O Brasil numa das maiores competições de dança do mundo
2 meninos e 2 meninas representam o país no Prix de Lausanne, um dos maiores concursos de dança para jovens bailarinos do mundo.
A brasileira Ana Luisa Negrão tinha 3 anos quando pediu para a mãe matriculá-la numa escola de balé. Quinze anos depois, a jovem de Goiânia (GO), agora com 18 anos, participa pela segunda vez do Prix de Lausanne. Ana Luisa é uma das 4 pessoas que estão representando o Brasil na competição que chega à 50ª edição este ano.
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Prix de Lausanne: uma pequena competição que se tornou global
No total, 87 candidatos (46 garotas e 41 garotos) de 18 países foram selecionados (de um total de 429 que se inscreveram) para participar do Prix, que acontece no Théâtre de Beaulieu, em Lausanne, até o dia 5. Ana Luisa é uma delas. Mas também estão lá Wendel Vieira Teles dos Santos, José Abilio Neri e Luiza Falcão. Também há dois portugueses: Pedro Marques e João Xavier. Entre uma aula e outra, SWI swissinfo.ch conseguiu falar com alguns desses bailarinos.
Quando olha para trás, Ana Luisa, que estuda na Escola Basileu França desde os 5 anos, reconhece que chegar até aqui não foi fácil, porque teve de abrir mão de muitas coisas, como sair com mais frequência com os amigos, para ensaiar, ensaiar e ensaiar. Mas acha que valeu a pena tanto esforço. E hoje o que ela sente é um “misto de sentimentos”: nervosismo, ansiedade, alegria.
“Não é uma carreira fácil. Tem que ensaiar muito para se tornar melhor na dança. Mas não conseguiria viver sem. O balé significa muita coisa. Faz parte de mim. Até quando estou de folga, eu penso: queria estar dançando. É muito gratificante estar aqui realizando meu sonho, aprendendo com profissionais do mundo da dança”, disse ela para swissinfo.ch, numa manhã em que já tinha tido aula de aquecimento, ensaiado o solo que apresentará na semifinal da competição e ainda enfrentaria sessões de contemporâneo e de balé.
Na primeira vez em que esteve no Prix, em 2020, foi “mágico”, segundo a jovem que, à época, ganhou uma bolsa de estudos completa de dois anos na Royal Ballet, em Londres, que é considerada uma das melhores escolas de dança do mundo. Ana Luisa, agora, tem outro sonho: gostaria de conquistar um contrato para dançar em alguma companhia internacional.
“É incrível ter tido essa oportunidade de novo. Já é um prêmio para mim ter sido selecionada pela segunda vez e estar aqui representando o Brasil”, diz ela, que é filha de professores e inspirou a mãe e a irmã a entrarem no balé também.
Professora da Ana Luísa no Basileu França, Simone Malta, também coordenadora de dança da escola, vem há dez anos à Suíça para acompanhar os alunos selecionados para o Prix de Lausanne.
“Eu venho ao Prix desde 2013. A primeira vez foi com Adhonay Soares, que foi o ganhador da primeira bolsa do Prix de Lausanne e também do prêmio favorito do público. A partir daí, todos os anos estamos presentes neste evento e sempre com finalistas e ganhadores, como Carolyne Galvão e Miguel Oliveira. Este ano, Ana Luísa é uma das selecionadas. Ela é muito dedicada e trabalha como gente grande”, diz.
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Brasileira está entre os vencedores do Prix de Lausanne
Pais apoiaram meninos no balé
José Abilio Neri, de 15 anos, de Belo Horizonte (MG), começou a dançar quando tinha 5 anos e não parou mais. Aluno da ATM Centro Cultural de Dança, ele contou à repórter da swissinfo.ch sua história de amor com o balé. Também falou do presente simbólico que ganhou do pai quando ainda era criança.
“Meus pais tinham um grupo de teatro e havia uma escola parceira que ensinava balé para alguns participantes. Comecei assistindo, vendo as meninas e os meninos que dançavam, e fui tendo interesse. Eu tinha 3 anos. No meu aniversário de 4, pedi uma sapatilha para o meu pai. Ele me deu. Meus pais me apoiaram e, um ano depois, me colocaram na minha primeira escola de balé”, lembra.
Da dança de rua para o balé clássico
A primeira viagem que ele faz para a Suíça também é a primeira que fez para fora do Brasil. É a primeira vez que Wendel Vieira Teles dos Santos, de 15 anos, sai do país onde sempre morou. E sai para representar o próprio Brasil numa competição internacional de balé que recebeu inscrições de jovens de 39 nacionalidades diferentes. Sua história está longe de parecer um conto de fadas, mas, às vezes, parece até ficção, quando, na verdade, é mais uma daquelas histórias bonitas que só a realidade é capaz de produzir.
Apesar das dificuldades enfrentadas por um garoto brasileiro negro que resolve fazer balé e encarar preconceitos de uma sociedade como a nossa, Wendel está conseguindo.
A trajetória dele começou assim, com o breaking e o hip hop. Era 2016, e ele fazia dança de rua na Fábrica de Cultura, uma instituição que oferecia cursos gratuitos na Zona Leste de São Paulo. A transição para o balé veio em 2017, graças ao empurrãozinho do pai.
“Ele achou que meu corpo no breaking estava muito duro. Falou, então, para eu entrar no balé. Não só para eu ser bailarino, mas para ter uma flexibilidade melhor. Foi assim. Graças a ele, que fazia breaking na juventude, eu estou no balé. Fui o primeiro da família a fazer balé”.
Ele diz que o pai “sempre foi o pilar de tudo” e que o apoiou desde o início. “Se eu estou no balé hoje é por causa dele. Se não fosse o meu pai, eu não estaria aqui”.
O próximo passo de Wendel foi fazer balé no Teatro Municipal de São Paulo e depois na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil.
Desde o momento em que escolheu esse caminho para seguir, Wendel, que estuda no Ballet Marcia Lago, diz que enfrentou muita dificuldade e preconceito – por ser negro e por ser um menino fazendo balé.
“Sempre teve preconceito na sala de aula, em todo lugar. Além disso, a minha família não tinha uma situação financeira boa, o que o balé exige. Já tive oportunidade de ir para o exterior mais cedo, mas não consegui”.
Segundo Wendel, através da dança, ele consegue passar o que está sentindo, “dizer para as pessoas se está mal ou bem”.
“Meu corpo fala, anda, come e dança. Para mim, a dança é muito mais do que dança pra mim. É liberdade, libertação, tudo”.
Ele diz que estar na Suíça é a realização de um sonho, não só dele, mas do pai e da mãe também.
“Significa muito para mim (ter sido selecionado). Quando eu assistia ao Prix de Lausanne, era uma coisa tão gostosa, sabe? As pessoas que estavam lá eram como estrelas. E hoje estar aqui, não me sentindo uma estrela, mas nesse caminho, é surreal. Estou muito feliz e muito ansioso para continuar”, diz.
As competições finais estão marcadas para o dia 4 de fevereiro. Boa sorte, meninos e meninas.
Desde 1973, há exatos 50 anos, mais de mil bailarinos receberam ajuda financeira, mais de 450 saíram vencedores e centenas de bolsas de estudo foram oferecidas a jovens bailarinos e bailarinas do mundo inteiro que tinham o sonho de ver a carreira decolar
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