Viramundo com Gilberto Gil é uma longa viagem
O filme do diretor suíço Pierre-Yves Borgeaud foi apresentado pela primeira vez no festival Visions du Réel (Visões do Real), em Nyon, oeste da Suíça. Entre maio e julho, o documentário será lançado quase simultaneamente em dez países europeus.
“Viramundo é uma continuação da canção que compus com Capinan em São Paulo nos anos sessenta, época difícil para intelectuais e artistas perseguidos pelo regime militar” disse Gilberto Gil à swissinfo.ch. O artista estava presente em Nyon, para o lançamento do filme, ao lado do diretor e do produtores (ouça a entrevista de Gilberto Gil, dentro do texto).
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Veja o trailer de Viramundo
Personagem principal
traGil é uma espécie de guia no documentário de Pierre-Yves Borgeaud em uma viagem pelo hemisfério sul que começa na Bahia, com imagens de Gil nos Filhos de Gandi, passando por Austrália, África do Sul e a Amazônia brasileira. Nessas etapas o artista tem encontros musicais e proseia com vários personagens.
Esses encontros, além de musicais – Gil não larga do violão – têm aspectos etnográficos e históricos. Na Austrália, Gil conversa com Peter Garret, antigo cantor de Midnight Oil, que também tornou-se ministro em seu país. Participa também de um ritual dos aborígenes. Na África do Sul, há o encontro com Vusi Mahlasela, cantora que foi grande figura do antiapartheid. No ano passado, Gil e ela se apresentaram juntos em no Festival de Montreux e um disco vai sair brevemente.
Ainda na África do Sul, ele trabalha com uma orquestra em que negros, mestiços e brancos aprendem a viver juntos através da música. Aí Gil procura a melhor maneira de fusionar gêneros a partir de suas canções.
A viagem do filme termina no encontro com índios na Amazônia brasileira, na Ilha das Flores, no Rio Negro, onde toca e exprime sua visão de um mundo mais justo, louvando a mestiçagem para lutar contra as discriminações. Nesse último encontro do filme Gil fala de suas esperanças e dúvidas para o futuro das culturas que encontrou ao longo dessas viagens.
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Ouça a entrevista de Gil à swissinfo.ch
Encontros espontâneos
A ideia do filme era mostrar pontos comuns de três países do sul que foram colonizados por europeus e que podiam ter algo em comum.
“Eu não conhecia pessoalmente nenhuma dessas pessoas e por isso os encontros aparecem espontâneos no filme porque realmente eram”, explicou Gil na coletiva à imprensa de lançamento do filme.
O diretor Pierre-Yves Borgeaud disse que houve um ano de preparação e Gil explicou que “que estava um pouco relutante no início, “devido o tempo e a energia necessária e porque achava que minha personalidade não era adequada para o projeto”. Borgeaud explicou que o coprodutor Emmanuel Guetaz – juntamente com a televisão suíça RTS – levou um ano para convencer Gil a participar.
Questionados por swissinfo.ch sobre quem tinha escolhido o nome do filme, Gil quis responder: “fui eu”, antes de emendar “digamos que eu fiz uma sugestão irrecusável.”
O diretor disse ainda que em uma tarde de trabalho, viu que o artista não era uma estrela. Gil respondeu que o estrelato é um coisa externa ao artista, mas que ele nunca comprou para continuar sendo uma pessoa comum.
Viramundo lá de trás
Um jornalista suíço quis saber como Gilberto Gil tinha se tornado ministro e ele contou uma anedota. Disse que quando foi convidado para o cargo preguntou ao presidente Lula porque o convidava e o que esperava dele. “O presidente respondeu que queria que fosse ministro como era em cena, que eu compreendesse a política como a música, em cena. Um presidente que entendia a política dessa maneira, eu tinha que aceitar”, explicou Gil.
Na conversa com swissinfo.ch, Gil reconheceu que o Viramundo filme era uma experiência nova em sua longa carreira. “Mas também é uma continuação daquela canção com Capinan, muitos anos atrás.”
O festival Visions du Réel (Visões do Real) existe desde 1969 e é único festival de documentários da Suíça.
Geralmente apresenta lançamentos mundiais, como foi o caso este ano, entre outros de Viramundo, o diretor suíço Pierre-Yves Borgeaud. Há competições de curtas e longas- metragens.
Fonte: site do Festival
Pierre-Yves Borgeaud nasceu em 25 de agosto de 1963 em Montey, Suíça. Estudou Letras na Suíça e Cinema e Vídeo na Universidade de Nova York. Foi jormalista, crítico de cinema e de jazz.
Seu primeiro longa-metragem, iXème, Jornal de um Prisioneiro, entre documentário e ficção, ganhou o primeiro prêmio no Festival de Locarno, sul da Suíça.
Em 2007, sai o documentário Retour de Gorée (volta de Gorée), com o cantor senegalês Youssou N’Dour, com um percurso do jazz à escravidão.
Em 2013, sai o documentário Viramundo, com Gilberto Gil.
Fonte: Cinefil.com
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