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Um oásis para os fãs de Hermann Hesse

O escritório de Hermann Hesse em Montagnola. RDB

O Museu Hermann Hesse, em Montagnola, perto de Lugano, na fronteira da Suíça com a Itália, mostra interessantes aspectos da vida e da obra do escritor alemão mais lido do mundo.

Naturalizado suíço em 1924 e Prêmio Nobel de Literatura de 1946, Hesse foi um pacifista e adepto de uma versão do nudismo em moda nos Alpes: o “montanhismo naturista”.

Hermann Hesse

Aqui as pessoas são gentis e corteses.

Lugano, no sul da Suíça, é conhecida como “Rio de Janeiro da Europa” por causa de sua geografia, mas é também um paraíso de compras, terceira praça financeira do país, depois de Zurique e Genebra, e um centro cultural.

A cidade de 54 mil habitantes tem uma longa tradição artística, documentada por igrejas, quatro teatros, a orquestra da Suíça italiana e uma dezena de museus. Uma das principais atrações turístico-culturais da região, no entanto, fica a 5 km da cidade.

É o Museu Hermann Hesse, o mais visitado do Ticino, situado a menos de meia hora de ônibus do centro de Lugano, em Montagnola. O escritor alemão viveu neste povoado de 2100 habitantes, na Collina d’Oro, de 1919 até sua morte em 1962, e o tornou mundialmente conhecido.

Prova disso são os nomes dos países que se pode ler no livro de visitas do museu, que recebe 15 mil turistas por ano, 61% do exterior. A maioria dos visitantes estrangeiros vem da Alemanha (71%) e da Itália (14%); os restantes 15% de dezenas de outros países, entre eles, os EUA, a Rússia e até o Brasil.

Para mais da metade dos turistas, a visita ao Museu Hermann Hesse é a principal causa para visitar Lugano e o Ticino, conta a diretora Regina Bucher, enquanto mostra à swissinfo.ch os resultados de uma sondagem feita em 2008.

Rico acervo

Aberto em 1997 na Torre Camuzzi, na primeira residência de Hesse em Montagnola, o pequeno museu de quatro andares tem um rico acervo sobre o poeta e pintor alemão (veja a galeria de fotos na coluna à direita). “Tentamos oferecer ao visitante um ambiente agradável em que ele possa relaxar e, como Hermann Hesse, absorver a beleza dos arredores”, explica Bucher.

Isso inclui desde as flores dispostas dentro e diante do museu, “cantinhos” aconchegantes para sentar e ler as obras do autor, cadeiras para descanso no jardim, funcionários multilíngues e atenciosos com as crianças. Muitas escolas realizam visitas guiadas ao museu.

A exposição permanente evita excesso de textos e mostra painéis e objetos sobre a vida e a obra do autor, entre eles, uma velha máquina de escrever, edições originais de seus livros, correspondências, fotografias e aquarelas. As mostras especiais apresentam novos aspectos e resultados de pesquisas sobre Hesse.

Além disso, há um pequeno cinema no porão que exibe um documentário biográfico em italiano, alemão, inglês e francês, audioguides (em alemão e italiano) e um amplo programa de leituras, palestras e concertos. Um café literário com acesso à internet, uma biblioteca e uma loja de souvenires complementam a oferta.

O terceiro andar, por exemplo, é dedicado às viagens de Hesse à Índia e à China. “Procurei descobrir o que todas as formas humanas de religiosidade têm em comum, o que está acima de todas as diferenças nacionais, o que pode ser acreditado por cada indivíduo”, lê-se na porta.

“Cidadão do mundo”

“Sondagens mostram que temos um grande número de visitantes que retornam, que veem o museu como um oásis, que transmite conteúdos e impulsos sempre novos. Não se deve esquecer que Hesse é o escritor de língua alemã do século 20 mundialmente mais lido e, em sua maneira de pensar, é considerado um cidadão do mundo”, diz Bucher.

As obras do Prêmio Nobel de Literatura de 1946 foram traduzidas para 54 idiomas e venderam cerca de 100 milhões de exemplares. O livro mais popular entre os visitantes do museu é disparado Siddhartha (45%), inspirado numa de suas viagens ao Oriente.

Segundo Regina Bucher, a maioria dos visitantes (66%) interessa-se por aspectos biográficos do autor, especialmente por sua vida no Ticino. “Os alemães também se interessam muito pelas redondezas de Montagnola.”

Muito frequentadas são também as leituras semanais de textos do autor realizadas no museu. “A maioria do público considera fascinante a bilingualidade das leituras (em alemão e italiano). Às vezes, são lidos textos pouco conhecidos”, conta Bucher.

Pelado no Monte da Verdade

A mais nova atração ligada é a trilha “Nos rastros de Hermann Hesse”, que passa por locais em que o escritor comprovadamente gostava de ficar e contemplar a paisagem única da Collina d’Oro. O ponto final da caminhada de meia hora é o túmulo do escritor no cemitério de Montagnola-Gentilino.

Recentemente, Hesse “ressuscitou” na mídia como um dos supostos “pioneiros do montanhismo naturista”, um movimento bastante forte na Alemanha, mas que enfrenta resistências na Suíça (no cantão de Appenzell Rodes Interiores, fazer caminhas nu é passível de multa).

Segundo Bucher, “Hesse certamente andou pelado, quando, em 1970, fez uma estadia de quatro semanas numa colônia de artistas no Monte Verità, perto de Ascona. Além disso, há uma foto que o mostra caminhando nu em 1910 perto do lago Walensee. No Ticino, de vez em quando ele nadava nu no Lago de Lugano, perto do Agnuzzo”.

Mesmo que Hermann Hesse tenha tirado as roupas para caminhar e nadar, não foi isso que o tornou famoso. O museu dedicado a ele em Montagnola concentra-se em outros valores. “Tolerância, sinceridade, integridade e perspicácia o transformaram em um dos escritores alemães mais lidos do mundo.”

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch

Hermann Hesse é o autor de língua alemã mais lido e traduzido no mundo.
Ele passou os últimos 43 anos de sua vida em Montagnola, no cantão suíço do Ticino (sul).
Foi enterrado no cemitério da localidade, que se tornou lugar de peregrinação.

– Hermann Hesse nasceu em 2 de julho de 1877 em Calw, no sul da Alemanha.

– De 1899 a 1903, trabalhou como livreiro em Basiléia. Torna-se conhecido com a narrativa Peter Camezind.

– Quando estourou a Primeira Guerra Mundial, Hesse lança-se em verdadeira cruzada pacifista. A imprensa alemã o considera um “traidor da pátria”.

– Em 1919, instala-se em Montagnola, no cantão do Ticino onde se dedica à pintura. É ali que escreve Siddharta, sua obra mais conhecida, e vários outros livros que se tornarão célebres.

– Em 1924, obtém a nacionalidade suíça.

– Em 1946, recebe o Prêmio Nobel de Literatura.

– Hermann Hesse morre em Montagnola em 9 de agosto de 1962.

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