Zurique festeja primavera com tradição medieval
A Sechseläuten (Sächsilüüte em dialeto zuriquense) reúne uma multidão nas ruas da maior cidade suíça para o desfile das corporações de artesãos, algumas delas fundadas na Idade Média.
O ponto alto da “festa da primavera” é a queima do Böögg, boneco artificial de neve, que representa o inverno. Este ano, o Google Maps mostra o percurso do desfile e informações sobre as corporações.
Durante 462 anos a Sociedade Constaffel e as guildas governaram Zurique. A ascensão dessas corporações políticas, econômicas e militares ocorreu após a “revolução dos artesãos” de 7 de junho de 1336, que expulsou os “senhores conselheiros” da cidade.
Com a invasão francesa da Suíça em 1798, as corporações de artesãos (guildas) perderam o poder, mas sobreviveram como associações em que “o velho núcleo dos cidadãos cultiva seu amor à cidade natal e à pátria, um bom senso cívico, bem como mantém vivos os antigos costumes e as tradições zuriquenses”.
Doze das 26 guildas de Zurique foram fundadas na Idade Média – algumas delas este ano foram mapeadas pelo Google Maps – às quais se juntaram a partir do fim do século 19 associações de bairros. Uma vez por ano, numa segunda-feira em meados de abril, as corporações voltam a “dominar” a cidade. Foi assim nesta segunda-feira (20/4).
Mulheres e convidados de honra
Há 20 anos, também as 56 damas da Guilda das Mulheres de Zurique, fundada em 1989, lutam para participar do desfile. Até agora, sem sucesso. A maioria dos 26 mestres de guildas é contra. Eles só admitem que elas percorram o trajeto meia hora antes do desfile oficial dos homens.
Entre os 113 convidados de honra deste ano estiveram também o presidente suíço Hans-Rudolf Merz (bem humorado e presenteado com flores) e o comandante do Exército, André Blattmann.
O setor financeiro foi representado pelo presidente da Fimna (autoridade de controle do sistema financeiro), Eugen Haltiner, o vice-presidente do Banco Central, Philipp Hildebrand, e o presidente do conselho administrativo do Credit Suisse, Hans-Ulrich Doerig.
Festa em cinco atos
O nome da festa – Sechseläuten – vem de “Sechs-Uhr-Läuten”, o “sino das seis horas”, que indicava o fim o horário de trabalho no verão. No inverno, a jornada terminava às 17 horas por causa da escuridão.
Desde o início do século 20, a Sechseläuten é comemorada em cinco atos: 1) os bailes das guildas no sábado, 2) o desfile das crianças no domingo, 3) o almoço das corporações na segunda-feira ao meio-dia; 4) marcha até fogueira e queima do Böögg; 5) jantar e “retirada”.
O desfile das crianças foi introduzido em 1862, primeiro só para meninos, mas desde 1867 também as meninas podem participar. Entre 2.000 e 2.500 crianças apresentam-se trajando roupas históricas, que podem ser emprestadas.
Flores, beijos e salsichas
Durante a marcha até a fogueira, a partir das 15h, dezenas de milhares de pessoas cercaram as ruas de Zurique por onde passou o desfile dos cerca de 3.500 membros de guildas, 350 cavaleiros, 30 bandas de música e 50 carros alegóricos. Os espectadores – a maioria mulheres – agradeceram o espetáculo com flores e beijos.
Desde o início do século passado, o Böögg, que imita um boneto de neve, é queimado numa fogueira de lenha, parecida com a fogueira de São João no Brasil. Desde 1991, ele usa uma gravata borboleta, dedicada ao “cantão convidado” – este ano foi Schaffhausen, estado parceiro de Joinville (SC) – que se apresentou como “pequeno paraíso”.
Segundo uma crença popular, quanto mais rápido a cabeça do boneco recheada de fogos de artifício explode tanto melhor será o verão. Este ano ela explodiu após 12min55, o que prenunciaria um verão médio. Mas o serviço de meteorologia MeteoSuisse já comprovou cientificamente que o Böögg não é um bom meteorologista.
Depois da queima do Böögg, centenas de zuriquenses aproveitam parte das brasas para assar salsichas ao redor da fogueira. Esse popular “churrasco”, que vai até a madrugada, não integra o programa oficial da Sechseläuten, é aceito apenas a contragosto pelas tradicionais guildas, mas se transformou em parte inseparável da festa.
swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências)
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