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Por que livros russos raros estão sumindo das bibliotecas europeias

Imagine só: as primeiras edições de obras do autor russo Alexander Pushkin podem custar bem mais de 10 mil francos suíços ou 11 mil dólares em vendas para colecionadores. Por conta do alto preço e da raridade das edições, livros russos clássicos recentemente viraram alvo de uma gangue criminosa que opera em toda a Europa, inclusive na Suíça.

No ano passado, a biblioteca universitária de Genebra foi vítima de um roubo singular: dois homens conseguiram levar na surdina quatro valiosas primeiras edições de Pushkin, asseguradas no valor de CHF 173 mil.

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Uma primeira edição do poema de Pushkin, O prisioneiro do Cáucaso, na Universidade de Varsóvia. Afp Or Licensors

O roubo ocorrido em 31 de outubro de 2023 não foi um caso isolado: as obras de primeira edição têm desaparecido de inúmeras bibliotecas europeias nos últimos dois anos. O que chama a atenção é como os roubos têm como alvo os clássicos russos – especialmente os de Pushkin (1799-1837).

Suspeitos presos

Em abril deste ano, a autoridade policial europeia, Europol, prendeu quatro homens georgianos acusados de conexão com os roubos; antes outras cinco pessoas haviam sido detidas – na França, Geórgia, Lituânia, Letónia e Estónia.

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Apreendida: uma foto de parte da coleção da Europol. Europol

Os detidos são suspeitos de terem roubado um total de 170 livros no valor de 2,5 milhões de euros (2,43 milhões de francos suíços). Algumas das obras foram recuperadas pela polícia.

Caso de Genebra em andamento

Os promotores em Genebra recusaram-se a comentar as investigações sobre o roubo ocorrido na biblioteca universitária. Contatados pela televisão pública suíça, SRF, revelaram, no entanto, alguns detalhes sobre o crime.

Durante vários dias, dois homens solicitaram repetidamente para ver a mesma seleção de livros na biblioteca de Genebra. Em uma das noites, quando os funcionários fechavam a biblioteca, perceberam que quatro livros de Pushkin haviam desaparecido. Uma tradução para o russo de um livro de Johann Hübner, bem como uma tradução de Samuel von Pufendorf, também desapareceram.

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Biblioteca da Universidade de Genebra, onde quatro valiosas obras de Pushkin foram roubadas em outubro de 2023. Keystone / Martial Trezzini

Para Cyril Koller, chefe da casa de leilões Koller, “tais bens roubados não podem ser vendidos em leiloeiras europeias sérias, que verificam meticulosamente a origem dos livros”.

A guerra na Ucrânia mudou fundamentalmente o mercado europeu de leilões: os compradores russos tornaram-se mais raros após a anexação da península da Crimeia em 2014 e desde a guerra na Ucrânia, desapareceram completamente.

Figura do imperialismo russo

Tais obras podem, no entanto, render enormes somas no mercado clandestino. Ulrich Schmid, professor de Estudos da Europa Oriental na Universidade de St Gallen, suspeita que os livros não foram roubados apenas para obter lucro. Eles podem até ter sido roubados por comissão, diz ele.

“Na Rússia de Putin, Pushkin é visto como um símbolo do imperialismo russo. Não se pode excluir a possibilidade de que os oligarcas podem estar querendo usar esses livros para se posicionarem como figuras culturais em um novo clima patriótico”, diz Schmid.

A biblioteca universitária de Genebra não quis comentar o roubo. Também não esclareceu se as medidas de segurança foram reforçadas desde então. De acordo com a autoridade judicial europeia Eurojust, espera-se que as acusações sejam apresentadas nas próximas semanas. Talvez parte do mistério em torno do roubo de Pushkin seja resolvido nos tribunais.

(Adaptação: Clarissa Levy)

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