrada brilha dourado e serve como símbolo daquilo que promete este novo edifício.

Festsaal, Zürich Kunsthaus
Museu de Arte de Zurique: sala de recepção no anexo. Juliet Haller

O espaço disponível no Museu de Arte de Zurique será duplicado. Novas e importantes exposições permanentes como as da coleção de Emil Georg BührleLink externo (1890-1956) serão apresentadas aqui com um foco especial. Um salão de baile e um programa de acompanhamento expandido farão desta instituição renovada “o maior e mais dinâmico museu de arte da SuíçaLink externo“, e fortalecerão sua reputação internacional.

As galerias de Zurique não deixaram a passar a oportunidade, sendo que aquelas que puderam se dar ao luxo já se instalaram ao longo da rua Rämistrasse, uma localização ideal entre o museu e o lago. Cerca de meia dúzia de galerias mudaram sua sede para a área nos últimos dois anos ou estão operando uma nova filial aqui, como as galerias Lange + Pult ou Eva Presenhuber.

Brilhando com os impressionistas

Tanto o Museu de Arte de Zurique quanto o público especializado aguardam ansiosamente a apresentação da Coleção Emil Bührle. “Ela [a coleção] poderá finalmente brilhar de novo”, declarou Bice Curiger. A curadora de longa data, e pioneira no museu, hoje dirige a Fundação Vincent Van GoghLink externo, em Arles. E Philipp Kaiser, nascido em Berna, ex-diretor do Museu Ludwig,Link externo em Colônia (Alemanha) que agora vive em Los Angeles e é curador do Pavilhão Suíço na Bienal de Veneza de 2017Link externo, diz: “Estou particularmente ansioso para ver os Cézannes e Gauguins novamente.”

Sammlung Emil Brühler, Kunsthaus Zürich
Projeção virtual do Anexo do Museu de Arte de Zurique para o espaço onde serão exibidas as obras da coleção Emil Bührle, no segundo andar do edifício. David Chipperfield Architects

A coleção de obras-primas do impressionismo de Emil Georg Bührle foi alojada em uma mansão na periferia de Zurique até 2015. Agora ela deve ser mostrada separadamente no edifício de Chipperfield, assim como a coleção Merzbacher de arte moderna, que também é uma nova adição ao museu. Outra coleção privadaLink externo, a de Hubert Looser, com seu foco na década de 1960, será desde o início mais estreitamente integrada com as demais coleções do museu.

Christoph Becker
Christoph Becker, diretor do Museu de Arte de Zurique. Kunsthaus Zürich, Franca Candrian

Os novos empréstimos permanentes, e especialmente os da Fundação Bührle, tiveram um papel importante na história do novo edifício: “Desde o início, a ampliação do Museu de Arte de Zurique foi projetada para dar um salto qualitativo marcante na coleção”, explica Christoph Becker, que está envolvido no planejamento do projeto de construção desde que as primeiras ideias foram concebidas, em 2001. Foi assim um marco para a instituição, quando o contrato com a Fundação Bührle foi assinado em 2012, após uma declaração antecipada de intenções em 2006.

Philipp Kaiser
Philipp Kaiser, curador independente. Pro Helvetia / Ennio Leanza

Em público, entretanto, a integração planejada desta coleção, ofuscada pelos negócios controversos do fabricante de armas e amante da arte Bührle, desencadeou repetidamente debates acalorados. A pesquisa de proveniênciaLink externo das obras está agora bem avançada, mas ainda se aguarda uma investigação abrangente da história da coleçãoLink externo. Enquanto isso, o significado histórico da arte que compõe a coleção é indiscutível. Com esta coleção, o Museu de Arte de Zurique fica lado a lado com Paris como sede dos mais importantes acervos do impressionismo e pós-impressionismo da Europa e, de acordo com a narrativa do próprio museu, está ganhando reconhecimento internacional.

Rein Wolfs
Rein Wolfs, diretor do Museu Stedelijk, em Amsterdã. Tomek Dersu Aaron

Rein Wolfs: Um “salto quântico” para Zurique

Quando consultadas, várias pessoas ligadas a museus da Suíça e do exterior concordam com esta profecia. Rein Wolfs, diretor do Museu StedelijkLink externo em Amsterdã (Holanda) desde o final de 2019, aponta que muitos museus na Europa estão competindo por atenção com suas coleções de primeira grandeza. No entanto, ele fala de um “salto quântico, mesmo em comparação com Basileia”, cujo carisma cultural fez com que Zurique parecesse bastante apagada nos últimos anos.

Wolfs foi o diretor fundador do Museu Migros para Arte ContemporâneaLink externo nos anos 1990, os anos dourados de Zurique, e conhece bem a cena local. Christina Végh, que nasceu em Zurique e agora é diretora do Museu de Arte de BielefeldLink externo, supõe que haverá grande interesse e curiosidade internacional sobre a coleção Bührle e o novo prédio, especialmente no início. Mas adverte: “No final, é importante como o Museu de Arte de Zurique lidará com a coleção no longo prazo. Ficar parado, estático, no mesmo lugar, raramente é vantajoso”.

Treppen im Kunsthaus Zürich.
Museu de Arte de Zurique: escadarias (esq.) e entrada (dir.) Juliet Haller

Passagem de bastão em clima de renovação 

É aqui que entra em jogo a futura administração, pois deve ficar claro que um “museu do século 21”, para o qual a equipe em torno de Becker está se esforçando, não será criado simplesmente pela expansão das instalações e dos acervos. Josef Helfenstein, que se viu numa situação semelhante em 2016 como o novo diretor do Kunstmuseum BaselLink externo, não considera isso uma maldição nem uma bênção. “É o que é”, diz ele, e acrescenta: “O mais importante me parece ser que os custos subsequentes não sejam subestimados. Isso foi um problema para nós na Basileia”. De suas conversas com seu colega Christoph Becker, no entanto, ele deduz que essa questão já estava no radar do Kunsthaus Zürich.  

Tobia Bezzola oferece outro aspecto a ser considerado. O diretor do MASI em Lugano foi curador no Kunsthaus Zürich de 1995 a 2012 – na mesma época que Curiger. A nova diretoria, diz ele, completará um longo projeto com a instituição ampliada, cujo planejamento tem 20 anos de existência. A consulta internacional de especialistas, realizada em 2001, debruçou-se sobre a ideia de um “Kunsthaus Zürich 2010”. Vários fatores, incluindo um recurso contra a licença de construção emitida pela Fundação Archicultura, de Lucerna, em 2013, causaram ainda mais atrasos. Há dúvidas se o projeto original, elaborado durante uma fase de expansão econômica, ainda possa ser considerado, diz Bezzola. “O mundo mudou nesse meio tempo”, acrescenta ele. A nova administração tem um belo desafio pela frente, diz, para pensar o que pode ser feito com esse edifício nas condições atuais.

De volta à primeira divisão

A definição de um novo perfil será uma tarefa chave do novo diretor ou diretora. Essa pessoa será, e isso também é enfatizado nas opiniões dos estrangeiros entrevistados, essencial para o carisma internacional, para a anunciada dinâmica e para a atualidade da casa. Segundo Christina Végh, o objetivo de um museu deste tamanho é ter um sentido para os discursos relevantes da época e ser também capaz de definir o tom, não apenas de segui-lo.

Christina Végh
Christina Végh, diretora do Museu de Arte de Bielefeld. Veit Mette

Houve uma fase em que o Museu de Arte de Zurique certamente jogou nesta liga, com as grandes exposições do curador independente Harald SzeemannLink externo nos anos 1980 e 1990,  que explodiam repetidamente os cânones da arte, ou com as de Bice Curiger, que ali provou seu talento, alerta para temas virulentos na arte e em nosso tempo. Nos últimos dez ou quinze anos, porém, Zurique “perdeu parte de sua força e de seu brilho”, acredita Philipp Kaiser. “Este é um ponto de partida extremamente atraente para a nova diretoria se posicionar e, ao mesmo tempo, reativar a cena local”.

Bice Curiger
Bice Curiger, diretora da Fundação Vincent Van Gogh. Gaetan Bally 

Chance para candidaturas suíças?

O comitê de seleção para a nova diretoria sugere que se busque alguém que seja forte não apenas em termos de administração, mas também no conteúdo. Além de cinco representantes da Associação Zuriquense de Arte e da artista suíça Pipilotti RistLink externo, o comitê inclui Achim Borchardt-Hume, curador-chefe da Tate Modern LondresLink externo; Philipp Demandt, diretor do Museu StädelLink externo, da Coleção de Esculturas da LiebieghausLink externo e do Museu de Arte SchirnLink externo, em Frankfurt am Main; e Sheena Wagstaff, diretora do programa de Arte Moderna e Contemporânea do Museu Metropolitan de Nova YorLink externok. É verdade que a parte especializada do comitê é assim “um tanto anglo-saxônica”, como diz o diretor do Stedellijk, Rein Wolfs. Resta saber se os potenciais candidatos suíços têm uma chance neste cenário. No entanto, o fato de que não apenas diretores, mas também funcionários do museu mais próximos do dia-a-dia foram convocados indica que as habilidades curatoriais têm um alto peso no processo de seleção.

Josef Helfenstein, Direktor Kunstmuseum Basel.
Josef Helfenstein, diretor do Museu de Arte da Basileia. Lucia Hunziker

Independência e conexão local

Até que se conheça o resultado da escolha, e se conclua a instalação das obras de arte no novo prédio, é necessário ter paciência. A decisão da nova diretoria está planejada para a primavera de 2021, mas a pandemia e as restrições de viagem dela decorrentes provavelmente atrasarão o procedimento. Enquanto isso, o espaço permanecerá aberto para teses, desejos e esperanças. Para o diretor do Museu de Arte da Suíça Italiana (MASI), Tobia Bezzola, parece ser especialmente importante que neste momento crucial do museu alguém assuma a liderança com a capacidade de comunicar e mediar de boa vontade e com transparência, de forma proativa e ampla.

Tobia Bezzola
Tobia Bezzola, diretor do Museu de Arte da Suíça Italiana (MASI), em Lugano. Museo d’arte della Svizzera italiana MASI

Bice Curiger deseja “alguém que confie, ame e, ao mesmo tempo, entenda agudamente como desafiar o público de Zurique”, e acrescenta: “Com autoconfiança na própria mente aberta, não é necessário copiar outros em formato pequeno para ganhar o chamado apelo internacional.”

Philipp Kaiser também enfatiza a independência necessária e a conexão com o local: “No final, a pessoa tem que funcionar em Zurique”. Uma pessoa corajosa com uma visão curatorial e artística é o que ele tem em mente para Zurique, semelhante a Christina Végh: “Obstinação e caráter”. Se o comitê de seleção estiver assim inclinado, Zurique pode contar com uma boa lufada de ar fresco e, quem sabe, com a volta do brilho dos tempos dourados.


Ausstellung im Seitelichtsaal, Kunsthaus Zürich.
O Museu de Arte de Zurique construiu um anexo para abrigar novas peças e esculturas. Imagem de 2019 David Chipperfield Architects


12-13 de dezembro de 2020: Fim de semana de visitas no projeto de expansão

10 de abril de 2021: Baile, seguido de eventos com apresentações, visitas guiadas, etc. em abril/maio de 2021

9/10 de outubro de 2021: Abertura do novo Kunsthaus em ambos os lados da praça Heimplatz

Adaptação do original em alemão: DvSperling

Adaptação: Alexander Thoele

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