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Quadrinhos alucinógenos

Caricatura da série "Cannabis Cartoons" sobre efeitos do consumo da maconha. www.seyfried-berlin.de

O desenhista de histórias em quadrinhos e escritor alemão Gerhard Seyfried trocou a vida agitada de Berlim pela tranqüilidade provinciana de Solothurn, na Suíça.

O “caricaturista dos maconheiros” é também autor de um livro de 600 páginas sobre massacre alemão cometido na África em 1904.

Para muitos amantes da “Cannabis Sativa” ele é um mito. Para jovens alternativos e bem-humorados de Berlim, ele é o cronista do dia-a-dia.

Seus cartazes estão em quase todas as repúblicas de estudante, bares alternativos ou em casas ocupadas por jovens anarquistas ou esquerdistas na capital da Alemanha.

Punks, policiais, manifestantes, hippies, viciados em drogas, roqueiros, banqueiros e fumantes de maconha. Esses são alguns dos personagens das histórias em quadrinhos desenhadas por Gerhard Seyfried, artista e escritor, 56 anos e vivendo atualmente em Solothurn, 15 mil habitantes, a pacata capital do cantão suíço com o mesmo nome.

Vida na Suíça

“Vim para cá em na metade de 2003, pois já não agüentava mais o trânsito infernal nas ruas de Berlim e precisava de tranqüilidade para escrever o meu último livro”, explica Seyfried. “Outro motivo foi o fato de ter bons amigos na cidade, como o pessoal da editora Nachtschaten, que publicou meu livro com os cartazes sobre a maconha”.

“Nachtschaten” (Sombra da Noite, em português) é a única editora na Europa especializada em temas ligados às drogas e seu consumo. Seyfried, que fuma a erva alucinógena há quarenta anos, escolheu a pequena empresa em Solothurn para colocar num livro todos os cartazes desenhados pelo artista sobre o tema nos últimos anos.

A Suíça também foi o destino escolhido pelo desenhista depois da sua estadia de pesquisas na Namíbia. Na antiga colônia africana alemã (1884 a 1915), Seyfried realizou pesquisas de campo para escrever um livro de 600 páginas sobre o massacre cometido pelo exército alemão ao reprimir a revolta do povo dos Hereros em 1904. Mais de 100 mil pessoas morreram no conflito.

O livro “Herero” foi um sucesso, tendo vendido os sete mil exemplares da primeira edição.

Novos projetos

Apesar do sucesso como quadrinista, Gerhard Seyfried não consegue viver do trabalho artístico. “Nos países de língua alemã a cultura dos quadrinhos é muito fraca e por isso minha hora de trabalho não vale muito”.

Por essa razão, Seyfried decidiu investir na literatura. “E também para tentar algo diferente”. No pequeno apartamento em Solothurn, que divide com outro colega escritor alemão, o bávaro escreve sua segunda obra.

“Trata-se da história do movimento de guerrilha urbano nos anos 70 em Berlim”. A obra será publicada em agosto pela Editora Eichborn e já tem nome: “A estrela negra dos Tupamaros”.

“Os Tuparamos, movimento guerrilheiro no Uruguai durante o período da ditadura militar, inspirou a mesma agitação nos meios anarquistas em Berlim, o chamado Movimento 2 de Julho”.

Partida da Suíça

Gerhard Seyfried nasceu em 15 de março de 1948 em Munique. Na infância ele gostava de brincar nas ruínas da cidade, de onde vem afinal nasceu seu interesse por assuntos militares e políticos. Em outubro de 1967, o bávaro começou a estudar artes gráficas. Dois anos depois, ele foi expulso da universidade, por ter participado de greves estudantis nesses anos de revolta.

Depois de colaborar com várias revistas anarquistas e de esquerda em Munique, Seyfried decidiu em 1976 ir para Berlim, a cidade cercada pelo famoso muro e paraíso para jovens alternativos, artistas ou aqueles que recusavam a servir o exército alemão (Berlim tinha na época um caráter especial)

Em Berlim, Gerhard Seyfried iniciou uma carreira de quadrinista, onde ele retrata com humor diversos temas urbanísticos.

Perguntado se pretende continuar na Suíça, o artista se mostra resignado: – “Infelizmente a vida aqui é muito cara para um artista que ganha tão pouco dinheiro como eu”.

swissinfo, Alexander Thoele

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