Joia da arte românica, a Abadia de Payerne entra no século 21
A igreja da abadia de Payerne acaba de reabrir suas portas aos visitantes após vários anos de trabalho de renovação. Principal testemunha da arte românica na Suíça, o edifício foi agora aprimorado com uma museologia moderna, a fim de atrair mais do que os círculos de entusiastas da arquitetura e da história da arte.
Um edifício situado em uma colina tem vista para a pequena cidade de Payerne (um pouco mais de 10’000 habitantes) no cantão de Vaud. É uma igreja, mais precisamente uma igreja de abadia, o que nos lembra que o lugar já foi sede de um priorado beneditino.
A abadia está localizada no coração da cidade, a poucos metros das ruas comerciais e do trânsito. Mas agora, os últimos metros para alcançá-la são percorridos a pé. A praça que limita a igreja foi recentemente transformada em uma zona de pedestres, a fim de valorizar ainda mais o local.
Joia da arte românica
A Abadia de Payerne é um dos treze locais cluníacos da SuíçaLink externo. Na Idade Média, o mosteiro era, de fato, ligado à famosa e monumental Abadia de Cluny, na Borgonha, que era então um lugar de destaque intelectual e o centro da renovação monástica na Europa.
Mas entre todos esses locais, a igreja da abadia de Payerne ocupa um lugar especial e serve como uma verdadeira “joia” da arte românica. “Isto se deve principalmente ao fato de que esta abadia é a maior construção românica da Suíça, o que não é um feito pequeno”, explica Anne-Gaëlle Villet, diretora e curadora da Abadia de PayerneLink externo.
“Além disso, o local está muito bem conservado. É quase arte românica pura. Uma parte muito grande da igreja, como a nave e o coro, permaneceu em seu estado original. Poucas partes foram transformadas em gótico”, conta.
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Três vidas
Uma primeira igreja, construída no local de uma antiga vila romana, esteve em funcionamento do século VIII ao século X. É somente a partir do século X que a abadia, tal como a conhecemos hoje, começou a ser construída.
A abadia começou uma segunda vida durante a ocupação do cantão de Vaud pelos Berneses (1536-1798) e a mudança com a Reforma protestante. A igreja foi então laicizada e utilizada para atividades profanas. O local foi utilizado em particular como fundição de sinos, armazém e prisão. Ainda no século XIX, seu coro era utilizado como sala de ginástica.
No final do século XIX, os historiadores da arte se deram conta de que era uma joia que precisava ser protegida e os trabalhos de restauração começaram em 1920. Uma vez concluída esta restauração, o local foi dedicado ao culto protestante e tornou-se novamente um monumento religioso em 1963.
Mas a atividade religiosa era limitada. Protestantes e católicos já tinham suas próprias igrejas para as celebrações diárias: cultos, funerais, casamentos, etc. A igreja da abadia só pode ser reservada cinco vezes ao ano, geralmente para festas importantes como a Páscoa ou a Sexta-feira Santa. Também é usada para cerimônias ecumênicas, mas fora do horário de abertura ao público.
Em sua terceira vida, a abadia se transformou em um museu – a entrada é paga – servindo às vezes como local de culto.
Ameaça de desabamento
A abadia acaba de passar por um extenso trabalho de renovação. “A partir de 2007, notamos grandes problemas estáticos”, diz Anne-Gaëlle Villet. “Pedaços do reboco estavam começando a cair e havia riscos das abóbodas desabarem. As paredes estavam inclinadas para fora e o edifício ameaçava desmoronar”.
Este problema de estabilidade já existia na Idade Média. Os pilares originais simplesmente não haviam sido projetados para sustentar um edifício que havia se tornado tão maciço a cada ampliação. Os antigos já haviam tentado resolver este problema de demasiada tensão construindo muros de contenção.
Os arquitetos de hoje encontraram uma nova solução, trabalhando nos pilares. “A parte no solo foi cimentada a fim de ancorá-los firmemente no solo e cabos foram instalados dentro dos pilares para compensar a tensão. É um sistema de tirantes que tem a vantagem de ser invisível. Isto não altera em nada o edifício, nem por dentro nem por fora”, explica a Diretora-Curadora.
Além disso, a praça em frente ao prédio, que costumava ser um estacionamento, foi totalmente reformada. “Transformar esta praça em uma zona para pedestres torna possível mostrar melhor o edifício e restaurar uma certa serenidade propícia à contemplação”, diz Anne-Gaëlle Villet.
Museografia moderna
“Poderíamos ter parado na conservação do prédio e na requalificação da praça, mas decidimos reabilitar a igreja da abadia com uma museologia moderna”, continua ela. “Fizemos muitas descobertas durante esta renovação. Por exemplo, sabemos mais sobre os diferentes períodos de construção. Nosso conceito museológico é uma forma de tornar todas essas informações acessíveis”.
Os meios utilizados são de fato resolutamente modernos. É possível ver isto desde a entrada, onde foi montada uma sala de projeção na qual um pequeno filme mostra as principais etapas da história do lugar.
Dentro da igreja da abadia, os visitantes são acompanhados por um audioguia. Além disso, vários painéis e animações de áudio ou vídeo ajudam a explicar melhor ou destacar certos aspectos da vida monástica ou detalhes do local. Por exemplo, uma espécie de tablet gigante mostra rostos esculpidos a vários metros de altura.
Em uma capela adjacente, o visitante pode se colocar sob uma série de instalações que simbolizam a vida após a morte e difundem sons ambientes específicos do lugar: o som dos sinos, o canto dos pássaros e o canto gregoriano.
Em outra sala, os arquitetos do museu deram uma interpretação moderna do dormitório dos monges. Os visitantes podem deitar-se sobre simples camadas de madeira que evocarão a austeridade da vida monástica, mas enquanto assitem vídeos no teto…
Atrair visitantes
Todas essas instalações mostram que é mais provável que você se encontre em um museu moderno do que em uma igreja tradicional. Deve-se notar, no entanto, que as animações estão sempre no fundo, por exemplo, em uma sala adjacente ou em uma viela, e nunca alteram a serenidade e o espírito do lugar.
Essa apresentação moderna tem o objetivo de atrair um grande público. “Queremos ir além dos amantes da arquitetura e da história da arte”, diz Anne-Gaëlle Villet. Com seu novo conceito, a Abadia de Payerne dotou-se dos meios para realizar suas ambições.
Resta saber se o desafio acabará por ser vencido. Por enquanto, o recorde de público é de 340 visitantes em um dia, um resultado que já é bastante honroso.
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Adaptação: Fernando Hirschy
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