Uma loja que só faz caixão por encomenda
Dentro de uma loja cor-de-rosa, projetos para a construção de dois caixões: um na forma de um violão, outro com um espelho retrovisor.
Um freguês quer ser capaz de “olhar para trás em sua vida”. O outro é um músico que quer ser enterrado no seu instrumento favorito.
Esses são dois dos pedidos mais exóticos feitos ao Ateliê Sarg, uma pequena fábrica de caixões criada em 2009 às margens do rio Aare, em Thun.
Entrar na loja da fábrica é uma verdadeira viajem para o além… da imaginação. Ali se encontra o mundo de Alice Hofer, a proprietária do estabelecimento. Vestida de cor-de-rosa da cabeça aos pés, ela dá o ton de como deve ser a vida depois da morte: tudo ali é cor-de-rosa, a loja e até os caixões.
Silêncio e recolhimento é o que se espera encontrar normalmente em uma casa funerária. Em vez disso, um fundo de música ambiente, algumas velas acesas e cafezinho é servido na acolhedora sala de estar. A sala de recepção é cor-de-rosa e está repleta de livros de filósofos persas, cartões e CDs do marido de Alice, Polo Hofer, uma estrela do rock suíço.
“A morte e o que vem após a vida sempre foram questões importantes na minha vida. Eu sou realmente fascinada pelo assunto desde muito jovem. Sempre tive interesse pelo além, então me pareceu bastante lógico que também ganhe minha vida com a morte”, diz Alice enquanto toma seu cafezinho.
“Eu realmente senti um forte impulso em criar um espaço apropriado onde as pessoas pudessem vir falar, chorar, rir e lidar de qualquer maneira com o assunto”.
Impressão duradoura
Alice Hofer lembra de ficar pensando na morte já na infância, na época do outono.
“Eu me lembro de andar pela floresta e ficar perguntando onde é que as folhas vão depois que caem das árvores. E da beleza que há neste caminho em direção a morte. Achei então que se a natureza nos mostra um espetáculo tão bonito sobre a vida e a morte, talvez seja para que possamos aprender alguma coisa com ela, quem sabe talvez devêssemos seguir nosso caminho em paz. Essa é a minha maior motivação”.
Assim, sua empresa está lá para ajudar as pessoas a escolher um caixão e começar a pensar sobre os preparativos para o funeral. Os clientes são convidados a preencher um guia para “organizar a minha despedida terrena”, que envolve grandes decisões, tais como se deve ser cremado ou enterrado, e as menores, do tipo que música vai ser tocada no funeral.
“Eu encorajo as pessoas a se familiarizar com as suas próprias necessidades. Por exemplo, como gostariam de ser apresentadas neste último instante”, disse Alice.
“Existem muitas coisas que desaparecem à medida que vamos atravessando a vida. Mas a impressão que temos de uma pessoa deitada em um caixão, isso nunca vai desaparecer. Essa memória vai ficar para sempre conosco”.
Do mesmo jeito que anuncia caixões de todas as formas, ela também vende outros que são decorados por fora e custam cerca de 2.500 dólares. Uma paleta de várias cores e vários temas para os caixões, como, um vermelho com a cruz suíça, ou outro coberto de grama artificial e florzinhas edelweiss– alusão à expressão “comer a grama pela raiz”, que significa morrer.
O negócio dela atrai críticas, Alice admite: “As pessoas dizem que é estranho, louco e antipático. Mas é claro que eu não presto muita atenção a esses tipos de comentários, porque estou tão convencida do que faço e de que isso é necessário para muita gente”.
Símbolo de status
Uma busca na internet para caixões decorativos na Suíça traz poucos resultados; o mais comum são as ofertas de construções “eco-friendly”, feitas com outros materiais além da madeira.
De acordo com “J. Voeffray & Fils”, uma casa funerária em Sion (sudoeste), caixões decorativos são muito raros na Suíça, mas isso pode virar moda. “Essas coisas acontecem em ciclos”, disse o representante da casa, Cedric Voeffray.
A ligação com a profissão da pessoa, como o músico suíço que espera seu caixão em forma de guitarra, é comum em Gana. Na capital ganesa, Accra, conhecida por seus caixões esculturais, um pescador normalmente será enterrado em um caixão em forma de peixe, uma mãe em um em forma de galinha e um agricultor em um em forma de cacau.
É uma tradição na maioria das cidades da tribo Ga, que vê a morte não como um momento de lamentação, mas de celebração da vida, com cores berrantes nos caixões e formatos que lembrem a vida, o trabalho ou status social do falecido.
Ao iniciar o seu negócio, Alice Hofer foi inspirada pela abordagem da morte que ela viu no México.
“Eles são muito abertos para a combinação morte-beleza. Para eles, parece ser um aspecto da vida e em nossa cultura parece ser o fim da vida”, disse.
“Eu tentei basicamente integrar todos estes aspectos no aqui e agora. Tenho certeza de que não é apenas uma tendência, é uma maneira nova e importante de olhar a vida e a morte “.
Alice, obviamente, já tem planejada a sua própria partida. Mas não haverá nenhum caixão ou urna. Em vez disso, suas cinzas serão “sopradas ao vento”.
O Ateliê Sarg vende caixões de todas as formas, feitos por encomenda e sob medida.
Decorar um caixão em forma tradicional leva cerca de 12 horas para ser concluído. Eles custam em torno de 2.500 dólares. A loja também vende pequenos caixões para bebês.
Urnas de todas as formas e tamanhos também são vendidas.
Proprietários de animais de estimação pode comprar caixas especiais para enterrar seus animais ou para manter suas cinzas. As caixas variam entre 30 e 50 dólares.
Os visitantes do ateliê Sarg são convidados a preencher um programa onde podem listar todas suas preferências para o funeral.
Um conselheiro teólogo também está a disposição para conversar com os visitantes.
Um caixão, ataúde ou esquife é um recipiente geralmente feito em madeira, apto para guardar um cadáver esticado em posição horizontal na ocasião de seu funeral e enterro. Possui tamanho variável segundo o tipo de cadáver que será abrigado: em função de idade (fetos e natimortos), peso (pessoas muito obesas) ou altura (crianças, portadores de nanismo ou gigantismo.
Normalmente, o caixão tem a cor da madeira do qual é feito. Entretanto, é comum haver caixões brancos para crianças e não-cos. É possível também que se a pessoa tenha falecido por causa de doença contagiosa ou de Aids, o cadáver seja colocado em um caixão de zinco revestido com madeira.
Ultimamente têm sido confeccionados caixões para animais de estimação, enterrados em cerimônias que se assemelham às de humanos.
Se a pessoa foi cremada, suas cinzas são guardadas em um receptáculo denominado urna funerária.
Algumas pessoas reputadas como excêntricas têm o hábito de dormir em caixões, mais para chocar os outros ou mesmo como idiossincrasia. À atriz Sarah Bernhardt foi imputada essa preferência.
(fonte: Wikipédia)
(Adaptação: Fernando Hirschy)
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