Psicorrealismo em exposição na Suíça
Quem estiver por perto pode visitar, até dia 19 de maio, a exposição intitulada Psicorrealismo - Uma visão pessoal do paulista Adalardo Nunciato Santiago - na Fundação Brasilea, em Basileia (noroeste).
O vernissage foi na quinta-feira (14), em presença do artista, que apresenta 28 quadros pintados entre 2004 e 2011.
Santiago, como é conhecido, explica que o conceito de Psicorealismo surgiu porque as pessoas normalmente procuram classificar os artistas, rotulando suas produções. Ele diz que poderia ser considerado um pintor cubista, surrealista ou impressionista, mas resolveu eleger um nome novo: Psicorealista. “Eu crio coisas essencialmente minhas, que tem origem nas minhas convicções, por isso o psico. São criações fruto de uma realidade por mim apreendida, transformada e trabalhada por meu sistema de valores, daí vem o realismo”.
Percepções
Ele diz que o artista faz tudo que vem à cabeça. “A criação, a inventividade, desconhecem limites. Para mim, o ato de pintar é um processo de autoconhecimento”. Suas obras tem muito conteúdo espiritual, religioso, ecológico e de informações adquiridas nas suas vivências e das suas memórias. “Definir a arte é criar limites, prender o artista e tirar sua liberdade, por isso ela deve ser o mais livre possível. Eu procuro desinventar a arte, porque ela não é para ser entendida e sim sentida, seu primeiro impacto é emocional”, avalia.
A exploração de cores e a harmonia são fortemente percebidas nas suas telas. Santiago já foi colecionador de tapetes persas, objetos que tem uma harmonia e bom balanço de cores, o que segundo ele, influenciou bastante no seu trabalho.
Cores e poluição
Para o presidente da Fundação Brasilea, Rafaello Tondolo, a arte é inteligência artística e emocional. Ele revela ter gostado muito da exposição, mas assume que precisa de mais tempo para olhar os detalhes e apreciar melhor o conjunto da obra. “Eu vejo a aquisição de obras de arte como um investimento emocional e não financeiro. Para mim o quadro mais psicorealista é o do folder de apresentação da exposição, mesmo se representa a minoria da obra”, pondera.
Representando a Embaixada Brasileira, Monica Barros estava percebeu que as cores fortes apelam ao emocional, fazendo com que as pessoas reflitam a partir das cores e formas. Monica elegeu o quadro denominado ‘Vozes da natureza’ como o mais representativo nesse sentido. “Ele é bastante profundo, ainda mais num momento em que vivemos catástrofes naturais como a do Japão, simbolizando bem o momento atual”, reflete.
Cores e poluição Outra obra destacada por ela é ‘O parque’, que, segundo ela, além da representatividade, remete às notas musicais. “É um trabalho bastante interessante, muito bom e com uma linguagem bem própria que remete ao emocional das pessoas”, conclui. A fotógrafa Maria de Lourdes, nascida na Nicarágua, também compareceu à abertura da mostra de Santiago.
Ela viveu 11 anos em São Paulo e diz ter gostado do que viu. “Ele desperta emoções que estão intimamente ligadas às referências pessoais da gente. Penso que a maioria dos artistas pretende levantar algum tipo de inquietude no observador”.
Por ter vivido no Brasil, a nicaraguense observou referências brasileiras na sua obra, especialmente nas cores. “Apesar dele ter vindo de São Paulo, que é uma cidade poluída, há uma vibração muito peculiar ao brasileiro na sua obra: o vermelho remete à política, mas também pode remeter à violência e à paixão. E ele sobrepõe esse vermelho em cima do cinza, que faz lembrar a poluição de uma cidade industrializada. Então ele consegue transmitir esta paixão do brasileiro, mesmo vindo de uma cidade violenta e poluída”, analisa.
Santiago nasceu em Franca, estado de São Paulo. Em 1970 ingressou na faculdade de Comunicação Social, cursando Jornalismo, Publicidade, Propaganda e Relações Públicas, na Universidade de Brasília (UnB).
Ele iniciou suas incursões pelo mundo das artes em Estocolmo (Suécia), em 1978, fazendo experiências com relevo em madeira. Como trabalhava para o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, viajava bastante .
Autodidata, passou a fazer esculturas de bronze em Praga (República Tcheca), nos anos 80.
O trabalho em pintura começou quando ele retornou ao Brasil, em 1986, pois percebeu que fazer trabalhos em bronze era muito caro e inviável. Então resolveu mudar para a pintura, usando sua intuição.
Seu trabalho artístico começou a ficar mais conhecido e profissional por volta de 93-94, época em que fez uma exposição bem sucedida em Zurique. “O pessoal gostou muito, tanto que vendi 15 dos 24 quadros expostos”, relembra.
Além do Brasil, já viveu na Suécia, Índia, República Tcheca, Japão e atualmente mora e trabalha para nas Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra (Suíça).
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