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Um caminho do roque ao chorinho

O "Choro Alegre" de Ademir Cândido (de chapéu) Divulgação

O gaúcho Ademir Cândido, 48 anos, ouviu choro e senenata desde menino, com o pai que tocava acordeão e saxofone. Muito gêneros passaram por Ademir até chegar ao chorinho.

O roque, a bossa nova, o jazz e outros gêneros passaram por ele até chegar ao chorinho.

Na Porto Alegre do início dos anos 60, tinha gente que fazia serenata madrugada adentro e, em casa, vinham músicos tocar choro com seu Aurélio no saxofone.

Mas era tempo de ascensão do roque e o garoto Ademir gostava de percussão. Ouvia músicas no rádio e acompanhava batucando no bujão de gás e, no calcanhar, o som do bumbo no assoalho da cozinha.

Primeiro a bateria

O irmão mais velho tocava órgão e o baterista estava atrasado num ensaio da banda. “Sentei na bateria e comecei a acompanhar. Quando o baterista chegou disse que não sabia que eu tocava bateria. Eu disse: nem eu!”, conta o músico gaúcho, há quinze anos radicado na Suíça.

Com 14 anos aprendeu meia dúzia de acordes na guitarra e começou a tocar. “A mão direita da guitarra é a mesma da bateria”, afirma Ademir. Em quatro anos, evoluiu o suficiente para que Porto Alegre ficasse pequena demais.

“Com 18 anos, criei coragem e fui para São Paulo porque queria aprender mais”, relembra o músico. Na capital paulista, Ademir foi tocar na noite, numa boate na Liberdade. Tocava num grupo de segunda a sexta e em bailes nos fins de semana.

São Paulo e Rio

“Tinha muito músico bom e gente conhecida ia na boate dar uma canja. Fui aprendendo e conhecendo pessoas interessntes. Estudei como um louco naquele tempo. Era bom também porque tocava-se todo tipo de música. Acompanhei muito cantor brega nessa época”, diz Ademir.

Quatro anos depois, o músico gaúcho foi para o Rio a convite de Nenê, que havia tocado com Elis Regina e tocava com Hermeto Pascoal. Através dele, foi conhecendo outros músicos famosos como os bateristas Robertinho Silva e Paulinho Braga, Novelli, Filó Machado e muitos outros.

A descoberta do cavaquinho

“Meu primeiro concerto instrumental foi com Nivaldo Ornelas, no Rio, e isso foi abrindo espaço pra mim”. Seguiram-se temporadas em que acompanhou e fez arranjos para Fafá de Belém e Leny Andrade.

“Tive a honra de participar de um disco gravado ao vivo que tirou Leny da noite para o sucesso que continua fazendo até hoje”, afirma Ademir.

Entre temporadas no Rio e em São Paulo, Ademir Cândido continuou a compor e fazer arranjos, sempre tendo a guitarra como instrumento principal e já com influência de bossa nova, jazz etc.

Certa fez, um vizinho em São Paulo estava mudando e tinha um cavaquinho velho. Ademir comprou o instrumento e começou a estudar. “Já tinha outras composições na guitarra mas o cavaquinho me deu muita inspiração e comecei a compor meus primeiros choros”, explica.

O músico gaúcho não planejava sair do Brasil mas diz que ficou muito aborrecido depois que ter sido assaltado duas vezes no Rio, perdendo os instrumentos, no espaço de dois meses.

Ele conhecia um grupo que tocava na Espanha e que veio para a Suíça. Convidaram Ademir e ele passou dois anos e meio tocando com eles na Suíça. Voltou para o Rio para gravar seu primeiro disco (Ademir Cândido Brazilian Jazz, em 1993), com convidados especiais conhecidos como Robertinho Silva, Luiz Alves, Luisão Maia e Mauro Senise, entre outros.

Pouco tempo depois, Ademir voltou à Suíça para tocar com Paulo Moura em Zurique e no Festival de Montreux. “Fui conhecendo outros músicos e ficando por aqui”, conta.

O choro também evolui

“Só na Suíça tem uns 30 clubes de jazz e na Europa é tudo assim. Tem mais festivais e o músico é mais valorizado, embora mostrar seu próprio trabalho seja mais difícil”.

Compondo e fazendo arranjos, Ademir Cândido tem três trabalhos distintos. Um com o grupo Samambaia em que o propósito é tocar música dançante mas também para ouvir, com arranjos originais. O Samambaia está começando a gravar seu segundo disco na Suíça.

Em paralelo tem o quarteto com o baterista cubano Julio Barreto (dois cubanos e dois brasileiros), tocando música cubana, brasileira e africana com linguagem jazzística e um disco gravado.

Tem ainda o quarteto ou quinteto Choro Alegre. Aí também o músico gaúcho já começou a gravar um álbum duplo com 32 choros de sua autoria. Os CDs serão acompanhados de um livro com as partituras.

“Tenho o maior respeito pela tradição e acho que as raizes precisam ser preservadas. Isso não quer dizer que a gente vai regravar sempre os mesmos autores. Toda arte pode e deve evoluir e o choro também. Meu trabalho é uma mistura do tradicional com coisas mais modernas mas sem perder a essência”, conclui Ademir Cândido.

swissinfo, Claudinê Gonçalves

Discografia:

Brazilian Jazz
Ademir Cândido- guitar and cavaquinho
Mauro Senise-flute, Bidinho-fluegelhorn
Raul Mascarenhas- sopran sax
Fernando Morais,Joâo Carlos Coutinho, Luizao Paiva- piano
Adriano Giffoni,Luizâo Maia- E bass
Luis Alves-contra bass
Zizinho- percussion, Carlinhos- pandeiro, Uberità Silva- congas
Robertinho Silva, Rubinho, Cezar Machado- drums

Urubu Atterizando
Ademir Cândido – acoustic and e guitar and cavaquinho
Mario Conde – cavaquinho and guitar
Leiteres Leite- tenor and sopran sax and flute
Rodrigo Botter Maio- alto and sopran sax and flute
Gabriela Bergallo, Diana Miranda – vocals
Mauro Martins, Dudu Penz- e bass
Daniel Pezzotti- cello
Daniel (Formiga) congas, Nene pandeiro
Endrigo Bettega, Caspar Rast- drums

Trio a Pampa
Compositions ; Ademir, Nêne and Dudu and others
Ademir Cândido- guitar and cavaquinho
Nêne – drums and piano
Eduardo Penz (Dudu )- E and contra bass
participation
Rodrigo Botter Maio – flute and sopran sax
Carlos Malta – piccolo

Choro Alegre
Joao Cândido, Cacao de Queiroz, Plinio- alto sax
Plinio – flute, clarinet
Yamandu Costa – 7 string guitar
Luiz Borges – accordion,
Tonico da Silva, Zizinho, Carlinhos – pandeiro
Luizao Maia, Mauro Martins – E bass
Cezar Machado, Endrigo Bettega, Rubinho – drums
Luizao Paiva – piano
Raul de Souza – trombone
Ademir Cândido – guitar, cavaquinho and drums

Prepara em duplo CD de chorinho, acompanhado de um livro com as partituras

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