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Palafitas inscritas no Patrimônio Mundial da Humanidade

Reconstrução de palafitas em Wauwil, em 2009. Keystone

A Unesco acolheu na segunda, dia 27 de junho, a candidatura conjunta de 6 países europeus proposta pela Suíça. As palafitas mostram como era a vida dos primeiros povoados, 5000 a 500 anos antes de Cristo.

Elas são quase invisíveis, enterradas no fundo dos lagos ou cobertas pelas areias das margens dos rios. Mas, para a Unesco, essas palafitas são dignas de fazer parte do Patrimônio Cultural da Humanidade.

Esses pilotis de madeira estão entre os objetos arqueológicos mais importantes para entender melhor a evolução do homem, entre o Neolítico e a Idade do Bronze.

Foram precisamente a água e a areia dos lagos que permitiram que este patrimônio pré-histórico incomensurável tenha sido tão bem preservado até hoje. Neste ambiente, os materiais orgânicos utilizados pelos nossos antepassados – madeira, couro, tecidos, ossos e até mesmo alimentos – ficaram ao abrigo do ar, das intempéries e do homem.

Descobertas no século XIX, as palafitas dos Alpes permitiram que os especialistas reconstruíssem, como em nenhum outro lugar do mundo, a vida das comunidades rurais dos primeiros milênios AC. Elas também permitiram fazer a conexão entre os povos nômades da pré-história e as primeiras grandes civilizações europeias.

Vestígios de uma era

Os primeiros vestígios dessas aldeias à beira dos lagos foram descobertos em Zurique, em 1854. Naquele ano, o nível do lago havia sofrido uma baixa recorde. Escavações feitas por arqueólogos da época permitiram recuperar centenas de estacas cravadas no chão, e muitos objetos desconhecidos, todos em excelente estado.

A descoberta despertou grande interesse em toda a Europa. Nas décadas seguintes, sítios arqueológicos similares foram identificados às margens de lagos em outros países do continente, especialmente, na região dos Alpes. As escavações arqueológicas sobre a pré-história realizadas até então haviam contribuído principalmente para recuperar objetos funerários, armas e sítios de defesa militar. As aldeias lacustres ofereciam pela primeira vez a possibilidade de incluir também o estilo de vida das pessoas que viveram na região entre os anos 5000 e 500 AC.

Nos primórdios, eram pequenos grupos de menos de 50 pessoas que viviam em 5 a 10 cabanas. Por volta da metade da Idade do Bronze, essas aldeias tinham até cinquenta construções em que viviam várias centenas de pessoas. Elas viviam da agricultura, quase que inteiramente de grãos e gado de vacas, cabras e porcos, mas também, da pesca, da caça e da colheita de frutos silvestres.

Utensílios de madeira e pedra, cachecóis e roupas feitas com casca macerada, cerâmicas, joias, rodas, barcos, bem como os primeiros produtos feitos de metal comprovam a habilidade destes povoados lacustres.

Esses objetos são os primeiros produtos técnicos, econômicos e sociais de uma era que permanece velada de grande mistério. Até hoje, ignoramos quase tudo sobre a cultura, os ritos e a linguagem dos nossos antepassados daquela época.

Mito nacional

Há quase um século e meio, as primeiras palafitas alimentavam a imagem de uma Suíça romântica, habitada por povos que viviam em grandes plataformas erguidas sobre palafitas, ligadas por pontes e passarelas. Exposições, quadros, calendários e livros, bem como romances, encenavam este mito dos povos que vivem sobre a água, quando na verdade, como sabemos hoje, eles viviam nas margens dos lagos.

Os sítios lacustres encontrados em várias regiões do país foram usados de maneira a inculcar a ideia de uma origem comum das diferentes culturas helvéticas, cimentando a identidade nacional da Confederação, que tinha apenas seis anos.

Não é por acaso que o governo de então tinha escolhido um quadro ilustrando a vida de uma aldeia lacustre para representar a Suíça na Exposição Universal de Paris de 1867. Mais tarde, escavações arqueológicas revelaram que as aldeias lacustres haviam florescido aos milhares na região alpina.

Candidatura transnacional

Apresentada pela Suíça, a candidatura dos sítios lacustres reúne também França, Alemanha, Itália, Áustria e Eslovênia. Ela soma no total 111 sítios em seis países, incluindo 56 na Suíça, que estão entrando no Patrimônio Cultural da Humanidade.

“A dimensão transnacional deste projeto foi certamente apreciada pela UNESCO, que procura promover a cooperação entre os países membros”, disse Christian Harb, um dos responsáveis da candidatura. “Além disso, nossa candidatura também se beneficiou do fato de que são poucos os sítios da pré-história que fazem parte do Patrimônio da UNESCO, e que, ao contrário de outros projetos, as palafitas não têm nenhuma vocação para o turismo, já que os pilotis estão imersos”, explica.

Os promotores da candidatura transnacional esperam, no entanto, que a inscrição no Patrimônio Mundial da Humanidade relance as buscas arqueológicas, divulgando a um público mais amplo os museus e parques de exposição que apresentam as aldeias lacustres. E que este reconhecimento permita também a promoção da proteção destes sítios. Os lagos proporcionam boas condições para a conservação, mas não para a eternidade.

Aprovação. Reunidos em Paris, o Comitê da UNESCO aprovou a lista de sítios lacustres do arco alpino no Patrimônio Mundial da Humanidade.

Internacional. Promovida pela Suíça, a candidatura havia sido apresentada em janeiro de 2010, juntamente com Itália, França, Alemanha, Áustria e Eslovênia.

Mil sítios arqueológicos. Até o momento, foram identificados mil sítios arqueológicos de palafitas. Eles pertencem a cerca de trinta povos que se tornaram sedentários na região dos Alpes, entre os anos 5000 e 500 AC. Destes sítios, 111 acabaram de ser inscritos no Patrimônio Mundial, 56 dos quais estão em Suíça.

Proteção. Um dos objetivos da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) é a preservação do patrimônio cultural e natural que apresenta um “valor universal excepcional”.

Lista. Em 1972, os membros da UNESCO adotaram uma convenção internacional com uma lista do Patrimônio Mundial da Humanidade. Os Estados signatários comprometem-se a proteger os locais que estão em seu território.

900 lugares. O Patrimônio inclui atualmente cerca de 900 sítios em 140 países. Suíça tem oito sítios inscritos no Patrimônio Cultural Mundial e três no Patrimônio Natural Mundial.

Adaptação: Fernando Hirschy

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