Promessa do balé brasileiro conquista prêmio na Suíça
Uma das maiores promessas do balé clássico brasileiro acaba de ganhar da Suíça um incentivo que praticamente assegura o futuro de sua carreira artística.
Aos 16 anos, a bailarina carioca Mayara Magri conquistou em fevereiro o cobiçado Prix de Lausanne, oferecido anualmente na cidade suíça do mesmo nome a jovens dançarinos entre 15 e 18 anos, com bolsas de estudo nas mais prestigiadas companhias de balé do mundo.
O desempenho de Mayara em Lausanne foi expressivo. Além de escolhida para o primeiro lugar pelo júri especializado por sua performance no balé “Coppélia”, ela também foi eleita a melhor bailarina pelo público suíço. Como conseqüência de seu sucesso, ainda este ano a jovem carioca nascida e criada no bairro da Tijuca embarca para um período na Inglaterra, onde vai estudar na Royal Ballet School e fazer parte do corpo de bailarinos da incensada Royal Academy of Dance de Londres.
Para vencer em Lausanne, Mayara competiu com outros 75 bailarinos (43 meninas e 32 meninos) de 19 países entre os dias 1 e 6 de fevereiro. A experiência na Suíça e a felicidade pela conquista não sairão de sua memória: “Eu já tinha recebido o prêmio do público e achei que não poderia receber duas premiações importantes no mesmo concurso”, revela.
Quem esteve em Lausanne conta que a empatia entre Mayara e o público suíço foi grande e se deu de forma imediata: “A Mayara é uma pessoa simples, e eu acho que foi essa atitude dela que conquistou o público suíço. Além de ser uma boa bailarina e ter feito uma apresentação maravilhosa, ela sempre foi muito simpática com todas as pessoas de todas as nacionalidades. Ela ficou amiga de todo mundo, é uma menina realmente muito carismática”, afirma a professora de balé clássico de Mayara, Nelma Darzi.
A “interferência” da Suíça na carreira de Mayara já pôde ser sentida na origem da trajetória que a levou a disputar o Prix de Lausanne. Foi no Festival de Dança de Joinville, cidade fundada por migrantes suíços no estado de Santa Catarina, que a carioca conquistou o título nacional que a habilitou a participar de um concurso realizado em Córdoba, na Argentina. Lá, competindo com outras bailarinas e bailarinos sul-americanos, Mayara venceu e conseguiu a bolsa para ir à Suíça.
Trajetória vitoriosa
A ligação de Mayara com a dança começou aos oito anos de idade, quando ganhou uma bolsa de estudos na escola Petite Danse. Oriunda de uma família distante do perfil econômico predominante no mundo do balé clássico, Mayara pôde seguir seus estudos artísticos graças ao projeto social Dançar a Vida, que atende a crianças e adolescentes moradores das comunidades carentes da Tijuca.
Desde então, o talento da jovem bailarina só fez florescer. Aos onze anos, Mayara venceu o primeiro concurso, e hoje ostenta um currículo de títulos que inclui três competições internacionais e mais de 50 competições no Brasil. Tanto sucesso, é claro, vem acompanhado de muito esforço: Mayara treina várias horas por dia de segunda a sábado.
Enquanto aguarda a ida para Londres, Mayara continua sua rotina de fortes treinos e participações em concursos internacionais. Este mês, ela vai apresentar a coreografia do Cisne Negro durante um concurso em Nova York, nos Estados Unidos. Prova da sorte da jovem carioca, o personagem ganhou destaque após o filme homônimo estrelado por Natalie Portman, vencedora do Oscar de melhor atriz: “A gente treina todos os dias para atingir a perfeição”, diz Mayara, com ar de quem compreende o sofrimento da personagem do filme.
Oportunidade
“A minha principal dificuldade foi financeira, porque aula de balé é muito caro para a realidade que a gente vive”, diz Mayara. Ela, no entanto, pôde continuar a dançar graças à oportunidade dada pelo projeto social Dançar a Vida, criado em 1999 pela professora Nelma Darzi, que também é diretora artística da escola de dança Petite Danse
Em seu primeiro ano, quando contava, sobretudo, com o trabalho voluntário de professores, o projeto proporcionou a abertura de vagas em cursos de dança para 25 crianças entre oito e dez anos. Atualmente, o projeto atende a 169 alunos, entre crianças e adolescentes estudantes das escolas municipais do Rio de Janeiro e moradores das comunidades da Tijuca, do Alto da Boa Vista e da Barra. Entre as beneficiadas, está a comunidade Mata Machado, onde nasceu e cresceu Mayara.
Os jovens beneficiados pelo projeto fazem aulas diárias de balé clássico, dança contemporânea, jazz, street dance e técnica teatral com a duração de uma hora e meia. O curso oferecido é dividido em três módulos de ensino, com duração de três anos cada módulo. O projeto oferece também o Curso Técnico de Formação Profissional para Bailarinos, que é reconhecido pelo Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro.
Anualmente, o projeto estimula a participação dos jovens em diversas apresentações públicas e concursos de dança, para que possam colocar em prática o que aprenderam em sala de aula: “As apresentações públicas são muito importantes para que eles possam amadurecer sua técnica e desenvolver, sobretudo, a parte artística”, afirma Nelma Darzi, antes de concordar, sem disfarçar o orgulho, que este é o melhor caminho para que despontem nas comunidades de menor poder econômico outros talentos como o da jovem bailarina Mayara Magri.
Criado em 1973, o Prix de Lausanne é hoje considerado o principal prêmio mundial para jovens bailarinos.
O concurso anual realizado na capital do cantão suíço de Vaud é julgado por um júri composto por personalidades de renome mundial na dança e tem como principal objetivo, segundo seus organizadores, “descobrir dançarinos excepcionalmente talentosos vindos do mundo inteiro”.
Ausência
A edição de 2011 do Prix de Lausanne foi a primeira sem a presença de seu fundador, Philippe Braunschweig, falecido no ano passado.
Todo o evento foi realizado em sua homenagem. Vários amigos de Braunschweig foram ao palco manifestar sua admiração pelo suíço, entre eles John Neumeier, conhecido coreógrafo e diretor do Balé de Hamburgo, na Alemanha.
Rio de Janeiro
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