O livro impresso não está morto - e está se tornando cada vez mais uma forma de arte por si mesma. O sucesso e a rápida expansão da Feira de Livros de Arte Independentes de Zurique, "Volumes", prova que esse nicho está lenta mas seguramente se tornando um mercado.
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Cineasta italiano cresceu no continente africano, mas hoje considera a Suíça o seu lar. Estudou direção de cinema na Escola Nacional de Cinema Italiano, trabalhou como editor e diretor e produtor de documentários em Berlim e Viena. Hoje integra o departamento de multimídia e oferece narrativas envolventes.
Nascido em São Paulo, Brasil, trabalha como jornalista na redação em português e responsável pela área de cultura da swissinfo.ch. Formado em cinema, administração de empresas e economia, trabalhou na Folha de S. Paulo, um dos maiores diários brasileiros, antes de se mudar para a Suíça em 2000 como correspondente internacional de vários meios de comunicação brasileiros. Baseado em Zurique, Simantob trabalhou com mídia impressa e digital, co-produções internacionais de documentários, artes visuais (3.a Bienal da Bahia; Museu Johann Jacobs/Zurique), e foi palestrante convidado sobre narrativas transmidiáticas (transmedia Storytelling, em inglês) na Universidade de Ciências Aplicadas de Lucerna (HSLU - Camera Arts, 2013-17).
A Suíça tem uma longa tradição na publicação independente. No início da era moderna, muitos estudiosos e artistas, como Erasmo de Rotterdam e Albrecht Dürer, vinham a Basileia para imprimir suas obras, consideradas subversivas pela Igreja Católica. Com a Reforma, depois da década de 1520, protestantes, anabatistas e outros autores anticlericais também buscaram refúgio na cidade suíça, atraídos também por suas tipografias. Mais tarde, anarquistas, socialistas e revolucionários de outros lugares seguiram a mesma rota.
Mas o mercado editorial independente de hoje tem muito pouco a ver com política ou religião. Pelo contrário, é um nicho cada vez mais explorado por artistas visuais, com ou sem renome, bem como por designers que trabalham este meio como uma forma de arte.
“A publicação independente não é apenas autopublicação”, observa Anne-Laure Franchette, que dirige a Volumes junto com Patrizia Mazzei, uma educadora de artes, e a editora Gloria Wismer. “Em Volumes, damos as boas-vindas a zines e livros de artistas, mas também a pequenas editoras, revistas independentes, coletivos de poesia e artistas performáticos que lidam com publicações”, diz ela.
A Kunsthalle de Zurique sedia a 6ª edição de VOLUMES, de 23 a 25 de novembro de 2018. A feira independente de arte começou em um pequeno círculo de jovens artistas e expandiu-se muito além de seus sonhos mais selvagens. Este ano, Volumes conta com mais de 100 participantes, de todo o mundo. Enquanto isso, a Kunsthalle Zürich exibirá uma seleção de pinturas originais para capas de LP, com curadoria de Jörg Scheller. A edição 2018 faz parte do evento Kunst: Szene Zürich 2018Link externo.
O escopo internacional da feira também está se expandindo, mas com cautela. Os stands não são organizados por país, e nem todos os continentes são representados. Dito isto, a maior parte da Europa está representada, incluindo a Turquia e alguns editores japoneses. Este ano, o foco está no Chile, com os chilenos da feira ImpresionanteLink externo, cuja apresentação vem sob o lema “Sin ninguna vergüenza” (sem qualquer vergonha).
Os organizadores dizem que o sucesso da feira lhes rendeu pedidos de grandes editores suíços querendo participar dela, e de repente as organizadoras se viram em um dilema. “Nós não queríamos fechar a porta para eles, mas por outro lado, temos que continuar sendo uma plataforma para as pessoas que realmente precisam.” Franchette enfatiza que Volumes inclui Zurique em seu nome, que expressa claramente sua intenção de – em primeiro lugar – servir de janela para todos os editores da cidade.
Veteranos e novatos
A arte da publicação de arte já tem há anos um endereço bem estabelecido em Zurique. Patrick Frey era um jovem crítico de arte quando decidiu publicar as obras de seus amigos artistas. Em 1986, iniciou um negócio modesto e hoje, mais de três décadas depois, a edição Patrick Frey é uma marca conhecida em todo o circuito das artes, com quase 300 publicações em seu portfólio e distribuição internacional.
No entanto, Frey ainda administra sua editora de forma independente: financeiramente seguro, Frey tem toda a liberdade do mundo para decidir o que e como quer publicar. Em certo sentido, ele age como um curador: cada publicação tem seu próprio formato e peculiaridades, alguns inclusive descartam a inclusão de qualquer tipo de texto.
No outro extremo do espectro, Nicolas Polli representa uma nova geração de designers e fotógrafos independentes. Eles são nativos digitais que usam o meio impresso para avançar suas posições artísticas de maneira duradoura. Nascido no cantão do Ticino, de língua italiana, mas agora morando no outro extremo do país, na francófona Lausanne, Polli recebeu o Grande Prêmio Suíço de Design deste ano pela sua revista YET (de fotografia, editada com Salvatore Vitale). Sua paixão pela fisicalidade do livro é inequívoca.
Com “Ferox – Os Arquivos Esquecidos 1976-2010”, seu primeiro livro autoral, Polli rompe os limites entre realidade e ficção através de uma pesquisa visual inventada de imagens espaciais: o que parece ser ciência pura é simplesmente uma exploração estética. Uma imagem de um planeta distante é na verdade um close-up extremo de uma batata, por exemplo.
O sucesso dos Volumes significa um ressurgimento do interesse pelo livro impresso entre os nativos digitais? “Do nosso ponto de vista”, diz Franchette, “essa atração recém-descoberta pelo físico vem da percepção de que tudo se tornou digital, e as pessoas sentem falta de objetos ‘reais’ para trocar entre si”. No entanto, Mazzei discorda de Polli quando ele diz que “a palavra impressa está morta”.
“Nada está morto”, diz ela, “embora esteja claro que algumas práticas não são mais tão populares, como os zines que se tornaram blogs”.
Não obstante as diferenças de práticas ou gerações, Volumes demonstra que a cena editorial independente desfruta plenamente da liberdade oferecida pelas ferramentas digitais, mas os artistas ainda valorizam a fisicalidade dos livros e do contato pessoal.
Do arquivo
Volumes mantém cópias de todas as publicações presentes nas edições anteriores, dedicando um espaço separado na feira para uma exposição de uma amostra curada de trabalhos, como os exemplos abaixo:
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