Prisão de Polanski divide opinião pública
A prisão do diretor de cinema franco-polonês Roman Polanski continua em destaque no noticiário internacional e divide a opinião pública, inclusive o meio artístico.
O ministro suíço do Interior, Pascal Couchepin, também responsável pela área da cultura, diz que Polanski é um “excelente artista”. A ministra da Justiça foi informada com antecedência sobre a planejada prisão do cineasta.
Desde a detenção de Polanski, no último sábado (26/9), em Zurique, a pedido dos EUA, mais de cem representantes do mundo artístico assinaram uma petição internacional em favor de sua libertação imediata e condenando sua prisão.
“Mídia, personalidades e até políticos de alto escalão pedem veementemente sua libertação. Um cenário impensável – se o homem não se chamasse Roman Polanski”, comenta o jornal alemão Welt.de, em sua versão eletrônica.
Quem tem nome e peso na indústria cinematográfica defende Polanski, mas há também vozes dissonantes dessa tendência geral em Zurique, Paris, Nova York, Los Angeles ou Varsóvia, conforme constata o jornal Tagesanzeiger.ch.
“Tenho uma filha de 13 anos. E se ela sofresse violência, nada seria como antes, também não 30 anos depois”, disse o diretor francês Luc Besson. “Existe apenas uma justiça e esta deveria ser a mesma para todos”, completou Besson, conforme noticia o diário de Zurique.
Polônia, França e EUA
Segundo a emissora de televisão norte-americana ABC News, até mesmo na Polônia, onde Polanski é um herói, apenas 25% dos entrevistados em uma pesquisa de opinião pública disseram que ele não deveria ser processado.
Na França, onde também houve fortes críticas à prisão do cineasta, 70% dos entrevistados em uma sondagem do jornal Le Figaro defenderam um processo contra o diretor franco-polonês.
Segundo a correspondente da swissinfo.ch em Nova Iorque, ao contrário de várias estrelas de Hollywood, como Martin Scorsese, David Lynch ou Woody Allen, que assinaram uma petição internacional pela libertação de Polanski, de uma forma geral, o pedido de prisão causa menos indignação nos EUA do que na Europa.
“Excelente artista”
Segundo o diário suíço Le Matin, o cineasta franco-polonês encontra-se em uma “cela rudimentar, com uma mesa, uma cama, um armário, um lavabo, um banheiro e uma televisão, e recebe cinco francos por dia”. O nome da prisão não foi revelado.
“Nós nos encontramos com ele em sua cela”, disse o cônsul da Polônia em Berna, Marek Wieruszewski, ao diário de Lausanne. “Ele nos disse não faltava nada e que o tratavam bem, o que não significa que esteja feliz com a situação”, acrescentou.
O ministro suíço do Interior, Pascal Couchepin, que também é responsável pela Secretaria Federal de Cultura, disse que defende plenamente o Estado de Direito. “Trata-se de uma questão de Direito e não de cortesia”, disse em entrevista coletiva à imprensa, ao comentar o caso Polanski.
“Considero Polanski um excelente artista. Mas, como ministro da Cultura, defendo em primeira linha as tarefas do Estado”, disse Couchepin, segundo informou a agência de notícias SDA.
Também o ministro dos Transportes e das Comunicações, Moritz Leuenberger, manifestou-se sobre o caso. “O fato de se tratar de um artista não justifica as atuais irritações. Pois em um Estado de Direito a lei é igual para todos – não importando tratar-se de banqueiros, trabalhadores ou artistas”, disse durante uma conferência sobre Turismo em Lugano (sul do país).
Ministra estava informada
A ministra da Justiça, Eveline Widmer-Schlumpf, declarou que foi informada “excepcionalmente com antecedência”, na última sexta-feira, pela Secretaria Federal de Justiça, sobre a planejada prisão, consumada no sábado.
“A Secretaria Federal fez uma exceção porque reconheceu que se tratava de um caso especial que desencadearia reações no nível político”, disse Widmer-
Schlumpf ao jornal Neue Zürcher Zeitung, na edição desta quarta-feira.
Segundo ela, independentemente disso, o processo policial-jurídico teve sequência. “Não há espaço para influência política em processos desse tipo uma vez que estejam em andamento”, disse a ministra.
Ela defendeu repetidamente a ação das autoridades suíças. Segundo a ministra, a Suíça esperaria a mesma coisa das autoridades de qualquer país, se houvesse um mandado de prisão válido, como existe contra Roman Polanski, desde o final dos anos de 1970 na Califórnia, por abuso de uma menor de 13 anos.
Segundo o jornal New York Times, o influente advogado norte-americano Reid Weingarten, teria sido contratado para a equipe de defesa de Polanski nos EUA. Ele iria tentar barrar o pedido de extradição norte-americano antes que este chegue às autoridades suíças.
Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com colaboração de Rita Emch) e agências
O crime pelo qual Polanski é acusado ocorreu em 1977. Aos 44 anos, o cineasta havia convidado uma jovem de 13 anos, Samantha Geimer, para uma sessão de fotos para a revista Vogue, na residência do ator Jack Nicholson, em Los Angeles. Segundo os autos, o diretor deu à menina champanhe e tranquilizantes, antes de pedir que tirasse suas roupas. Em uma piscina, os dois completaram o ato sexual. Posteriormente Geimer declarou que teve medo do cineasta e por isso se sujeitou ao seu assédio.
O cineasta contestou, na época, a versão da menina, mas confessou ter tido relações sexuais com a menor de idade. Ele foi preso e liberado mediante pagamento de 2.500 dólares de fiança. Durante as investigações, Polanski foi detido novamente, dessa vez por 42 dias. Pouco depois, embarcou em um avião para Londres e depois para Paris, onde vive até hoje com sua esposa, a atriz Emannuelle Seigner. Ele nunca mais retornou aos EUA, nem para receber o Oscar em 2003 pelo filme “O Pianista”.
Polanski foi preso no último sábado (26/9), quando desembarcou no aeroporto de Zurique para ser homenageado por sua obra no Festival de Cinema local.
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