Telefone que salva vidas
"Mão Estendida" é um serviço telefônico de emergência que já existe há 49 anos na Suíça. Em 2005, 210 mil aconselhamentos foram dados através do número 143 ou endereço "ww.143.ch".
Um quinto dos aconselhamentos está relacionado a problemas familiares como indiferença, conflitos entre pais e filhos e até abuso sexual.
Nas duas discretas placas fixadas nas extremidades da ponte Kornhausbrücke, em Berna, se vêem os dígitos “143” impressos em letras garrafais. Abaixo, as letras miúdas indicam que o número telefônico pode ser ligado em casos de angústia e estresse. Porém muitos correm até risco de vida.
Quem pensar em terminar seus dias do alto dessa ponte construída em 1895, um dos orgulhos arquitetônicos da capital suíça, geralmente acaba conseguindo. Do ponto mais alto até a superfície do rio Aare, cuja profundidade no local não chega a dois metros, a queda-livre é de cinqüenta. Não existem estatísticas que revelem quantas pessoas já tentaram pular do local.
Isso explica porque cada ponte ou local de risco na Suíça sempre dispõe de placas semelhantes. Nos momentos de emergência, esse número pode salvar vidas.
– O ideal é que um serviço como o nosso não precisasse existir. Se as pessoas conseguissem falar abertamente e com sinceridade entre elas, então o número 143 seria desnecessário – se resigna Tony Styger, chefe da filial de Zurique do “Die Dargebotene Hand”, ou “Mão Estendida” na tradução em português.
210 mil aconselhamentos em 2005
O primeiro serviço telefônico de emergência foi criado em 1953 por iniciativa de um padre inglês. Quatro anos depois, um grupo de voluntários fundou o “Mão Estendida” na Suíça. Hoje ela dispõe de 12 filiais espalhadas por todo o país e 630 voluntários, que atendem 24 horas por dia qualquer pessoa que ligue procurando ajuda e orientação.
Em 2005, o serviço deu 210 mil aconselhamentos, 17% deles relativos a problemas de família como indiferença do cônjuge, conflitos com os filhos, dificuldades na educação, problemas de comunicação com os pais e até mesmo casos de abuso sexual na família. Nos exemplos anônimos dados no press-release distribuído à imprensa, estão frases de algumas das pessoas que ligaram ou enviaram e-mails pela página na Internet:
– “Tenho 52 anos, estou desempregado e antes era chefe numa multinacional. A minha mulher é depressiva e reclama o dia inteiro da vida”; “Eu acredito que meu filho é homossexual”; “Eu não suporto mais a indiferença do meu marido em relação à educação dos nossos filhos”; “Meu marido bebe e chega sempre tarde em casa” ou “Meu pai está me forçando a fazer coisas comigo que eu não gosto”.
O serviço notou um aumento considerável nos atendimentos por problemas familiares. Na opinião dos seus representantes, muitas das famílias na Suíça estão sobrecarregadas para conjugar trabalho, educação e relacionamento entre seus membros.
– Muitas pessoas preferem ignorar os problemas vividos nas suas família e evitam discutir sobre isso. Isso só piora a situação. Nosso trabalho é analisar junto com as pessoas que ligam no “143” esses problemas e ajudá-las a encontrar uma saída – afirma a Maja Wyss, chefe do “Mão Estendida” na Suíça central.
2% pensam em suicídio
Além das questões de família, o motivo que mais leva as pessoas a ligar para o “143” são problemas de saúde, trabalho e insegurança material. Cerca de 10% dos aconselhamentos foram dados a pessoas que reclamavam de solidão. Apenas 2% falavam de suicídio.
A média diária é de 572 telefonemas. Nos últimos dez anos o número de aconselhamentos dobrou. Cerca de 70% das pessoas que ligam têm entre 20 e 60 anos de idade, sendo que dois terços são mulheres.
O custo de um telefonema é baixo: apenas 20 centavos do franco de uma linha comum e 70 centavos em cabines telefônicas. Através do endereço “www.143.ch”, o serviço também oferece aconselhamento através de e-mail ou chat. Para muitos, é mais confortável e anônimo escrever uma mensagem do que falar diretamente com um voluntário.
Os voluntários têm entre 30 e 65 anos e trabalham em média 30 horas por semana. Todos eles recebem formação e participam anualmente de cursos de especialização. Afinal, o aconselhamento de pessoas em dificuldades exige muita paciência e preparo.
swissinfo, Alexander Thoele
O primeiro serviço telefônico de emergência foi criado em 1953 pelo padre inglês Chad Varah.
Seu objetivo era ajudar pessoas que ameaçavam cometer suicídio.
O número crescente de telefonemas obrigou o serviço a engajar voluntários.
Nos anos seguintes esse tipo de serviço foi criado também em outros países europeus.
O “Dargebotene Hand” (tradução: Mão Estendida) foi criado em 1957 em Zurique.
Em 1959 foi aberta a filial em Genebra com o nome “La Main Tendue”.
Em 2006, o serviço conta com 12 filiais espalhadas pela Suíça.
Em 2005 foram feitos 210 mil aconselhamentos por telefone e internet.
– Segundo o Departamento Federal de Estatísticas, o número de suicídios em 2004 foi de 1.300 (em 2003: 1.269).
– Cerca de 15 a 20 mil adolescentes e jovens adultos tentam se suicidar na Suíça a cada ano.
– A Suíça é um dos países com os maiores índices de suicídio no mundo.
– Problemas familiares, solidão e dificuldades materiais são os fatores que mais levam as pessoas a ligarem para o “143”.
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