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“O trabalho feito na Suíça é exemplo para o Brasil”

Luiz Carlos Justi, Priscila Pellanda e Lilia Manfrinato. swissinfo.ch

Músicos brasileiros gostariam de implantar no Brasil a dedicação e a disciplina existente na Orquestra de Jovens de Friburgo.

É o caso de Luiz Carlos Justi e Lilia Manfrinato.

“Acho que no Brasil não falta talento musical”, diz o oboísta Luiz Carlos Justi. Faltaria maior disciplina e dedicação.

Justi conhece de perto a Orquestra de Jovens de Friburgo (OJF), por ter atuado várias vezes – a última agora em dezembro – como solista da mesma, sob a batuta de Théophanis Kapsopoulos, chefe do ensemble de cordas, reunindo cerca de 20 músicos em formação.

Na opinião de Justi, com as mesmas referências, no Brasil pode-se chegar a resultados semelhantes. É aliás o que tenta fazer na sua área de atuação.

A constatação de Lilia Manfrinato é idêntica. A pianista brasileira, que também acaba de tocar com a jovem orquestra suíça, acha “encantadora” a disciplina observada, e procura aplicá-la na Escola de Música Villa-Lobos do Rio de Janeiro, como professora de seu instrumento. Em todo o caso, disse voltar ao Brasil “carregada” com essa experiência.

Ambos estão conscientes de que no Brasil a coisa é mais complicada, dada a índole do povo e em especial do carioca. Mas com trabalho pode-se mudar mentalidades.

Mão na massa

A propósito, a vinda de solistas brasileiros a Europa para tocar com a Orquestra de Jovens de Friburgo pode representar um impulso. Para Justi, o importante para um jovem solista brasileiro não é o fato de tocar com mais uma orquestra, e sim, ver como os jovens suíços trabalham, a dedicação que têm, o tempo que doam…

O que mais impressiona, porém, são os trabalhos extras realizados pelos membros da orquestra friburguense. Os brasileiros não parecem acostumados a pôr a mão na massa quando se trata, por exemplo, de preparar uma sala de concertos, cuidar de cadeiras, arrumar estantes…

Pois bem, na Orquestra de Jovens de Friburgo isso é rotina. Há, por exemplo, alguém que cuida das partituras. Luiz Carlos Justi ficou impressionado em constatar “como os jovens músicos suíços se mortificam quando um concerto não é do nível que deveria chegar”. Conclui haver muita coisa de que a gente se esquece ou não se dá conta, e que “se fizesse no Brasil daria resultado”.

O oboísta lembra ter tido o bom exemplo desde o início. Na sua cidade natal, Piracicaba, no Estado de São Paulo, teve como mestre Ernst Mahle, fundador da Escola de Música da cidade que não apenas ensinava música, mas podia também cuidar de afazeres como preparar uma sala de concerto.

Foi aliás graças ao mestre e compositor de origem alemã que Piracicaba criou laços com a Orquestra de Jovens de Friburgo (veja texto anterior). É da cidade paulista que saíram muitos solistas que tocaram com essa orquestra.

Programa exigente

E ainda quanto à seriedade da orquestra friburguense – que reúne jovens de 12 a 18 anos – o ensemble realiza em cada temporada (de um ano) 10 concertos, com 10 programas diferentes. Procura realizar um programa por mês. O objetivo é conhecer o repertório através de uma exigência nos ensaios, através de solistas convidados, jovens ou profissionais experimentados.

Essa orquestra de cordas convida de 2 a 3 maestros por ano e realiza intercâmbios e viagens para conhecer outras culturas.

Nos dez programas da temporada, diz o maestro Kapsopoulos, “figuram talvez 4 concertos com alguns sopros (Haydn, Mozart, Schubert…), dois concertos sinfônicos (Beethoven, Bartok…). Ficam excluídos os concertos sinfônicos que exigem efetivo muito grande (Tchaikovsky, Brahms, Mahler…). Quando se necessita, por exemplo, 60 musicistas, ex-membros da orquestra participam.

A seguir, um rápido perfil de três que acabam de participar de apresentações do ensemble suíço

O oboísta

Luiz Carlos Justi

50 anos, é o veterano dos solistas que passaram pela Orquestra de Jovens. A colaboração começou há cerca de 25 anos, quando ele aperfeiçoava seus conhecimentos musicais em Hanover com o grande mestre Ingo Goritsky, durante quase 3 anos.

Voltando ao Brasil, Justi trabalhou dois anos com Mahle, como professor assistente. Passou em seguida “cinco ou seis anos” na Orquestra Sinfônica de Campinas, antes de se mudar para o Rio de Janeiro, onde toca na Orquestra Sinfônica Brasileira, coordenando a orquestra de jovens (90 músicos).

Na UNIRIO dá aulas de música de câmera e oboé. Mas sua atividade principal é no Quinteto Villa-Lobos de que é integrante. O Quinteto, criado há 43 anos – o mais antigo em atuação ininterrupta no Brasil – “faz um trabalho extenso: da música popular à música erudita”.

Lília Manfrinato

Pianista piracicabana, esposa de Luiz Carlos Justi, foi outra convidada, pela segunda vez neste ano, como solista pela Orquestra de Jovens de Friburgo que ela tem em excelente consideração, justamente pelo exemplo de dedicação dos membros da orquestra.

Caçula numa família em que os seis irmãos estudaram música, começou o piano com 9 anos, na sua cidade natal, embora quisesse estudar oboé, um instrumento que não se começa com menos de 12 anos. Gostou tanto do piano que decidiu continuar com um instrumento que considera “um meio de comunicar-se com as pessoas”.

Após os anos passados em Piracicaba, dedicou-se ao bacharelado em música em São Paulo. E, depois de estudar no Rio com Linda Bustani, fez um mestrado, em cinco anos, em que a pesquisa dizia respeito a música de câmera: “repertório com piano e outros instrumentos composto no Rio de Janeiro no período em que o piano foi introduzido no Brasil (1850)”.

Hoje Lilia trabalha como professora, depois de especializar-se no ensino de piano em grupo, “que encontrou muito espaço no Brasil”, na Escola de Musica Villa-Lobos.

Priscila Vargas Pellanda

Jovem violinista de talento de apenas 18 anos, teve ocasião de tocar pela primeira vez, agora emdezembro, com a Orquestra de Friburgo, como solista do Concerto em sol menor, de Giuseppe Tartini. Ansiosa nessa primeira viagem ao exterior, disse ter estudado o concerto o ano inteiro, sem ter a menor idéia do que a esperava.

“Queria saber como as pessoas estudam música por aqui”, disse Priscila, afirmando ter adorado a experiência. A jovem que estuda violino desde os seis anos, já se tem destacado em concursos, ganhando o prêmio de melhor intérprete de musica brasileira no concurso de jovens instrumentistas em Piracicaba, em 1998, 2001 e 2002.

Já é uma referência, até porque no concurso de cordas em 1999 e 2003, em Ouro Preto, saiu uma vez em primeiro lugar, tendo-se sobressaído também, em 2003, no Concurso de Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica da Bahia.

Mas parece que a experiência friburguense foi mais marcante para a talentosa solista.

swissinfo, J.Gabriel Barbosa

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