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Estocar, um dever cívico helvético

prateleiras vazias de supermercado
Uma quantidade extraordinária de farinha sumiu das prateleiras neste supermercado da rede Migros na cidade de Stans, em 14 de março de 2020. Keystone / Urs Flueeler

Em tempos de crise, os suíços fazem provisões. Durante o período da pandemia, houve uma corrida pelo paracetamol, que é usado para combater a febre. O Conselho Federal foi obrigado a restringir a compra do medicamento. No entanto, os cidadãos estão sendo convocados a estocar reservas de emergência.

Após o início da Primeira Guerra Mundial, os suíços invadiram as prateleiras das lojas. Em uma semana, os produtos enlatados, arroz e café haviam desaparecido das prateleiras. O governo então impôs o racionamento de alimentos.

Durante a guerra, assim que a comida estava disponível, as pessoas mais abastadas compravam mais do que precisavam.

Cenas idênticas foram vistas no início da Segunda Guerra Mundial, enquanto os estudantes marchavam pelas ruas com cartazes que diziam: “Armazenar é traição”! As compras sob pânico revelaram-se menos importantes na Segunda Guerra Mundial do que na Primeira, pois o racionamento foi introduzido rapidamente.

Um dever cívico

Depois de 1945, o Conselho Federal quis frear essas compras compulsivas em situações de crise. A recém fundada Defesa Civil recomendou que as famílias constituíssem um estoque de emergência composto de dois quilos de açúcar, dois quilos de arroz, um litro de óleo e um quilo de gordura comestível. Massas, farinha e conservas, entre outros, poderiam completar o sortimento. Essa “cesta” deveria durar dois meses.

Durante a Guerra Fria, as reservas tinham que ser utilizadas em caso de ataque nuclear. As medidas eram divulgadas nos cinemas, bem como em exposições e feiras de negócios. Os varejistas também enfatizavam a importância do estoque.

“O objetivo dessas campanhas era ancorar a ameaça da Guerra Fria na vida cotidiana dos suíços. Elas eram parte da defesa intelectual do país e visavam fortalecer a identidade nacional, bem como as normas e valores considerados como suíços”, diz a historiadora Sibylle Marti, que estudou em detalhes as reservas de emergência.

As mulheres não tinham direito a voto e não cumpriam o serviço militar, mas também estavam na frente de batalha. Um panfleto de 1960 explica os papéis: “O soldado cuida de seu rifle, a dona de casa faz provisões de emergência”.

Ilustração de uma mulher em frente a uma prateleira de supermercado
As mulheres foram mobilizadas em função do papel social que lhes era então associado. zVg

Enquanto estas campanhas reforçavam os papéis tradicionais, os iniciadores das campanhas utilizavam os mais recentes métodos publicitários. Em 1957, as autoridades lançaram um concurso para coletar poemas que tornariam populares os suprimentos de emergência. Dezenas de milhares de respostas foram recebidas.

“Quando o estilo de vida americano se espalhou pela Suíça nos anos 1960 e surgiram novas oportunidades de consumo, lazer e trabalho para as mulheres, a imagem da mulher mudou e as campanhas também”, explica Sibylle Marti. “As reservas de emergência tiveram que ser separadas da guerra e colocadas no contexto de um modo de vida moderno e prático. Eles agora foram apresentados como um meio de ajudar as donas de casa”.

No entanto, já em 1988, em meio ao degelo da Guerra Fria, o Conselho Federal lançou um apelo através do telejornal para reservas de emergência. Após 2001, o significado dessas disposições foi reafirmado: um princípio que não pode ser “relegado ao esquecimento”. Embora os dias das grandes campanhas tenham terminado, as reservas domésticas ainda são recomendadas nos cursos de economia doméstica e na internet.Link externo


swissinfo.ch/ets

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