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Por que os migrantes brasileiros escolhem a Suíça como destino?

Safira e Paul Ammann na Suíça, em setembro. Paul Ammann

Por Safira Bezerra Ammann e Paul Ammann Passamos o mês de setembro na Suíça e aproveitamos a ocasião para verificar se continuam válidos os depoimentos dos entrevistados em 2001 – analisados em nosso livro "Brasileiros na Suíça" – a respeito das razões que determinaram a escolha da Suíça como país-destino da migração.

O resultado da verificação é positivo: as razões da escolha da Suíça foram confirmadas.

Na linguagem da teoria das migrações, os motivos da escolha de um determinado país-destino da imigração chamam-se “fatores de atração”. Dezenas de milhares de brasileiros deixam anualmente sua terra natal. Muitos são atraídos pelo Paraguai por questões de vizinhança e de afinidades culturais.

Os brasileiros descendentes dos japoneses – os chamados dekasseguis – migram para o Japão porque falam ainda a língua daquele país. Importante fator de atração dos Estados Unidos é a imagem publicada sobre aquele país na mídia, principalmente nas novelas e nos relatos de brasileiros ali residentes.

Os brasileiros que escolhem a União Européia muitas vezes entram no Continente via Portugal, atraídos pelas facilidades linguísticas, as afinidades históricas e a amizade secular que une o Brasil com aquele país.

Em relação à Suíça, a grande questão é: por que os brasileiros são atraídos por um país minúsculo, com poucos recursos naturais e escassas terras para trabalhar, geográfica e socialmente frio, culturalmente diferente, com quatro línguas oficiais e com um mercado de trabalho exíguo e extremamente disputado por trabalhadores dos países da Europa, da África, das Américas e, evidentemente, da própria Suíça.

Três foram as principais razões sinalizadas pelos migrantes brasileiros: a demanda por educação de qualidade, um trabalho com remuneração digna e constituição de uma família.

A educação como fator de atração da Suiça

A excelência do sistema educacional suíço é reconhecida por organismos internacionais que avaliam os diferentes graus do ensino. A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD na sigla em inglês) avalia anualmente o desempenho dos sistemas educacionais de seus países membros. Normalmente o desempenho do sistema educacional suíço encontra-se entre os cinco ou dez melhores da OECD.

Se um determinado critério de avalição revela um resultado inferior à média dos demais países membros, o governo toma medidas de correção, porque com uma educação apenas sofrível o país perderia a competitividade produtiva e a sobrevivência econômica.

A Suiça dispõe de apenas 12 instituições universitárias, sendo seis delas classificadas entre as 200 melhores do mundo. O Brasil conta com aproximadamente 1500 instituições universitárias, e nenhuma está classificada entre as 200 melhores.

Muitos estrangeiros procuram escolas suíças, não somente de nível superior, mas também, para os filhos, do nível básico e técnico. Um terço dos que estudam ciências exatas na Suíça é formado por estrangeiros. Face ao elevado custo de vida no país, a maioria (dos brasileiros) veio no quadro de programas de intercâmbio ou bolsas de estudo. Após a conclusão do curso muitos conseguiram obter um emprego e permaneceram na Suíça.

Razões profissionais

Migrar para conquistar um trabalho digno, corretamente remunerado e amparado pelos direitos trabalhistas, eis o sonho de muitos brasileiros. Mas a realidade nem sempre corresponde ao sonho, pois o mercado de trabalho suíço é altamente estruturado, exigente e competitivo.

Quem entra no país já com visto de trabalho, geralmente ocupa empregos de médio e alto nível. Quem procura trabalho estando na Suíça, muitas vezes começa exercendo ocupações simples, tais como as de faxineiro, babá, lavador de pratos em restaurantes e quando trabalha sem visto de trabalho, não é amparado pelas leis trabalhistas.

Após essa fase difícil, muitos brasileiros se afirmam profissionalmente, conquistam espaço e reconhecimento no mercado de trabalho. No caso dos entrevistados, todos adquiriram estabilidade econômica. Muitos brasileiros conseguem economizar – apesar do alto custo de vida – o suficiente para mandar regularmente recursos financeiros aos familiares no Brasil, contribuindo assim para a melhoria da distribuição de renda na sua pátria.

Constituição de uma família

Projetos de construção ou reconstrução do núcleo familiar aliam-se algumas vezes às insatisfações dos brasileiros com problemas econômicos e corrupções políticas.

Fator interveniente da imigração que ganha força é a descoberta do Brasil como ponto turístico e lamentavelmente como celeiro de mulheres sensuais, extrovertidas e alegres. É impressionante o número de homens suíços que passam férias no Brasil, estabelecem relações afetivas – reais ou fictícias – com as nativas e posteriormente as trazem para a Suíça. Esse expediente pode resultar na construção de uniões sólidas estáveis e bem sucedidas ou em projetos sem sustentação.

Muitas brasileiras migraram para a Suíça acalentadas pelo sonho do “príncipe encantado”, mas além do grande choque cultural, algumas, infelizmente, confrontaram-se com casamentos de subserviência, de dependência financeira, bem como de confinação ao âmbito do lar e de proibição de trabalhar fora da casa.

Conclusões

A reflexão aqui sintetizada decorre de uma série de entrevistas com brasileiros legalmente residentes na Suíça. É provável que a situação dos não legalmente residentes seja bastante diferente. Por motivos éticos não os entrevistamos. Sobre eles aparecem frequentemente relatos de casos isolados. A generalização desses casos isolados muitas vezes pertence à esfera da especulação.

Com base nas experiências analisadas podemos concluir que a imigração a qualquer país deve levar e consideração não apenas os prováveis ganhos, mas também os riscos a serem enfrentados. Para os que pretendem estudar ou trabalhar, os respectivos vistos devem ser conseguidos antes da imigração, para evitar longa e penosa fase de adaptação às leis e costumes do país de destino.

Safira Bezerra Ammann, socióloga e assistente social, é natural de Caicó-RN, Brasil.

Obras, entre outras: “Ideologia do Desenvolvimento de Comunidade no Brasil”, Editora Cortez, 1987;

“Participação Social”, Editora Cortez, 1980

Co-autora, com Paul Ammann, de: “Cidadania, Exclusão e Migração”, publicação oficial dia 18 de agosto pela Liber Livros, Brasília, 2006.

Paul Ammann, sociólogo e economista, é natural de Davos, no cantão dos Grisões, leste da Suíça.

Foi chefe da Coordenação de Desenvolvimento de Recursos Humanos do CNPq, Brasil. Foi chefe de planejamento da formação profissional do Ministério do Trabalho, Brasil. Foi fundador e primeiro chefe da Assessoria de Planejamento do SENAI de Brasília.

Foi coordenador e professor de pós-graduação na Faculdade Católica de Brasília. Atualmente é professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e consultor de empresas.

Obras: “As teorias e a prática da formação profissional” editado pelo Ministério do Trabalho, Brasil. Co-autor, com Safira Bezerra Ammann de “Cidadania, Exclusão e Migração”, Liber Livros, Brasília, 2006.

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