Pirataria para democratizar o cinema
Milhões de pessoas só podem ter acesso às produções cinematográficas a través de cópias piratas. No Brasil, um filme de sucesso pode ter até 11 milhões de cópias clandestinas.
Jorge Durán, cineasta chileno, radicado no Brasil e diretor de ‘Proibido Proibir’ fala desse fenômeno, de seu filme e da sétima arte em sua segunda pátria.
A pirataria é o único meio de acesso ao cinema para de milhões de pessoas.
“Em 27 de abril estreamos nas salas ‘Proibido proibir’. Nesse mesmo dia, um amigo me telefonou dizendo que na Praça do Rio vendiam cópias piratas do filme. Fiquei surpreendido, pensei que era um problema complicado. Meu amigo me disse: Não te preocupes, isso é sinal de prestígio!”
Jorge Durán contou essa história durante um debate organizado durante o Festival Flimar na América Latina (Filmalamrat), em Ginebra, em que diversos cineastas latino-americanos falaram da “eficácia” do mercado pirata, que não apenas vende cópias ao mesmo tempo ou antes dos cinemas, mas também garante uma maior difusão.
“No Brasil, um filme de sucesso sobre a realidade do país pode ter até 11 milhões de cópias piratas”. Se considerarmos que em sala o mesmo filme teria apenas três milhões de espectadores…”
Uma das causas da existência desse mercado clandestino é o alto preço das entradas nos cinemas. No Brasil, por exemplo, uma entrada custa entre 10 e 12 dólares, a metade para estudantes e idosos “mas mesmo assim é caro em relação aos salários.
É triste, mas…
“É justo que as pessoas vejam os filmes, mesmo que seja em cópias piratas, se nós recebemos subvenções para fazer esses filmes”, sublinha Jorge Durán.
“Também não gosto da piratariia mas o problema é que o p’ublico não pode pagar. É um sistema triste, porém é uma ilusão pensar que podemos eliminá-lo porque existe uma demanda. Se as pessoas podem pagar 1 real não vão pagar 12 ou 20 reais”, afirma.
O filme, uma reivindicação
‘Proibido proibir’ busca resgatar a imagem, com freqüência deturpada, da juventude. “Quis fazer um filme sobre os jovens que conheço, os que vejo”, explica o diretor.
“Estava cansado de ver filmes, em geral brasileiros, que representam um jovem cruel e perverso. Sou professor universitário faz muitos anos e coodenador de uma escola de cinema. Tenho filhos, o caçula de 26 anos, e jamais conheci jovens violentos, brutais, perversos como os que são norma no cinema”.
Em entrevista a swissinfo em Genera, durante o Filmalamrat, Durán lamenta que se leve às telas esse tipo de imagem.
“Como se só dessem bilheteria filmes com jovens que fazem coisas extranhas. Quis mostrar outros jovens. Se os representei bem ou mal, eles é que podem responder.
Mais de vinte festivais
Não se trata de um filme juvenil, adverte Durán, mas um filme sobre jovens.
“Eu tenho 65 anos e fazer um filme sobre jovens me pareceu desde o início uma aventura arriscada. Trabalhei então com muito receio. Dizia aos colegas: ‘prefiro que o filme seja bom ou ruim, mas não ridículo. Acho que desse adjetivo nos livramos”.
De fato, não foi qualificado de ridículo pela crítica nos 25 festivais internacionais em que o filme foi exibido (San Sebastián, Biarritz, Huelva, Bogotá, Valdivia, Quito, Marselha, Toulouse, Nova York e Filmalamrat (Ginebra) entre muitos outros.
“‘É um filme de pequeno orçamento e não tinhamos verba para divulgação”, precisa Jorge Durán. Por isso o filme foi apresentado em festivais, em universidades e em bairros pobres no Brasil.
A hegemonia da televisão
Sobre o tema da divulgação de seu filme e do cinema em geral, Jorge Durán salienta que a situação no Brasil, na Argeentina ou na Espanha, por exemplo, não é muito diferente: as salas exibem principalmente filmes produzidos nos Estados Unidos e, eventualmente, produções internacionais, inclusive brasileños, mas distribuídas por companhias internacionais.
Além disso, a televisão hegemônica brasileira não tem qualquer relação com o cinema.
“As leis mudaram nesse sentido e a televisão produz, distribui, vende e exibe. Completa o ciclo e produz seus próprios filmes e também utiliza verbas públicas para fezer seus filmes”.
swissinfo, Marcela Águila Rubín, Genebra
O IX Festival Filmar na América Latina (9.11-25.11) mostrou mais de cem filmes latino-americanas.
E, 2006 registrou um total de 17.500 espectadores.
Inclui as cidades de Ginebra, Lausana, Bienne, Versoix e Ferney-Voltaire (França)
Jorge Duran:
Nasceu no Chile em 1942 e reside no Brasil desde 1973. Estudou Teatro na Universidade do Chile.
Durante sua carreira, trabalhou como ator, produtor, cenarista e diretor.
Produziu, escreveu e dirigiu o longa metragem A Cor do Seu Destino (1986), apresentado no Festival de Berlim.
Como cenarista escreveu Pixote (A Lei do Mais Fraco), Gaijin, Gaijin II, Lucio Flávio, O Sonho Não Acabou, Doida Demais, Como Nascem os Anjos, Quem Matou Pixote, Uma Onda no Ar, Jogo Subterrâneo, e o filme chileno Mi Último Hombre, premiado na Semana de la Crítica no Festival de Cannes 1996.
Adaptou O Beijo da Mulher Aranha et Nunca Fomos Tão Felizes.
Seu cenário para Jogo Subterrâneo fou selecconado para o prêmio Mont Blanc e no Festival de San Sebastián, en 2005.
O Brasil tem apenas 36 millones de espectadores, apesar de uma população quase seis vezes maior.
Calcula-se que um brasileiro vê 0,6 filmes por ano, em média.
O país tem 2.100 salas de cinema.
Nos anos 70, eram 3.500 salas e 140 filmes produzidos por ano.
Nos anos 90, com o fim da Embrafilme, as produções foram interrumpidas por quatro anos.
As produções recomeçaram com a lei de incentivos fiscais para empresas e particulares que investem em cultura.
Atualmente são producidos uns 60 filmes por ano.
As entradas em sala custam entre 10 e 12 dólares, a metade para estudantes e idosos. É caro em função do poder aquisito.
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