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Suíços do estrangeiro ainda votam muito pouco

Keystone Archive

A participação dos suíços do estrangeiro nas votações e eleições atinge, em média, 18%. Essa proporção vem aumentando mas ainda é menos da medade da média nacional.

Apesar da introdução do voto por correspondência, ele é mais complicado do estrangeiro.

“Eu não voto mas leio a imprensa suíça.” Estabelecido desde 1968 na província de língua francesa do Quebec, no Canadá, Gérard Bochud não vê utilidade em exercer seus direitos cívicos.

Para René Weiss, desde 1981 no Burkina Fasso, é o contrário: “me interesso muito pela política e sempre participo, menos nas eleições legislativas de outubro porque recebí o material de voto … em setembro. Mas o problema vem da Suíça, não do Burkina.”

O correio pode ser um problema, como foi o caso na América do Sul para Jean-François Salberg:” com o mal funcionamento do correio colombiano, foi praticamente impossível enviar meu envelope de voto a tempo. Desde que mudei para o Equador, não tive mais esse problema.”

Direito adquirido recentemente

Desde 1° de julho de 1992, os suíços expatriados têm a possibilidade de votar por correspondência. Anteriormente, era necessário estar presente no município de orígem para exercer os direitos cívicos.

Atualmente, dos cerca de 600 mil suíços do estrangeiro (três quartos têm dupla nacionalidade), 82.700 exercem seus direitos políticos, a nível federal.

Georg Stucky, presidente da Organizaçao dos Suíços do Estrangeiro (OSE) e ex-deputado federal, estima que essa cifra “corresponde a uma média de 18,2% das pessoas autorizadas a votar”.

Dificuldades práticas

A taxa de participação varia muito segundo o país de residência e os temas para os quais os cidadãos são chamados a votar. Na Suíça, os eleitores votam não somente nas eleições mas também em questões relevantes nos planos federal, estadual e municipal.

Em 2002, a participação chegou a 30,1% entre os suíços da Itália, 22,6% entre os residentes na Alemanha 18,9% entre os suíços da França.

Gabrièlle Keller, responsável da informação na OSE afirma que “quanto mais os suíços do estrangeiro vivem perto da Suíça, mais ativos são politicamente”.

Em outras regiões, como na América Latina, muitos são binacionais de segunda ou terceira geração e não falam mais as línguas oficiais suíças (alemão, francês, italiano, romanche). “Eles são menos ativos, com participações entre 5 e 11% dependendo do país”, acrescenta Gabrièlle Keller.

Temas difíceis

Os suíços do estrangeiro, também conhecidos como a 5a Suíça, são mais interessados em temas como a seguridade social ou as relações com a Europa e o mundo. Os temas técnicos e de política nacional não são muito mobilizadores, como também acontece no plano interno.

“Nós votamos raramente, explica Jean-François Salberg, do Equador. Quando trata-se de uma votação, os temas são freqüentemente muito técnicos ou limitados. Nas eleições, as informações sobre os candidados são insuficientes. Então é preciso votar num partido, o que é frustrante.”

Mas os suíços do estrangeiro dever ter muita motivação porque precisar solicitar o material de voto, o que é um obstáculo a mais.

E por que não enviar sistematicamente o material de voto a todos os suíços do estrangeiro? “Custaria muito caro, responde Gabrièlle Keller. Atualmente, enviar o material pelo correio já custa cerca de 1 milhão de francos”.

Participação aumenta

Mesmo assim a participação aumenta. Desde 1999, 16 mil eleitores passaram a votar. “Esperamos contar brevemente com 100 mil inscritos nos registros eleitorais”, afirma Georg Stucky, ou seja, o limite indispensável para lançar uma iniciativa popular ou um referendo na Suíça.

No ano passado, a OSE lançou uma campanha para “aumentar o peso político da 5a Suíça, através de clubes e outras associações de expatriados.

Um passo também foi dado pelas autoridades e as prefeituras foram autorizadas a enviar com mais antecedência o material de voto aos suíços do estrangeiro, ou seja, 5 a 6 semanas antes de uma votação ou eleição. Dentro do país, o prazo é de 3 a 4 semanas.

Voto eletrônico

A OSE reivindica a introdução do voto eletrônico. Para isso, seria necessário fazer um cadastro único dos eleitores expatriados, algo quase impossível devido o princípio do federalismo.

Em matéria de direitos políticos, a competência é dos Cantões (estados) e a Confederação (a esfera federal) não pode exigir um recadastramento.

“O problema também é técnico porque seria muito complicado reunir os dados das 3.600 zonas eleitorais existentes na Suíça”, afirma Gariella Brodbeck, jurista no Serviço dos Suíços do Estrangeiro.

Experiências de voto por internet foram feitas em Genebra, Neuchâtel e Zurique, mas a generalização do voto eletrônico não é prevista antes de 2010, segundo a Chancelaria Federal.

Mesmo assim, o problema da participação não seria de todo resolvido porque o acesso à Internet não é garantido em todos os países.

“Tenho a impressão que a 5a Suíça também é a 5a roda do carro e, francamente, não sei se isso pode mudar”, conclui Jean-François Salberg, residente no Equador.

swissinfo, Isabelle Eichenberger
tradução, Claudinê Gonçalves

Os suíços do estrangeiro podem votar pessoalmente no município em que estão registrados ou, desde 1992, por correspondência.
Para votar, precisam estar inscritos no município de origem ou onde residiram.

– 600 mil suíços vivem no estrangeiro, ou seja, 10% da população total.

– Cerca de 75% deles têm dupla nacionalidade.

– Em 1999, 67 mil votaram.

– Em 2003, foram 82.700 votantes, o equivalente ao cantão de Neuchâtel.

– Isso representa 18,2% das pessoas aptas a votar.

– Na Suíça, a participação média nas eleições legislativas de outubro último foi superior a 45%.

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