Os desafios para fazer o filme “Suíços Brasileiros”
Na segunda quinzena de abril, começam as filmagens do docudrama "Suíços Brasileiros – Uma História Esquecida", que resgata a saga da imigração suíça em Santa Catarina em meados do século 19.
A parte suíça do filme será rodada em Schleitheim, um povoado rural de 1.700 habitantes localizado no cantão de Schaffausen (nordeste da Suíça), de onde saíram muitos dos imigrantes de Joinville.
Os preparativos para as filmagens correm a todo vapor. Em entrevista à swissinfo, o diretor Calixto Hakim fala de seus laços com a Suíça, dos desafios para realizar o projeto e revela: “Muitas pessoas não gostam nem de lembrar e comentar sobre os tempos difíceis em Schaffhausen, onde ocorreu o que se pode chamar de uma ‘exportação dos pobres'”.
swissinfo: Por que o povoado de Schleitheim foi escolhido para as filmagens?
Calixto Hakim: O local foi escolhido porque além de muitos emigrantes terem saído deste povoado a arquitetura local ainda permanece quase intacta como em 1850. Devido ao orçamento apertado e à praticidade, precisávamos fazer todas as cenas num só lugar, sem deslocamentos. Schleitheim nos pareceu perfeito, todos os elementos estão lá. E obviamente pelo acolhimento que o povoado nos deu, principalmente na figura do senhor Willi Bächtold, diretor do museu local.
Como está sendo o apoio ao projeto no Brasil e na Suíça?
Todo projeto de filme é um processo demorado, pois envolve muitas pessoas e muito dinheiro. O orçamento total é de 695 mil reais. Descontando a ajuda suíça – o cantão de Schaffhausen deu 50 mil francos (cerca de 100 mil reais) – e alguns apoios logísticos que conseguimos no Brasil, ainda faltam uns 400 mil reais.
Mas posso dizer que, devido ao esforço de todos os integrantes da diretoria da Associação de Parceria Schaffhausen-Joinville, principalmente do deputado federal Hans Jürg Fehr, que na realidade é o padrinho do projeto, e de Peter Baumer (que é membro da Associação de Parceria Schaffhausen-Joinville e teve parentes que emigraram para Joinville), por realmente acreditarem no valor sócio-histórico-cultural do filme o apoio tem sido excelente.
Tivemos também um grande apoio da comunidade artística de Schaffhausen, por exemplo, de Katharina Furrer e Ariane Waldvogel, da produtora de vídeo de Schaffhausen Eclipse Film que será a co-produtora da parte suíça, e de muitas pessoas da comunidade, realmente interessadas em participar e ajudar a realizar esse filme, que resgata parte da história de seus antepassados e de seu cantão e país.
No Brasil o apoio tem sido mais difícil até porque a parte orçamentária do Brasil é 4,5 vezes maior. E a burocracia é 20 vezes maior. Mas já estamos conseguindo apoio de algumas empresas, como a Swiss Airlines do Brasil, que está nos cedendo as passagens aéreas Brasil-Suíca e vice-versa, a Swisscam de São Paulo, entre outras. Estamos confiantes de que até dezembro de 2010 vamos ter todo o dinheiro em mãos. A nova gestão da prefeitura de Joinville está realmente interessada no projeto e procura formas de viabilizar o filme junto com o governo do estado de Santa Catarina.
Quais são as maiores dificuldades ainda a superar?
O baixo orçamento que temos para gravar na Suíça e a dificuldade de conseguir patrocínios, apoiadores e investidores em geral para a parte brasileira. Temos que ter paciência e perseverança para podermos realizar um projeto cultural que se passa em dois países de 1850 até hoje.
Estou trabalhando nesse projeto há dois anos e meio. É frustrante quando, depois de pedir vários favores a inúmeras pessoas e telefonar inúmeras vezes, só depois de seis meses de insistência ser atendido por um diretor de uma empresa que fala que adorou o projeto, mas prefere não investir em projetos culturais. Sendo que aqui no Brasil as empresas podem deduzir 4% do Imposto de Renda.
Até empresas suíças de Joinvile, que tem enormes recursos para investir em cultura, preferem simplesmente não usufruir dessa vantagem fiscal e de uma excelente oportunidade de marketing institucional, publicidade e fixação da marca, tudo isso totalmente a custo zero.
Além de estar contando a história de seus tataravós e descendentes e todo o esforço que eles fizeram para essa geração usufruir dessa qualidade de vida e do progresso atual da região de Joinville. Isso eu realmente não entendo. Acho que alguns executivos de grandes empresas suíças e brasileiras, quando se trata de cultura, história, do social ou do meio-ambiente, ainda pensam como na época da colonização. Só visam o lucro imediato. Mas com o apoio de pessoas maravilhosas que acreditam no projeto em Schaffhausen e no Brasil e com a criatividade brasileira de contornar dificuldades nós vamos fazer um excelente filme.
O que levou o senhor a encarar a realização desse projeto?
Foi pelos laços que tenho com a Suíça. Minha esposa e produtora executiva do filme, Katharina Beck, é suíça, nós temos um filho juntos. Então sempre estou ligado em fatos, na cultura e nos acontecimentos da Suíça. E quando li o livro Das Paradies in den Sümpfen, de Dilney Cunha, e descobri que os primeiros imigrantes de Joinville tinham sido suíços, um fato histórico que foi completamente apagado, esquecido.
Nem os descendentes de suíços em Joinville sabiam que eram suíços. Foram descobrir depois de muitos anos. Todos se achavam alemães, pelo fato da empresa colonizadora ser alemã e ter reprimido a cultura suíça e por outros fatores.
Tudo isso combinado ao fato do meu desconhecimento e de grande parte do mundo de que a Suíça durante esse período de 1850 passou por enormes dificuldades, como fome e miséria. Fato esse que muitos suíços de novas gerações de Schaffhausen, o cantão mais afetado pela crise, desconhecem.
Muitas pessoas não gostam nem de lembrar e comentar sobre os tempos difíceis em Schaffhausen, onde ocorreu o que se pode chamar de uma “exportação dos pobres”. É uma história de luta pela sobrevivência. Uma saga de perdas e muitas vitórias, que deve ficar registrada nos anais da história da Suíça, do Brasil e do mundo. Lembrando que hoje, graças a esses imigrantes e muitos outros, o sul do Brasil é uma região próspera, com um desenvolvimento econômico e humano que é exemplo na America Latina.
swissinfo, Geraldo Hoffmann
Calixto Hakim é curitibano, formado em cinema na Art Center Colleg of Design, em Pasadena, Califórnia (EUA).
O cineasta ganhou vários prêmios no Brasil e no mundo por seus curtas-metragens, os quais escreveu e dirigiu.
Calixto dirige comerciais, programas de tv e vídeos cooporativos e educacionais, além de ter escrito e dirigido episódios para seriados brasileiros. É fundador da Jupiter Filmes.
Filmografia
Avassaladoras – A Série, 2006: Bebê a Bordo (roteiro)
Imagens distorcidas, 1998 (produtor, roteirista e diretor)
Título: Suíços Brasileiros – Uma História Esquecida
Gênero: Documentário
Duração: 52′
Formato: HD-TV
Assunto: História da imigração suíça para o Brasil.
Por mais de um século, ficaram enterrados em pouquíssimos lugares os fragmentos da verdadeira história dos imigrantes suíços ao Brasil. Muitos dos descendentes de Suíços até há pouco se achavam descendentes de Alemães.
Este filme, pretende fazer o resgate desta saga: abordando a cultura, história e costumes dessas bravas famílias que ajudaram a construir a região, que hoje é o maior pólo industrial de Santa Catarina.
Produção dividida em:
80% – região onde se localizava a colônia Dona Francisca – Brasil
20% – cantão de Schaffhausen – Suiça.
Bilíngüe (português e suíço alemão).
O filme vai ser o que se convencionou chamar de “docudrama”.
Ficção: dramatização de acontecimentos escritos e recriados (acentuando os valores artísticos e de entretenimento do filme).
Fonte: http://suicosbrasileiros.com.br
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