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“Nunca pensei que escrever me ajudaria a pagar as contas”

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Angélia Maria Schwaller, originária do vilarejo de Überstorf no cantão de Friburgo, descobriu a internet aos 16 anos de idade. Ela procurava pessoas para compartilhar suas ideias e, ao mesmo tempo, sua grande paixão: a poesia.

“Isso foi muito importante para mim. Você tem retorno e pode trabalhar em cima dos poemas. Você também descobre informações sobre a estrutura da poesia, rimas e por aí vai. Tudo isso aprendi através da internet e não na escola.”

Schwaller se parece mais com uma dançarina do que uma poetisa. Assim como um dançarino dissimula sua força por trás de uma compleição delicada, a jovem escritora esconde a sua profundidade e paixão por trás de uma fachada calma e equilibrada. Seu estilo é descrito como “natural e não afetado, espantosamente maduro sem ser cafona.”

A jovem de 25 anos ganhou vários prêmios e foi nomeada em inúmeros concursos literários, mas a publicação da sua primeira coleção de poesias, em maio de 2012, lhe trouxe finalmente o grande público. Somente no ano passado ela participou de vinte leituras públicas através da Suíça.

Schwaller utilizou o prêmio em dinheiro de um concurso local para publicar o livro intitulado “Dachbettzyt”, que literalmente significa “hora do cobertor”. O título necessita ser explicado aos falantes do alemão padrão, também conhecido como “bom alemão”. Ao contrário da grande maioria dos escritores em língua alemã, Schwaller prefere escrever em dialeto suíço-alemão.

“O título é multifacetado”. “Dachbett” é uma palavra especial no alemão “sensler” (o nome do dialeto suíço-alemão falado na região do Sense no cantão de Friburgo). Significando edredom ou cobertor, ela irradia calor e uma sensação de segurança. Mas mesmo as pessoas fora da região do Sense podem conectar algo à palavra, fazer associações. “Dachbett” é também uma imagem composta das palavras telhado e cama.

Estilo

A maior parte dos poemas é escrita na primeira pessoa. “Eles são, no sentido mais amplo possível, poemas de amor. Porém são definitivamente menos autobiográficos do que a maior parte das pessoas pensa”, afirma Schwaller.

“Escrever é para mim um processo. Eu tomo não apenas notas e as transformo em um poema acabado. É um processo longo, que dura meses. Essas notas preliminares são autobiográficas e dependem do meu estado de espírito, mas eu acabo criando algo separado disso.”

Migalhas

Sou pão seco e velho

manter fechado em sua mão

sendo esmagado por você

depois

quando está tudo acabado

você me joga

em migalhas

no chão de pedra

como forragem

disperso, eu caio

as rachaduras

e se perdem

Na natureza

A desolação nessas linhas esparsas é encontrada em muitos dos poemas de Schwaller. O imaginário – muitas vezes elementos da natureza como pedra, água, neve, chuva, o ar – é forte e intenso.

Schwaller cresceu próxima à natureza entre os cantões de Berna e Friburgo, no típico vilarejo suíço de Überstorf. Uma cidadezinha de aproximadamente duas mil habitantes, um lugar onde todos se conhecem.

Embora ela já lesse Shakespeare aos dez anos de idade, Schwaller gostava de passeios na natureza, futebol e também hockey. “Éramos muito livres quando crianças para vaguear e explorar as redondezas. Próximo a minha casa havia uma floreta, onde eu brincava bastante com meus dois irmãos e vizinhos.”

A família da sua mãe vive há muitas gerações no vilarejo. “As tradições sempre foram muito importantes na minha família. Meus pais são religiosos e a fé católica teve um papel muito importante na minha educação”, diz. Assim como muitos suíços, Schwaller continua sendo membro da Igreja, mas não pratica mais o catolicismo.

Atualmente ela faz um mestrado em alemão e filosofia na Universidade de Berna, enquanto tem um emprego em tempo parcial em uma editora. Schwaller sabe que é pouco provável poder viver somente de poesia no futuro.

“Pessoalmente nunca imaginei que escrever iria pagar minhas contas. Nunca vou viver disso, mas está bom para mim. Mas acho lamentável o fato da literatura ter tão pouco reconhecimento na Suíça. É difícil para um escritor em suíço-alemão e também difícil para chegar ao mercado alemão. Existe uma impressão geral que a qualidade é mais baixa.”

Voz verdadeira

Schwaller começou escrevendo em alemão padrão e confessa que pode retornar ao idioma no futuro. “Nesse meio tempo mudei para o dialeto, especialmente depois de ter lido a coleção de poesias de Hubert Schaller. Isso me encorajou a escrever em meu próprio dialeto.”

O movimento da “Palavra Falada”, que surgiu nos Estados Unidos nos anos 1980 e promoveu debates poéticos, incentivou a produção literária em dialeto na Suíça e outros lugares.

“Com o dialeto o foco é a expressão oral. Na escola escrevemos em alemão padrão, mas agora a tendência com a palavra escrita é das pessoas utilizarem o dialeto.”

Tendo integrado o círculo restrito de autores escrevendo em dialeto suíço-alemão, Schwaller espera continuar a sua carreira criativa. “Escrever poemas é algo que definitivamente irá ficar comigo por muito tempo.”

Para oferecer ao leitor um retrato diferente da Suíça e toda sua diversidade, swissinfo.ch lançou uma nova série de perfis contando histórias de pessoas “comuns”, de todas as idades, regiões e estilos de vida. Os artigos são sempre publicados aos domingos.

Adaptação: Alexander Thoele

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