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A “democracia líquida” para combater desinteresse político

Hernani Marques
A democracia "líquida" poderá reaproximar a democracia dos jovens suíços, segundo o informático Hernâni Marques. Flurin Bertschinger

As eleições legislativas suíças ocorrem em outubro. O serviçoLink externo de monitoramento político "Easyvote" indica que apenas um em cada quatro dos jovens deverão comparecer às urnas. O informático Hernâni Marques tem uma ideia de como a digitalização poderia dar um novo impulso ao sistema político helvético.

O artigo faz parte da série #DearDemocracy, a plataforma para democracia direta da swissinfo.ch. Aqui são articuladas opiniões de autores de nossa redação, bem como as opiniões de autores convidados. As opiniões aqui expressas não representam necessariamente as posições da swissinfo.ch.

Cada vez mais comum: jovens na faixa etária de 18 a 25 anos de idade sem interesse pela política, partidos, associações ou organizações. Isso não significa, porém, que estas pessoas não estejam politicamente interessadasLink externo. A questão para elas é mais a seleção de temas, o idioma e sua tonalidade, por vezes dura, da política suíça.

Uma forma de reconquistar esse público “perdido” para a democracia foi batizada de “democracia líquida”. O informático e ativista Hernâni MarquesLink externo lançou essa ideia há pouco durante a conferência organizada pelo serviço de monitoramento político “EasyvoteLink externo“. O objetivo da ong é promover a participação política e a educação política dos jovens.

Durante esse evento organizado em Berna, a capital suíça, jovens políticos e especialistas debateram sobre formas de aumentar a participação política dos jovens.

Hernâni Marques, linguista informático, sociólogo, neuroinformático e membro da direção do Chaos Computer Club SwitzerlandLink externo, não poderá participar das eleições em outubro de 2019: o filho de imigrantes portugueses não tem o passaporte suíço.

swissinfo.ch: Como a digitalização pode ajudar os jovens a se interessarem pela política?

Hernâni Marques: A Suíça conhece o ideal democrático da auto-representação, por exemplo, em associações ou no âmbito de comunidades rurais. Ninguém precisa que outros tomem decisões por si.

A digitalização oferece a possibilidade de tornar a auto-representação possível em grande escala pela primeira vez na história da democracia suíça, independentemente do tempo ou lugar.

Uma plataforma digital – que poderia ser operada pela Chancelaria Federal (órgão administrativo do governo suíço) – seria um instrumento com o qual todos os cidadãos poderiam contribuir com boas ideias para melhorar a Suíça. A partir daí elas poderiam ser levados a um canal oficial, onde a decisão efetiva seria tomada.

swissinfo.ch: Porém já existe a petição clássica (n.r.: um pedido a uma autoridade), que geralmente não é vinculativa…

H.M.: Sim, mas nesse caso trata-se de uma proposta fixa. Já na versão digital ela podia ser alterada e melhorada de forma completamente transparente. Esse é o lado “líquido” da coisa. Seria possível também ter uma seleção de propostas, das quais uma delas seria escolhida.

swissinfo.ch: E como isso funciona na prática?

H.M.: Em março passado jovens em Zurique manifestaram-se a favor da liberdade da internet e contra a proteção mais rigorosa dos direitos autorais, sobre a qual o Parlamento debate atualmente.

Hernani Marques
Hernâni Marques tem muitas ideias para melhorar a democracia suíça, mas não tem o passaporte vermelho com a cruz branca. Flurin Bertschinger

Um “youtuberLink externo” liderou a campanha. Em si, os jovens notaram que os políticos estão prestes a fazer algo prejudicial para a internet. Em uma plataforma digital, esses jovens eleitores poderiam dizer que não querem aceitar essas restrições e teriam, dessa forma, oportunidade de obter o apoio de outros. A pressão resultada poderia levar o Parlamento a alterar o projeto de lei.

swissinfo.ch: Você pode explicar com mais detalhes como funciona a plataforma?

H.M.: Outras pessoas interessadas poderiam comentar uma proposta dizendo o que acham que é bom ou o que fariam de diferente. Políticos teriam o mesmo peso que qualquer pessoa nesse debate.

O conceito de “democracia líquida”, como já testado pelo Partido dos Piratas, prevê uma ponderação: os indivíduos que gozam de muita confiança graças ao seu trabalho devem ser capazes de concentrar mais poder. A partir de um ponto em que o tema passa a ter mais importância, ele deveria então ser debatido em uma comissão parlamentar.

swissinfo.ch: A democracia líquida já é aplicada em outros países?

H.M.: Na Alemanha funcionou a chamada “Comissão de Enquete sobre a Internet e a Sociedade DigitalLink externo“. Tratava-se de uma plataforma de democracia líquida como 18 especialistas, que aconselhou o Parlamento alemão acerca da complexa questão de como a digitalização poderia fazer avançar o país.

Dessa forma, milhares de ativistas e grupos interessaram puderam participar do debate, que resultou em propostas muito concretas para o Parlamento alemão.

Siga o autor do artigo, Renat Kuenzi, através da sua conta no TwitterLink externo.

Adaptação: Alexander Thoele

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