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Samba “suíço” marca presença no carnaval do Rio de Janeiro

Foto do Gegê cortesia

Um dos acontecimentos mais badalados do carnaval brasileiro nos últimos anos já conta com a participação da Suíça.

A Fundição Progresso, uma famosa casa de shows situada no bairro carioca da Lapa, realiza a quinta edição de seu Concurso Nacional de Marchinhas de Carnaval.

Além de atrair compositores de todo o Brasil (foram 3.148 marchinhas inscritas nas quatro edições anteriores), o concurso traz como novidade este ano a participação de Gesiel Cruz, mais conhecido como Gegê do Cavaco, um músico brasileiro que vive e trabalha em Zurique.

“Eu me considero um compositor musical, um sambista e percussionista. Sou do mundo, sou artista”, se define Gegê, que vive em Zurique desde 1998: “Até 2007, vivi somente da música. Tive o Pagode do Gegê durante oito anos, e foi um evento bastante conhecido. Era sempre aos domingos e vinha gente de todo lugar”, conta.

Antes de viver na Suíça, Gegê fez escola de música durante cinco anos em Vitória, no Espírito Santo, onde era integrante de um grupo de pagode chamado Samba Sim, Violência Não. Na década de noventa, chegou a gravar cinco CDs no Brasil e a participar de alguns festivais na Europa, incluindo o consagrado Festival de Montreux, na Suíça.

A marchinha escrita por Gegê para o concurso da Fundição Progresso, batizada como “Marcha do Boi”, obedece ao estilo irreverente e debochado desse tipo de música carnavalesca: “Usar chifre hoje é moda/No início ele incomoda/Com o tempo você vai gostar”, diz o refrão.

A música de Gegê acabou não ficando entre as dez finalistas que irão se apresentar na Fundição Progresso no dia 7 de fevereiro do ano que vem. Sua participação, no entanto, foi elogiada: “É muito importante a participação de um músico brasileiro que vive no exterior”, afirma Paula Gomes, da organização do Concurso de Marchinhas. Gegê, por sua vez, já avisou que não desiste: “Com certeza, no ano que vem estaremos lá de novo, participando mais uma vez”.

Visão crítica

Atualmente, além do tempo que dedica à música, Gegê atua em outra frente, como editor da revista Brasileira, voltada para a comunidade brasileira na Suíça. O compositor deixa transparecer alguma decepção quanto ao espaço hoje ocupado pela música brasileira na Suíça: “Acho que a boa música teve seu espaço muito reduzido, e esse reflexo chegou aqui na Europa. A música vulgar infelizmente também chegou por aqui, roubando a cena e com isso desvalorizando o trabalho de alguns músicos”, opina.

Gegê considera que os músicos brasileiros que residem na Suíça têm o dever de divulgar a música de boa qualidade produzida em seu país: “Sempre vai haver espaço para a boa música, mas nós, brasileiros que aqui estamos, é que temos de fazer chegar aos suíços a música de boa qualidade que temos no Brasil. Não tem suíço que vá ao Brasil e não volte encantado com a nossa música”.

O músico critica aquilo que qualifica como “a banalização musical” do Brasil: “Hoje já não se faz um carnaval com músicas saudáveis como nos anos setenta, quando as bandas tocavam músicas próprias para o carnaval, as chamadas marchinhas. Hoje o que acontece é uma continuação daquilo que a mídia nos empurra goela abaixo o ano inteiro. Mudar isso seria também uma questão democrática onde toda a música, principalmente a boa música, teria seu espaço”, diz.

Homenagem

Em 2010, o 5º Concurso de Marchinhas da Fundição Progresso vai prestar uma homenagem a João Roberto Kelly, conhecido como o “rei das marchinhas” e autor de clássicos como “Cabeleira do Zezé” e “Maria Sapatão”, entre muitos outros. É a primeira vez que o concurso irá celebrar uma pessoa em vida, já que nas edições anteriores os homenageados foram Emilinha Borba (2006), Chiquinha Gonzaga (2007), Lamartine Babo (2008) e Carmem Miranda (2009).

A historiadora Rosa Maria Araújo é a presidente do júri do Concurso de Marchinhas para o carnaval de 2010, comandando uma equipe que inclui também o poeta Chacal e o músico João Cavalcanti, do grupo Casuarina, entre outros. Após a definição dos dez finalistas pelos jurados, a marchinha vencedora será escolhida em votação ao vivo, feita pelo público do programa Fantástico da Rede Globo, que transmitirá a grande final no dia 7 de fevereiro. O vencedor levará um prêmio de R$ 10 mil em dinheiro, o segundo colocado ganhará R$ 5 mil e o terceiro R$ 3 mil.

Uma atividade faz parte do concurso e já virou tradição é o desfile de rua, onde as marchinhas concorrentes são executadas por um carro de som que percorre as ruas da Lapa. No ano que vem, o desfile acontecerá no dia 16 de janeiro, e a expectativa da organização do concurso é que milhares de foliões marquem presença, assim como aconteceu em 2009.

Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro, swissinfo.ch

Além de participar do chamado Grande Baile da Final, no próximo dia 7 de fevereiro, as dez marchinhas classificadas como finalistas do 5º Concurso de Marchinhas da Fundição Progresso farão parte de um cd que será lançado antes do carnaval. Entre as classificadas, entre outras, estão marchinhas que trazem muita irreverência, como “Costureiro Divinal”, que fala da chegada do estilista Clodovil Hernandez, falecido este ano, ao céu. Outra concorrente é “O Avião do Sarkozy”, que trata da tentativa de venda de aviões de caça Rafale, construídos pela França, ao Brasil.

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