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Da ditadura à liberdade, o renascimento da Vila Hoxha na Albânia

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No coração de Tirana, a mansão do ex-ditador comunista Enver Hoxha, símbolo da repressão que sufocou a Albânia por décadas, está prestes a se transformar em um espaço de criação, troca e liberdade, acolhendo dezenas de jovens artistas do mundo todo. 

“Que ironia da história promover essa liberdade de criar neste antigo lugar de poder, onde a censura e as proibições eram decididas”, diz Bruno Julliard, diretor da fundação Art Explora, que está envolvida na transformação da Vila Hoxha em uma residência para artistas. 

A ditadura de Hoxha, que morreu em 1985, foi uma das mais repressivas e sangrentas da história europeia contemporânea. A arte moderna e contemporânea foi completamente proibida e muitos artistas acabaram na prisão. 

Mas nada disso impediu Hoxha, que estudou na França, de colecionar títulos em sua biblioteca pessoal, como “Dança com o diabo”, de Pierre Salva, ou “Il Comunismo da Budapest a Praga 1956-1968” (Comunismo de Budapeste a Praga), livros que agora podem ser vistos graças ao projeto atual, e que durante seu regime teriam custado prisão ou tortura a qualquer albanês que mantivesse esse tipo de trabalho. 

Em sua primeira edição, a residência Villa 31 x Art Explora receberá 22 artistas de cerca de 15 nacionalidades. Todos se comprometeram a trabalhar em estruturas sociais, um tema impensável durante a ditadura. 

Genny Petrotta, uma jovem pesquisadora e artista visual italiana, chegou há alguns dias e diz que lugares como este estimulam e inspiram tanto a introspecção quanto a criatividade. 

“Quando acordo, escrevo tudo porque tenho sonhos absurdos aqui. Eles agem como uma espécie de teatro emocional dramático e afetam minha escrita. É importante estar aqui porque acrescenta algo inesperado ao meu trabalho”, disse. 

– Do mistério à arte –

A Vila 31, onde a família Hoxha viveu até a queda do comunismo no início de 1991, estava na época no coração de uma cidade fantasma, vigiada dia e noite pela polícia e agentes secretos. 

Hoje, há muitos bares e cafés, e a casa ainda mantém alguns de seus móveis originais — incluindo grandes pinturas inspiradas no realismo socialista — mas foi completamente redesenhada por arquitetos. 

Stanislava Pinchuk, ucraniana que vive em Sarajevo, faz parte do primeiro grupo de artistas a ser recebido. Conhecida por seus desenhos, instalações e esculturas, ela quer estudar como o espaço guarda memória e testemunha eventos políticos que violaram os direitos humanos. 

Esta casa é “incrivelmente densa, tudo respira dor e tensão”, conclui. 

As portas do porão da vila, escondidas atrás de uma sala de cinema privativa, abrem-se para um mundo de túneis e abrigos antiaéreos, que se estendem por vários quilômetros. 

Abandonados e fechados durante anos, foram devorados pelo tempo e pela umidade. Mas Gerta Xhaferaj, arquiteta e artista albanesa que vive e trabalha na Suíça, quer transformá-los em uma obra de arte. 

“O que eles escondem? Não apenas literalmente, mas também simbolicamente, o que representam? Quero revelar esse mundo subterrâneo e transformar o mistério em arte”, explica. 

“Este local histórico, que pertenceu à ditadura, agora representará a liberdade e o futuro”, diz.

bme/cbo/mab/pb/jc

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