Novo cinema suíço apaixona Lisboa
Três filmes de três realizadores suíços apresentam, em Lisboa, a mais recente produção cinematográfica helvética na oitava edição da Kino - Mostra de Cinema de Expressão Alemã.
Promovido pelo Goethe-Institut, em parceria com a Embaixada da Suíça, a mostra reuniu realizadores e filmes da Suíça, Alemanha, Áustria e Luxemburgo.
“Então, e o amor” (How about love), um drama realizado por Stefan Haupt, “O navio do jogador de futebol” (Das Schiff des Torjägers), documentário assinado por de Heidi Specogna e o filme “Os Anões” (Zwerge Sprengen) uma comédia do cineasta Christoph Schertenleib, foram as três películas escolhidas para dar a ver, em Portugal, o cinema que a suíça produz atualmente.
Este ano, a Kino elegeu a integração cultural como tema central e a maioria dos filmes ofereceu diferentes perspetivas sobre a questão. O trabalho de reflexão sobre a temática englobou, além do visionamento dos filmes que integram a programação, a realização de debates entre público, convidados, protagonistas e realizadores.
Cinema como ferramenta de mudança
O realizador, Stefan Haupt foi um dos convidados a discutir com o público e falar da sua perspetiva e experiência, enquanto Homem e profissional do cinema, de integração cultural.
Uma preocupação que, declarou à swissinfo.ch, se encontra “refletida” na obra que trouxe até Lisboa, dado que “um dos temas principais do filme é “a incrivel diferença que há entre as vidas que vivemos aqui na Europa”, onde “temos um estilo de vida em que é comum e fácil queixarmo-nos de coisas sem importância, em comparação com outras pessoas que vivem, por exemplo em Myanmar, onde lhes queimam as casas e têm de fugir” para campos de refugiados. E quando “chegam aos campos de refugiados não têm qualquer tipo de esperança de poderem vir a mudar a situação.”
“Eu acho incrível ter o conhecimento das duas formas de viver e perceber como é incrivelmente difícil mudar algo, ou aceitar as coisas tal como estão.” – afirma o realizador de “Então, e o amor”.
É um filme que nos conta a história de Fritz, um cirurgião cardiovascular de sucesso em Zurique obcecado pelo seu trabalho que, a pedido da mulher, embarca numa viagem pelo norte da Tailândia onde descobre um novo e fascinante mundo. Quando visita um antigo colega do curso de medicina, que presta cuidados de saúde num longínquo campo de refugiados, no meio da selva da Tailândia, perto da fronteira com Myanmar.
Portugal, Espanha e Alemanha no futuro de Stefan Haupt
Em Lisboa, o filme de Haupt mereceu os aplausos dos espectadores. Mas, para já, ainda não existem contatos para a apresentação comercial de “Então, e o amor” nas salas de cinema de Portugal.
Quando foi exibido nos cinemas da Suíça, em 2010, “a reação do público foi forte e teve boas críticas.” Agora, o realizador afirma que espera “levar este filme para outros países, especialmente para a Alemanha.”
Do tempo disponível para conhecer Lisboa, cidade que visitou pela primeira vez, Haupt guarda imagens de uma cidade que acha “lindíssima e com locais maravilhosos.” Sem revelar qual o projeto cinematográfico que a capital portuguesa lhe pode inspirar, confessa que é “certamente um espaço muito bom para filmar”.
Neste momento, o cineasta está envolvido num trabalho sobre a Sagrada Família (grande templo católico desenhado pelo arquiteto Antoni Gaudí) em Barcelona, Espanha. Aqui, “o grande interesse está em falar sobre todo o processo de como se desenvolve a construção de uma catedral nos dias de hoje, mas com uma velocidade de tempo como se estivéssemos na Idade Média. Estamos a trabalhar num grande documentário que também nos vai dar tempo de reflexão sobre todo o processo.”
Suíça forte numa mostra em crescendo
Na mostra, a “Suíça sempre teve uma forte representação”, considera Isabel Lopes, responsável pela Kino. “Sempre com muitos documentários, porque eu acho que a Suíça tem um grande interesse na realidade. Questiona o que é que se passa com os outros.”
A Kino, é já uma referência no panorama cinematográfico em Portugal. Surgiu há oito anos para mostrar o cinema produzido em língua alemã e para “trazer para Lisboa filmes que cá não entram no circuito comercial”.
Este ano, pela primeira vez, integrou uma seleção de filmes para alunos do ensino secundário. E – acrescenta Isabel Lopes – “é curioso podermos acompanhar a evolução do público. Aliás, este ano acho que está a superar todas as outras, já tivemos várias salas esgotadas. O que é muito bom. Na abertura, por exemplo, só na sala 1 do São Jorge tivemos 760 pessoas. Em termos de espectadores estamos muito bem!” Um dado a que não é alheio o facto de aqui serem apresentados filmes que fizeram carreira nos mais importantes festivais.
No âmbito da Kino, também realizar-se o workshop Pitch Your Project na Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), orientado pela produtora alemã Susanne Petz para apresentar aos alunos da ESTC as melhores formas de promover as suas produções no mercado internacional.
Nasceu em 1961 em Zurique. Trabalhou como professor de música e director artístico antes de estudar Pedagogia do Teatro na Academia de Actores em Zurique.
Desde 1989 trabalha como produtor e realizador independente, e é também director da produtora Fontana Film GmbH, por si fundada.
Entre 2008 e 2010 foi presidente da Associação Suíça de Realizadores. O seu filme de estreia, Utopia Blues, venceu em 2002 diversos prémios, entre os quais o Prémio de Cinema Suíço e o Prémio Max-Ophüls.
Filmografia:
* 1992 Andras – Kein Mann fällt vom Himmel (documentário)
* 1998 I’m Just A Simple Person (documentário)
* 2001 Increschantüm (Heimweh) (documentário)
* 2001 Utopia Blues (ficção)
* 2003 Elisabeth Kübler-Ross – Dem Tod ins Gesicht sehen (documentário)
* 2003 Moritz (ficção)
* 2004 Downtown Switzerland (co-director, documentário)
* 2006 Ein Lied für Argyris (documentário)
* 2010 How About Love (ficção)
Stefan Haupt, Heidi Specogna e Zwerge Sprengen são os realizadores suiços escolhidos, pela Swissfilms e Embaixada Suiça, para serem, em Lisboa, os representantes helvéticos na edição de 2011 da Kino – Mostra de Cinema de Expressão Alemã.
Sob o tema da integração cultural, realizadores da Suiça, Alemanha, Austria e Luxemburgo, trouxeram mais de duas dezenas de filmes à oitava edição da Kino.
Stefan Haupt esteve em Lisboa para apresentar o seu filme e falar com o público.
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