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Um museu onde é Páscoa todos os dias

Hansi, um coelhinho de pelúcia dos anos 40 do século passado. swissinfo.ch

Tudo começou com Adão e Eva: dois pequenos ornamentos dotados de longas orelhas, que acabaram sendo a base de criação do que seria o primeiro museu suíço dedicado ao "Coelhinho" da Páscoa.

A coleção, exibida em Bubikon, um pequeno vilarejo próximo de Zurique, pertence à Gertrud Pürro, que no passado realmente viveu da criação de coelhos. “Adão” e “Eva foram os presentes do seu marido, em 1977.

“Na época, eu tive a impressão de que eles estavam tão sozinhos, que precisariam de companhia”, explica, lembrando que o fato ocorreu muito antes de se tornar uma verdadeiramente aficionada. É sabido que os coelhos são animais extremamente profícuos. Hoje sua coleção é formada por, nada mais, nada menos, do que cinco mil e quinhentos coelhinhos.

“Eu parei de colecionar. Afinal, não tenho mais espaço. Para aceitar mais uma peça, é preciso que ela seja muito especial. Ai eu encontro um lugarzinho para ela”, conta.

Assim fala uma verdadeira colecionadora. Para o interlocutor, não é fácil acreditar que ela poderá realmente abandonar essa paixão.

“Eu não fico procurando, mas sempre consigo encontrar novos objetos interessantes”, explica para justificar como a coleção cresceu nos últimos anos.

Gertrud Pürro conseguiu juntar essa incrível quantidade de coelhos através da uma mistura de persistência, conhecimento de matéria e, muitas vezes, sorte.

Numa delas, a colecionadora descobriu o anúncio de um interessante objeto no site de leilões eBay. O vendedor o descrevia apenas como “um pequeno coelhinho em cima de uma motocicleta”. Ao bater seus olhos, Gertrud reconheceu uma verdadeira peça de colecionador. No final, ela deu o maior lance, pagando um valor ínfimo para o coelhinho.

Outras vezes ela participava de grandes leilões, aonde quase chegava a lutar contra outros colecionadores para conseguir levar para casa o coelhinho que havia conquistado seu coração.

Esse foi o caso de uma das maiores peças do museu, originalmente fabricada para ser exibida na vitrina de uma grande loja.

“Eu não podia imaginar como essas peças de exibição eram populares. As pessoas que participavam do leilão haviam me alertado que o preço não seria baixo. Quando eu finalmente consegui dar o maior lance, um homem que eu conhecia chegou para mim, bateu no meu ombro e disse: – ‘Pague, leve o coelho para casa, esqueça o dinheiro e aproveite'”.

Essa frase ela nunca esqueceu. “Quando percebi que me sentia mais satisfeita de ter algo que realmente aspirava do que algumas centenas de francos a mais na minha conta bancário, então eu mudei meu comportamento”, analisa.

O seu coelhinho favorito, uma peça de pelúcia branca e vermelha da “Steiff”, um famoso fabricante alemão, foi uma dessas compras que lhe custaram muito dinheiro. Mas ela nunca se arrependeu.

“A dona de um antiquário me contou uma vez que tinha algo de muito especial para mim. Ela disse para mim: – ‘Amanhã viajo à Alemanha para ver esse coelho. Se ele vier comigo para a Suíça, eu posso te jurar que ele não retorna mais”.

Depois de pesquisar um pouco a sua história, Gertrud Pürro se apaixonou pela peça e concordou um preço a pagar por ela. Hoje, o “Joseph”, é o seu coelhinho preferido, o que lhe dá o direito de ficar sentado num lugar nobre, atrás de uma vitrine. Aliás, todos os coelhos da coleção têm o seu nome.

O “Joseph” foi fabricado na década de 20 do século passado. Gertrud costuma contar com orgulho aos visitantes que nem o fabricante alemão Steiff dispõe de uma peça semelhante no seu próprio museu.

Outro coelho favorito é o “Kurt”, que está sentado a uma mesa de jantar coberta com talheres decorados de coelhos, pratos de coelhos, guardanapo de coelho, vinho com rótulo de coelho e mesmo coelhos decorando a sua gravata e o terno.

Ele também é o favorito dos visitantes. “Um dia, um pacote chegou endereçado para o Sr. Kurt. Ele continha duas pequenas garrafas de licor, cujos rótulos, obviamente, também tinham coelhos”, conta rindo.

Papel higiênico e notas bancárias

Muitos dos visitantes em Bubikon já contribuíram para a coleção ou deram dicas valiosas. Após verificar que no espaço dedicado a peças de higiene com motivos de coelho – sabão, xampu, escova de dente, suporte de escova de dente, curativos, escova de cabelo, cortina de chuveiro, tapete de borracha, escova de cabelo e até mesmo suporte para o papel higiênico – uma visitante descobriu que uma cadeia de supermercados na Suíça estava vendendo papel higiênico com coelhinhos. Gertrud não esperou.

“Eu fui correndo para a filial mais próxima. Eles tinham quatro pacotes. Eu comprei todos”, conta.

Outro dia uma senhora apareceu no museu mostrando nas mãos um belo bordado com motivos de coelho. Ela contou que seus filhos queriam jogar fora a peça e, por isso, decidiu presenteá-lo à colecionadora, que ficou feliz de poder exibir essa peça única.

Alguns objetos expostos foram fabricados exclusivamente para o Museu do Coelhinho. Uma vez, Gertrud perguntou para uma vendedora de tradicionais bonecas russas (n. redação: “matrioska” ou boneca russa é um brinquedo tradicional da Rússia, constituída por uma série de bonecas ocas, feitas de diversos materiais, ainda que o mais freqüente seja a madeira, que são colocadas umas dentro das outras, da maior até a menor) em um mercado de natal se ela não teria os mesmos objetos na forma de coelhos.

Ela disse que não, mas que, ao voltar para casa, iria fazer umas experiências. No ano seguinte ela retornou com uma peça em forma de coelho. Dentro de uma só havia espaço para outro coelho, mas de qualquer maneira era uma peça única para ser exposto no museu.

Outro destaque é também o tapete turco coberto de coelhos encomendado especialmente ao fabricante.

Colecionar vicia. Também outras pessoas podem se contaminar. Alguns deles já ofereceram à Gertrud suas coleções de selos e cartões telefônicos, todas de coelhinhos.

O único objeto que faltava ainda para o museu seriam notas de dinheiro com coelhinhos. Elas existiriam? Um dia, um amigo telefona para contar que havia visto num programa de TV sobre finanças na Rússia o que parecia ser realmente uma delas.

Gertrud ligou rapidamente para um banco russo e este negou a existência de tal nota. Porém a pessoa que atendeu sugeriu a Bielorrússia.

Bingo! O diplomata no telefone confirmou a existência de tal nota e ainda prometeu trazer alguns exemplares após sua viagem de férias. Ele cumpriu a promessa.

Agora o museu está completo. Não há objeto que não tenha sido construído no formato de coelhos: telefones, relógio de sol, borrifadores, formas de bolo, quebradores de nozes, velas e outras formas criativas. A colecionadora brinca: – “Gatos e cães são populares. Mas você não iria acredita, quantas coisas podem ser feitas como coelho”.

swissinfo, Julia Slater

A tradição do Coelhinho da Páscoa foi trazida para a América pelos imigrantes alemães, entre o final do século XVII e o início do século XVIII.

No Antigo Egito, o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da Antigüidade consideravam o coelho como o símbolo da Lua, portanto, é possível que ele tenha se tornado símbolo pascal devido ao fato de a Lua determinar a data da Páscoa. O certo é que os coelhos são notáveis por sua capacidade de reprodução, e geram grandes ninhadas, e a Páscoa marca a ressurreição, vida nova, tanto entre os judeus quanto entre os cristãos.

Existe também a lenda de que uma mulher pobre coloriu alguns ovos de galinha e os escondeu, para dá-los a seus filhos como presente de Páscoa. Quando as crianças descobriram os ovos, um coelho passou correndo. Espalhou-se, então, a história de que o coelho é que havia trazido os ovos.

Texto: Wikipédia em português

O Museu do Coelhinho, ou “Hasenmuseum” em alemão, está localizado em Bubikon, pequeno vilarejo próximo a Zurique.

O museu abre sempre no último domingo do mês (com exceção do Natal) e na segunda-feira de Páscoa (13:00 às 18:00) e na última quarta-feira do mês (14:00 às 18:00)

O preço de entrada é de sete francos para adultos e cinco francos para crianças de 6 a 16 anos.

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