Soldados suíços na Legião Estrangeira
![Troupe de légionnaires marchant dans le désert en 1905.](https://www.swissinfo.ch/content/wp-content/uploads/sites/13/2021/09/8e56b638778ddf30c30524e9e509f357-legion-titel-data.jpg)
Fundada em 1831, a Legião Estrangeira, tropa de elite francesa, atraiu milhares de suíços desde sua criação, incluindo figuras proeminentes do mundo da cultura e da política.
A Legião Estrangeira foi criada em 1831 por Luís Filipe, rei da França. Derrubado pela Revolução de Julho de 1830, seu antecessor Carlos X fugiu para o exílio e abdicou o trono, pondo fim a um reinado cujas tendências absolutistas haviam deixado o povo furioso e a sociedade francesa profundamente dividida. A revolução havia atraído um grande número de radicais de toda a Europa, que agora permaneciam na França, representando, junto a certos setores do exército, uma ameaça para o novo monarca. Foi para manter esses homens à distância, ou mesmo para empregá-los “produtivamente”, que a Legião Estrangeira foi criada em março de 1831.
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O decreto real começava com as seguintes palavras: “Será formada uma Legião composta por Estrangeiros. Esta Legião será chamada de Legião Estrangeira”. Essa corporação deveria ser posicionada apenas fora do território francês. Sua primeira oportunidade não demorou muito a chegar: em junho de 1830, Carlos X havia se lançado à conquista da Argélia. Mas os soldados enfrentavam uma resistência ferrenha, que transformou o empreendimento numa armadilha na qual o exército ficou preso. Entre março e setembro de 1831, cinco batalhões foram enviados para a Argélia sob o comando do suíço Christophe Antoine Jacques Stoeffel. Esse oficial, originário de Turgóvia, havia servido por anos o regimento suíço sob Napoleão e ficou conhecido como o primeiro comandante da Legião Estrangeira.
![Soldats suisses en uniforme rouge](https://www.swissinfo.ch/content/wp-content/uploads/sites/13/2021/09/e01ec3d678f0b6e70848a70d60b2fb28-schweizerregiment-data.jpg)
Nos primeiros anos, os suíços, com sua longa tradição militar em exércitos estrangeiros, estavam fortemente representados. Até 1927, eles podiam até mesmo se alistar legalmente na corporação: embora desde 1859 fosse proibido alistar-se em exércitos que não fossem o suíço, a proibição não se aplicava à Legião Estrangeira, que era considerada uma tropa nacional e não um exército mercenário. Foi apenas em 1927 que a modificação do Código Penal Militar sancionou essa escolha, e de forma bastante dissuasiva: as punições incluíam penas de prisão e assunção dos custos do julgamento, independentemente do caso.
![Dessin représentant un légionnaire français en 1852.](https://www.swissinfo.ch/content/wp-content/uploads/sites/13/2021/09/d3fb5ff9ea4e0a0168ff59837847cdff-uniform-1852-data.jpg)
Isso não impediu, contudo, que muitos suíços partissem para a França a fim de ingressar na Legião Estrangeira, fugindo de processos judiciais, procurando escapar da pobreza ou alistando-se “por melancolia”, como argumentou Alma Mollet-Zysset, mãe de um acusado, para explicar a ação de seu filho às autoridades. Melancólico ou não, e apesar dos apelos de sua mãe, Arthur Mollet foi condenado. Ele foi sentenciado a 14 meses de prisão, teve que arcar com os custos do processo e foi expulso do exército suíço.
Muitos candidatos também se alistavam pela aventura, encorajados pelo exemplo de legionários famosos como Friedrich Glauser. Alistando-se na Legião Estrangeira em 1921, esse escritor relatou mais tarde sua experiência num romance. Houve até mesmo um ex-conselheiro federal que vestiu o tradicional boné branco após ter sido derrotado nas eleições: Ulrich Ochsenbein, de Berna, foi um dos sete primeiros membros do Conselho Federal Suíço. Após ser derrotado nas eleições de 1854, ele decidiu ir para a França juntar-se à Legião Estrangeira. Na corporação, foi colocado na liderança de um comando e ascendeu até o cargo de general de brigada.
![Portrait d un homme en uniforme du 19e siècle.](https://www.swissinfo.ch/content/wp-content/uploads/sites/13/2021/09/925e9d9e9344aca01337c10914483780-ochsenbein-data.jpg)
Hoje, estima-se que a Legião Estrangeira tenha recebido entre 40.000 e 80.000 cidadãos suíços desde sua criação. O número é agora muito menor do que nos primeiros anos. Ainda assim, esse corpo de elite permanece um tema relevante no século XXI – um tema literário, cinematográfico e jornalístico, mas também um tema político. Em um momento no qual o legado do colonialismo está sendo colocado em questão, as ações da Legião Estrangeira também são escrutinadas. Será que o mito dessa tropa, supostamente a mais resistente do mundo, vai acabar diminuindo? Os legionários, por sua vez, sem dúvida ainda têm muitas histórias para contar…
![Fort Willem](https://www.swissinfo.ch/content/wp-content/uploads/sites/13/2020/03/434e52d3ced5c44cc47bc96cfd1873d2-collectie_tropenmuseum_het_fort_willem_i_met_een_begraafplaats_op_de_voorgrond_tmnr_3728-442-data.jpg)
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Mercenários suíços ajudaram a expandir o colonialismo pelo mundo
Adaptação: Clarice Dominguez
Adaptação: Clarice Dominguez
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