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Sebastião Salgado e Beto Marubo: “a Amazônia dá mais dinheiro com as árvores em pé”

Beto Marubo (à esq.) e Sebastião Salgado, durante entrevista para SWI no MAAG Halle, em Zurique (27.06.2023)
Beto Marubo (à esq.) e Sebastião Salgado, durante entrevista para SWI no MAAG Halle, em Zurique (27.06.2023). Carlo Pisani/SWI

O fotógrafo de fama internacional esteve em Zurique junto com o líder indígena Beto Marubo para relatar o estado das coisas na Amazônia. Em seis meses de governo Lula, o maior desafio é reconstruir a estrutura de fiscalização e controle federais, desmontada nos quatros anos de governo Bolsonaro.

‘Terra arrasada’ é o termo mais preciso para descrever a situação dos órgãos federais brasileiros responsáveis pelas nações indígenas (a FUNAILink externo) e pelo meio-ambiente (o IBAMALink externo), após quatro anos de desmontes no governo Jair Bolsonaro. Esse é também o ponto de partida da conversa com o líder indígena Beto Marubo e com o fotógrafo Sebastião Salgado, que discutiu os desafios do governo Lula para a Amazônia.

Marubo e Salgado estiveram em Zurique no final de junho para participar de um evento em benefício da Associação para os Povos AmeaçadosLink externo (GfBV, sigla de Gesellschaft für Bedrohte Völker, em alemão), por ocasião da exposiçãoLink externo de suas imagens da Amazônia atualmente em cartaz na cidade. A GfBV é uma plataforma que conecta diversas organizações não-governamentais que atuam pelos direitos de povos indígenas no mundo inteiro, e o evento foi patrocinado pela seguradora Zurich.

Segundo Salgado, esses encontros no estrangeiro têm sido extremamente importantes para aumentar a pressão sobre governos, consumidores, e empresas multinacionais, para coibirem o seu lado na cadeia econômica que movimenta os frutos do extrativismo ilegal (ouro, minérios, madeira, carne) no mercado internacional.

As pequenas dimensões da Suíça, aliás, contrastam com o volume de capital relacionado à exploração da Amazônia que passa pelo país. Cinco das maiores refinadoras de ouro do mundo encontra-se na Suíça. Já o maior banco suíço, o UBSLink externo, criou um banco de investimentos junto com o Banco do Brasil para financiar o agronegócio brasileiro, contando em sua carteira empresas (Marfrig, de carne; Brasil Agro, de soja) acusadas de promoverem o desmatamento da Amazônia.

SWI swissinfo.ch disponibilizou a entrevista completa com Sebastião Salgado e Beto Marubo no canal de YouTube da swissinfo em português. Assista AQUILink externo.

Uma câmera na mão, e a mão na massa

Sebastião Salgado não precisa de nenhuma publicidade para o seu trabalho, conhecido e premiado internacionalmente há décadas. São imagens que viajaram o mundo expondo as condições precárias de trabalhadores, migrantes, refugiados; populações arrasadas por guerras e exploração econômica; e a Amazônia, claro.

O fotógrafo não é apenas um ativista da palavra e da imagem, tendo botado a mão na massa em projetos de recuperação da Mata Atlântica. Além disso, Salgado aproveita de seu amplo reconhecimento para avançar as questões mais urgentes sobre a atual emergência climática, e mais especificamente a destruição das florestas tropicais e as ameaças contra os povos indígenas na região, assolados pelo avanço de madeireiros, garimpeiros, agronegócio, mineradoras, traficantes, caçacadores e pescadores ilegais – e, de outro lado, pelo descaso dos governos locais e federal, quando não pelo conluio destes com os invasores.

Beto Marubo, por sua vez, conhece muito bem todas essas ameaças, que também grassam em sua região natal, o Vale do Javari. Habitat da maior quantidade de tribos originais e ainda sem contato com o mundo (são 16 comunidades, segundo estimativas mais recentes), a região faz ainda fronteira  com Peru e Colômbia, o que a torna uma rota cobiçada não só pelo extrativismo ilegal como para o tráfico de drogas, armas, e animais.

Foi lá que o indigenista Bruno Pereira – treinado, aliás, por Beto Marubo nas culturas e línguas do Vale do Javari – e o jornalista inglês Dom Phillips foram assassinados há exato um ano. De lá para cá, quase nada mudou, segundo Marubo. Mas ele salienta que isso é porque o governo federal ainda está tendo que reorganizar as agências que foram praticamente desmontadas durante o governo Bolsonaro. Além disso, o governo Lula enfrenta uma resistência feroz no Congresso Nacional, onde a bancada do agronegócio e dos proponentes do desmatamento como forma de “progresso” é bastante numerosa.

Estando na linha de frente, Beto Marubo tem sua cabeça a prêmio no Vale do Javari, e vive hoje em Brasília. Suas visitas à região tornaram-se mais esparsas não apenas pelo temor à sua vida, mas pelos altos custos e logística complexa para garantir sua segurança quando em trânsito.

Na entrevista concedida à SWI, Salgado e Marubo não se limitaram a expor as mazelas da floresta, e elencaram as diversas alternativas já existentes de criar riqueza e empregos de maneira sustentável. “Dá para fazer muito mais dinheiro do que este modelo retrógrado do agronegócio, e sem derrubar uma única árvore”, diz Salgado. 

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