Pedreiro cibernético rouba a cena na Bienal de Arquitetura
A Suíça reúne num único espaço a proposta da 11a Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, a principal vitrine do setor.
A idéia do curador desta edição, Aaron Betsky, é questionar a arquitetura vista de dentro para fora.
No pavilhão fixo da comunidade helvética, localizado logo na entrada dos Giardini, foi montada uma instalação de tijolos dentro da qual o visitante passeia, literalmente, pelas idéias e pelos projetos de pesquisa desenvolvidos por um seleto grupo de arquitetos suíços.
Os 14.961 tijolos orientados como ondas servem de divisórias para os temas centrais da exposição suíça, não por acaso, chamada de Explorações. Metodologia, Didática, Tecnologia e Rede são os quatro conceitos da mostra. Eles representam os pilares da moderna e da futura arquitetura helvética estudados pelos Politécnicos de Lausanne e de Zurique.
Um robô-operário, nominado de R-O-B, rouba a cena logo na porta de entrada do pavilhão. Ele é a ponta de diamante da Tecnologia. Imóvel ele parece dar as boas vindas a quem chega para ver de perto a sua obra prima: cem metros de paredes oscilantes e sinuosas. Elas concentram o que existe de mais moderno e de vanguarda em termos de construção civil.
Robô construtor
Um projeto, iniciado em outubro de 2005, terminou apenas uma semana antes do começo da Bienal de Veneza, aberta domingo passado. Numa corrida contra o tempo, os pesquisadores, técnicos e estudantes do estúdio Gramazio & Kohler for Architecture and Digital Fabrication, do departamento de Arquitetura da ETH de Zurique, envolvidos na criação de um robô capaz de levantar muros sem colunas. Ele usa a lei da ação e da reação ao limite da possibilidade concreta.
O pedreiro cibernético realiza complicados cálculos matemáticos para empilhar os tijolos em angulações e alturas diferentes. Ele gasta 20 segundos para apoiar cada tijolo no outro seguindo as instruções e os desenhos “impossíveis” para a mão do homem.
“Tudo nasce com um programa de computador que e’ “lido” e executado pelo robô, único no mundo. A partir daí executa-se e ergue-se uma parede ondulante sem o auxilio de colunas, usando apenas a precisão milimétrica da colocação dos tijolos, fazendo com que eles se tornem estáveis e equilibrados sozinhos. Ele faz um trabalho que seria praticamente impossível para um homem”, explica Nadine Jerchau, da Digital Fabrication, à swissinfo.
Os muros servem ainda de telas para a projeção de vídeos. Neles os professores responsáveis pelas pesquisas apresentadas discutem e abrem os debates sobre as potencialidades dos conceitos expostos.
“O nosso objetivo aqui é discutir as pesquisas em programas de design de arquitetura, que nem sempre são muito claras para nós. Trouxemos quatro casos relevantes para este debate dos dois institutos federais suíços, de Lausanne e de Zurique”, disse Reto Geiser, arquiteto e curador da exibição helvética, para a swissinfo
Alguns são de fácil compreensão. O Lapa (laboratorie e la production d’architecture), de Harry Gugger, de Lousanna, é um deles.
Participação nos projetos
O projeto estuda os benefícios da Metodologia aplicada na arquitetura. Começa com uma macro visão do ambiente da futura obra até a execução do plano-piloto. Essa pesquisa tende a criar um diálogo entre as diferentes fases da obra. Uma troca de idéias entre o cliente e o arquiteto que permite um planejamento meticuloso imprimindo um dinamismo responsável ao projeto.
A cidade de Genebra será alvo de pesquisa para resgatar a sua importância no cenário internacional através de um projeto de reurbanização.
Estas fases, tais como uma engrenagem de etapas, tendem a diminuir com o auxílio da tecnologia. Ao encurtar a “cadeia de produção” (aquela entre o projeto e a edificação), aumenta-se o grau de influência e de responsabilidade do arquiteto em todo o processo e não apenas na elaboração inicial.
A completa interação e integração entre as diversas etapas do processo de construção é o tema central do MAS UD (Master of Advanced Studies in Urban Design), dentro do conceito de Rede.
O intercambio didático promove uma Rede de contatos entre um pólo avançado de estudos e uma realidade pronta e disponível para aceitar intervenções novas e ousadas.
Projeto na Etiópia
Entre os projetos está a aplicação da logística na distribuição de materiais reciclados para uso de emergência, tais como garrafas de plástico para a construção de abrigos em campos de refugiados. E ainda planos de infra-estrutura em Addis Abeba, capital da Etiópia.
Já o laboratório Alice (Atelier de la conception de l’espace) discute a aprendizagem como conseqüência da realização. A idéia original é modificar os modelos propostos de arquitetura levando em conta as conseqüências espaciais e temporais que estas mudanças podem proporcionar.
Dois estudantes japoneses fotografaram as instalações, tomaram notas dos textos e disseram que iriam estudar mais tarde para compreender melhor a proposta Didática. Afinal, como reza a legenda da instalação, “o ato de interpretação provoca princípios de novas sabedorias”.
A participação da Suíça continua através de uma grande instalação do escritório Herzog & De Meuron and Ai Weiwei. Jacques Herzog, da Basiléia, junto com os seus sócios, criaram uma instalação exposta no Pavilhão Italiano. Ela foi criada para concretizar a genuína experiência arquitetônica desejada pelo curador da mostra Aaron Betsky.
Ele escolheu seis arquitetos que mais influenciaram a arquitetura experimental contemporânea, entre eles Zaha Hadid, Frank O. Ghery, Morphosis.
Herzog ocupou o espaço com um grande bambuzal. Traves cortam a sala nas mais diferentes direções. E, ao longo delas, nascem cadeiras de bambu como se fossem galhos que partem dos nós. Estruturas tubulares, resistentes, flexíveis, leves e de forte impacto visual revelam com quantos paus se pode construir uma habitação.
swissinfo, Guilherme Aquino, Veneza
A Bienal Internacional de Arquitetura vai de 14 de setembro a 23 de novembro.
56 paises participam da mostra, dos quais 30 nos Giardini, 13 no Arsenale e outros 13 em diferentes pontos da cidade. Cem arquitetos foram convidados e mais de 300 apresentam projetos.
Uma nova arquitetura deve resgatar o contato do homem com a natureza e com o seu semelhante. Segundo o Autralian Bureau of Statistcs, 3.1 milhoes de pessoas irão viver sozinhas em 2026, contra 1,8 milhoes segundo a pesquisa realizada em 2001.
A recuperação de áreas verdes, o resgate e a modificação de prédios inteiros são alguns dos pontos de convergência desta Bienal. A implantação de jardins suspensos em fachadas “cegas” e em parapeitos de viadutos e’ uma idéia que ganha espaço.
O estudo de novos materiais que facilitem e acelerem as novas construções é constante. Mas não apenas isso: é necessário superar a divisão entre os agentes do processo, ou seja: o construtor, o financiador, o corretor, o comprador e o segurador.
Habitar no centro de Roma é um grande desafio; São hoje cem mil moradores contra 370 mil entre 1950 e 1970. A migração ocorre devido a especulação financeira, a invasão do turismo, a expansão da cidade política a a presença de universidades. A idéia ousada é derrubar edifícios sub-utilizados e construir moradias deixando intactas as fachadas dos prédios que seriam demolidos no centro.
A troca de experiências locais pode ajudar a resolver o problema da habitação no mundo.
A arquitetura vista de dentro para fora revela o poder de algumas estruturas como as tubulações de gás da Rússia verso a Europa. O Ministério da Cultura da Estônia trouxe para a mostra um tubo de 63 metros “expondo” a dependência européia da energia russa.
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.