Portugal na rota do novo cinema suíço
Os filmes com o carimbo de "fabricado na Suíça" têm presença cada vez mais marcante no mapa mundial. O reconhecimento dos realizadores e produções é uma realidade com reflexo nas salas de cinema e no destaque que os helvéticos conquistam em festivais internacionais. Eles também têm presença obrigatória no
no IndieLisboa 2012.
Em resultado da junção de fatores como originalidade, iniciativa, formação e investimento, os filmes e realizadores suíços consolidam a pouco e pouco uma indústria cinematográfica que o festival Indielisboa pôde testemunhar recentemente.
Olhar o interior de um cinema
No centro do panorama de crescimento, daquilo que se poderá chamar de o novo fôlego da cinematografia helvética, está um pulmão que responde pelo nome de Bande à Part, a empresa de produção composta pelos realizadores Frédéric Mermoud, Jean-Stéphane Bron, Lionel Baier e Ursula Meier.
Se Alain Tanner, Jean-Luc Godard e Fredi M.Murer constituem parte do património cinematográfico suíço, um facto é que aqueles que constituem o coletivo Band à Part, com, por exemplo, presenças recentes nos festivais de Locarno, Berlim e Cannes, trouxeram um novo brilho ao cinema suíço.
Perante uma “cinematografia suíça tão rica”, para Nuno Sena, da direcção do IndieLisboa, o vazio foi “a oportunidade e o pretexto” para, com o apoio da Swissfilms e da Embaixada da Suíça em Lisboa, na edição de 2012 se criar no programa o foco Cinema Suíço – Um Bando à Parte, sobre a obra dos 4 cineastas.
P ara melhor compreender o que se passa na Suíça e mostrar o trabalho que os membros de Band à Part desenvolvem “enquanto pedagogos”, o Indielisboa organizou uma sessão com filmes dos alunos da ECAL (Escola Cantonal de Artes de Lausanne).
Investir para recolher os dividendos
Swissfilms é a agência de promoção do cinema suíço no estrangeiro, “nas melhores plataformas de difusão”, ou seja, “os festivais de renome”. Marcel Muller é diretor de projetos da agência suíça, esteve em Portugal, e aponta ser evidente que “os grandes festivais internacionais estão a olhar mais atentamente para o cinema suíço”. Depois do investimento na promoção, os “dividendos” são claros, por exemplo, pelo facto de existir um colectivo como Band à part, cujos “ quatro realizadores estiveram presentes nos festivais mais importantes: Cannes, Locarno e Berlim.” E acrescenta: “Há, finalmente, este aguardado movimento” nos grandes festivais, “agora começamos a ter uma regularidade.” Apesar de achar “um pouco dificil meter esse tipo de etiquetas, penso que podemos falar de um Novo-novo cinema suíço.”
Irmã (L’enfant d’en haut) é o mais recente filme da realizadora Ursula Meier. Em Berlim ganhou o Urso de Prata e, como filme de sucesso internacional, está a dar a volta ao mundo dos festivais. Além dos prémios, motivo de orgulho para Ursula Meier é o facto de o filme estar a ser um sucesso de vendas. Com um sorriso, revela que Irmã “está nas salas da Suíça, França, Bélgica e estará nos cinemas portugueses em setembro. Vai sair em todos os países europeus. Em Berlim ele foi vendido para todo o mundo: Brasil, Estados Unidos, Austrália. Em resumo, vai sair num número considerável de países”
Um bando de bons amigos unidos pelos filmes
Para Ursula Meier “fazer filmes tem algo de muito solitário,” por isso “Band à Part, com a ideia de reencontro coletivo, que é algo muito raro no cinema, enquanto realizadores, ”torna todos os aspectos que envolvem produção e promoção de um filme em algo “mais feliz”.
Ao reunir “amigos de há muito tempo”, para Ursula, a empresa de produção é entendida como o “unir de forças comuns” que os faz “mais fortes”.
A mesma visão é partilhada por Lionel Baier: “Funciona como uma entreajuda que partilhamos nos nossos projectos. É como que o oficializar de uma relação de amizade que já existia”. Que ganhou força na ambição comum de “fazer filmes que fossem vistos fora da Suíça. Isso era uma condição.”
Em Band à Part não há continuidade editorial e não há semelhanças entre filmes. Na produção, os realizadores funcionam de maneiras completamentes diferentes, quer ao nível do género, do estilo ou do orçamento. Em comum, talvez “o aspecto muito pessoal do guião e um grande envolvimento com o território.”
O humor de um suíço na revolução portuguesa
Lionel Baier é um suíço com “um amor muito particular” por Portugal, e quer transformar esse amor em humor. A partir de setembro, durante dois meses, vai estar em filmagens, essencialmente, na zona de Coimbra. O “desafio” é filmar a sua primeira comédia. “Uma comédia que se passa durante a Revolução dos Cravos (25 de Abril de 1974), mas “não é um filme sobre a Revolução dos Cravos.”
Fascinado pelo lado “não violento e incrivelmente alegre” do 25 de abril de 1974. Um momento na história da Europa “em havia como que uma espécie de esperança numa mudança geral na sociedade.”
Lionel Baier tem o “sentimento que a Revolução dos Cravos é como que um modelo de revolução não violenta que foi seguido por alguns dos países,” e por isso quer “falar um pouco desse momento da história, que não pertence só a Portugal mas sim a toda a Europa.”
Garçon stupide, 2004, Lionel Baier, França, Suíça.
Comme des voleurs (à l’est), 2006, Lionel Baier, Suíça.
Un autre homme, 2008, Lionel Baier, Suíça.
Toulouse, 2011, Suíça + Low Cost (Claude Jutra), 2010, Suíça, de Lionel Baier
.Les épaules solides, 2002, França, Bélgica, Suíça + Tous à table, 2001, Bélgica, Suíça, de Ursula Meier
Mon frére se marie, 2006, França, Suíça, de Jean-Stéphane Bron
Complices, 2009, Suíça, França + Son jour à elle, 1998, Suíça, de Frédéric Mermoud
He was a giant with brown eyes, Eileen Hofer, 2012, 80 min.
Kyrkogardsö, Joakim Chardonnens, (CH – FIN), 2012, 23 min.
Retour à Mandima, Robert-Jan Lacombe, 2011, 40 min.
Der grosse bruder, Jesús Pérez, Elisabeth Hütterman, (CH – GER), 2011, 6 min.
Bom Voyage, Fabio Frideli, 2011, 6 min.
Lisboa
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