Martin Suter é um dos mais versáteis escritores suíços vivos. Sua obra abrange romances, roteiros, peças de teatro, canções, contos e colunas de jornais. O sucesso lhe permite viver entre Ibiza, Marrocos, Guatemala, e sua cidade natal, Zurique, onde o encontramos para um bate-papo.
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Cineasta italiano cresceu no continente africano, mas hoje considera a Suíça o seu lar. Estudou direção de cinema na Escola Nacional de Cinema Italiano, trabalhou como editor e diretor e produtor de documentários em Berlim e Viena. Hoje integra o departamento de multimídia e oferece narrativas envolventes.
Nascido em São Paulo, Brasil, trabalha como jornalista na redação em português e responsável pela área de cultura da swissinfo.ch. Formado em cinema, administração de empresas e economia, trabalhou na Folha de S. Paulo, um dos maiores diários brasileiros, antes de se mudar para a Suíça em 2000 como correspondente internacional de vários meios de comunicação brasileiros. Baseado em Zurique, Simantob trabalhou com mídia impressa e digital, co-produções internacionais de documentários, artes visuais (3.a Bienal da Bahia; Museu Johann Jacobs/Zurique), e foi palestrante convidado sobre narrativas transmidiáticas (transmedia Storytelling, em inglês) na Universidade de Ciências Aplicadas de Lucerna (HSLU - Camera Arts, 2013-17).
Suter encontra-se agora na Suíça para revisitar seu passado e presente em um documentário sobre sua vida, e que também reencena sequências de algumas de suas histórias, encontrando personagens que ele criou, interpretadas por atores profissionais.
“Meus livros não são sobre mim, eu tento me manter fora de meus livros”, disse Suter, durante uma pausa nas filmagens. Mas sendo o autor, Suter admite que suas palavras são a projeção do que seus olhos vêem.
Suter sempre foi um observador aguçado da elite de Zurique e seus costumes – não perdendo de vista as classes inferiores sobre as quais essa elite pisa.
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Quem é você, Martin Suter?
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Essa é a questão que ele se coloca desde sempre.
Ele ficou famoso na Suíça de língua alemã quando decidiu deixar para trás uma carreira de sucesso como diretor de criação de uma agência de publicidade para se dedicar à literatura, incluindo sua coluna de jornal, chamada “Business Class”, no final dos anos 1990.
A coluna era uma série de crônicas fictícias, e sutilmente maliciosas, do andar de cima do mundo das finanças e dos negócios da Suíça. A Business Class apareceu pela primeira vez no Weltwoche, um semanário com raízes antifascistas na década de 1930, antes de sua venda para um grupo de políticos de direita.
A coluna foi então transferida para o diário Tages-Anzeiger, publicada no suplemento de fim de semana do jornal. Ela também acabou rendendo dois livros de coletâneas depois de ser terminada. Mas após um hiato de mais de uma década, em 2018 Suter ressuscitou a coluna em seu site. A elite empresarial, diz ele na entrevista, não mudou de atitude nem mesmo após o colapso financeiro de 2008 e a pandemia do coronavírus.
O sucesso comercial desfrutado por seus livros não lhe rendeu muitos elogios dos críticos. Mas é a trama que torna suas histórias tão cativantes, ao invés de suas caracterizações ou qualquer espécie de consciência social.
Mas estes não são necessariamente pecados literários. Os personagens de Suter lutam com crises de identidade e reviravoltas da vida, e suas ambientações – seja uma cozinha de restaurante ou um escritório de advocacia de prestígio – são trabalhados não em longas descrições, mas através das interações de seus personagens.
A escolha de nomes para seus personagens é também muito peculiar, inclusive para leitores em francês ou inglês. Há o advogado Blank, que passa por uma crise de meia-idade e desenvolve distúrbios de personalidade após o consumo de cogumelos psicodélicos. Seu contraponto, um especulador inescrupuloso, assexuado, amoral e impiedoso, atende pela graça de Pius Ott.
E depois há o detetive Johann Friedrich von Allmen, o protagonista de uma série de seis livros nos quais Suter trabalhou nos últimos dez anos. A preposição aristocrática “von” é uma piada óbvia para os ouvidos germano-suíços, uma vez que Allmen denota o status de um humilde plebeu.
Quando perguntado sobre os nomes de seus personagens, Suter sorriu. “Nunca pensei que meus nomes tivessem um significado especial”, disse ele. “Eu só queria torná-los curtos e fáceis de serem pronunciados na tradução”.
Uma coisa, porém, é clara: Suter é um escritor que ama todos os seus personagens, tanto que o conceito por trás da produção filmada neste momento em Zurique não soa tão fora de propósito.
Mas essa narrativa ousada é complicada. Se vai funcionar ou não, veremos no outono de 2021, quando o filme deve estrear nos cinemas.
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