Você confia mais em seus concidadãos ou em seus governantes?
Uma experiência suíça que reúne um grupo de cidadãos para preparar uma ficha informativa para a votação nacional de fevereiro concluiu sua primeira etapa.
Este conteúdo foi publicado em
5 minutos
Irlandês, Domhnall trabalhou em pesquisa e redação em alguns países europeus antes de ingressar na swissinfo.ch, em 2017. Cobre democracia direta e política e geralmente passa seu tempo em Berna.
Votar até quatro vezes por ano, como os suíços, é um bom direito democrático, mas também significa acompanhar muitas questões.
Geralmente, isso significa acompanhar a mídia, conversar com familiares e amigos, observar o que os partidos políticos e ativistas estão dizendo e vasculhar as informações enviadas pelas autoridades antes do dia da votação.
Na semana passada, antes da próxima votação nacional em 9 de fevereiro, 21.000 eleitores na cidade de Sion receberam algo novo pelo correio: uma ficha informativaLink externo, elaborada por um grupo de 20 moradores selecionados aleatoriamente, dando a opinião de um cidadão sobre o que está em jogo.
O documento, redigido pelo painel de cidadãos durante dois finais de semana de novembro passado, é o primeiro resultado do ‘demoscan’: um projeto que visa estimular a participação em um país onde as taxas de participação são baixas e as questões eleitorais às vezes complexas.
No lado frontal, a questão (um aumento proposto na construção de moradias sociais) é apresentada em oito pontos principais, listados em ordem de importância percebida; no verso, há três argumentos a favor e três contra a proposta.
Na primeira leitura, não fica claro o que é diferente ou mais digerível na informação comparada com o que é enviado pelas autoridades federais, além do fato de que, ao contrário do livreto do governo, não há recomendações sobre como votar (os materiais oficiais incluem a posição do parlamento e do governo em cada questão).
No entanto, o responsável do projeto Demoscan, Nenad Stojanović, diz que o principal valor agregado é que o documento apresenta uma “filtragem” e uma “priorização” de informações – finalmente, fornecendo uma visão geral dos pontos mais pertinentes vistos pelos olhos de 20 cidadãos “normais”.
Ao selecionar os participantes de forma aleatória e representativa, o projeto incluiu grupos sociais que normalmente não estão envolvidos no debate político, diz Stojanović. Quatro dias de pesquisa e deliberação foram como uma “escola da democracia”, ensinando-os sobre o funcionamento de instituições anteriormente distantes.
Ele ficou “positivamente impressionado” com a natureza das discussões e com a facilidade com que as pessoas entendiam conceitos políticos. Enquanto isso, falando à mídia na semana passada, vários participantes disseram o mesmo – uma “maravilhosa aventura humana”.
Remédio contra o populismo
Será que isso é suficiente para ter um impacto democrático concreto? Atualmente estão sendo feitas pesquisas em Sion para determinar se o resto dos moradores locais acharam útil, enquanto os 20 membros do painel também estão dando seu feedback, com resultados a serem publicados na primavera.
Mas tais projetos têm se mostrado positivos em outros lugares.
De fato, o projeto demoscan se baseia diretamente em uma prática similar no estado americano do Oregon, onde desde 2010 uma Revisão da Iniciativa dos Cidadãos (CIR, na sigla em inglês) tem sido usada na preparação de uma votação.
Estudos constataram que os cidadãos do Oregon estão agora cada vez mais dispostos a confiar uns nos outros do que nas autoridades quando se trata de enquadrar a narrativa para uma votação. Da mesma forma, a CIR é considerada “capacitadora” – o fato de que pessoas “normais” são vistas como capazes de deliberar sobre uma questão complexa dá a todos os cidadãos mais confiança para participar e votar.
O projeto demoscan também vem em um momento de maior apetite em muitas democracias ocidentais por formas de engajamento cívico que vão além do mero ato de votar – uma “nova onda de democracia deliberativa contemporânea, baseada na premissa de que as decisões políticas devem ser o resultado de discussões razoáveis entre os cidadãos”, como disse o think-tank Carnegie EuropeLink externo, em novembro passado.
Exemplos incluem projetos de Revisão da Iniciativa dos Cidadãos (como no Oregon, vários outros estados dos EUA e Sion), Conselhos ou Assembleias de Cidadãos (na Áustria, Polônia e outros), painéis de cidadãos (Canadá) e nomeações de cidadãos para um conselho governamental de alto nível (na França, uma medida tomada pelo Presidente Macron em resposta aos protestos dos “gilets jaunes”).
Demoscan é de fato parte das tentativas de encontrar uma resposta para “a crise de representação” e “as críticas dos cidadãos de que eles não têm voz no processo político”, diz Stojanović – as principais queixas que levam as pessoas a votar nos partidos populistas.
No futuro, ele e sua equipe gostariam de ver isso se estender de forma mais geral na Suíça. Por enquanto, o financiamento acadêmico permite apenas mais um projeto; vários municípios já manifestaram interesse, diz ele.
Mostrar mais
Mostrar mais
Temas difíceis nos plebiscitos – como explicá-los?
Este conteúdo foi publicado em
Novos modelos de cobranças de impostos, equiparação fiscal ou agora, a chamada “Iniciativa da Moeda Plena”: algumas das propostas complicadas levadas à votação nos últimos tempos. Se os temas são complexos, os eleitores procuram a ajuda dos especialistas. Mas não só eles: os jornalistas também. Porém existe o risco que eles não sejam equilibrados ou…
Como evitar que a inteligência artificial seja monopolizada?
Como evitar o monopólio da IA? Com o potencial de resolver grandes problemas globais, há risco de países ricos e gigantes da tecnologia concentrarem esses benefícios. Democratizar o acesso é possível?
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.
Consulte Mais informação
Mostrar mais
Manual ajuda eleitor suíço a votar em plebiscito
Este conteúdo foi publicado em
Os plebiscitos federais de 29 de novembro de 2009 prometiam ser polêmicos. Uma das três questões levadas às urnas era se a Suíça deveria proibir ou não a construção de mais minaretes, as características torres onde os muezins conclamam os muçulmanos às orações. Os autores da iniciativa (ver quadro) vinham de dois partidos de centro-direita,…
O sucesso editorial da democracia direta recebe novo “look”
Este conteúdo foi publicado em
Com 5,5 milhões de exemplares para cada uma das votações federais (são quatro por ano), o livreto é a maior tiragem na Suíça. Com sua capa vermelha, é sempre enviado por correspondência junto com todo o material eleitoral (dentre elas, as cédulas para votar por correspondência). Porém as informações também estão disponíveis na internetLink externo. No…
Este conteúdo foi publicado em
Apenas um em três jovens de 18 a 25 anos faz uso dos seus direitos políticos ao votar em eleições e plebiscitos que ocorrem regulamente no país. A cientista política Cloé Jans, do instituto de pesquisa de opinião Gfs.BernLink externo pesquisa para compreender o fenômeno. Dentre as conclusões tiradas, Jans acredita que a introdução do…
Suíços divergem sobre iniciativa para habitação social
Este conteúdo foi publicado em
A questão será votada em todo o país no dia 9 de fevereiro, ao mesmo tempo que um referendo sobre uma lei que criminaliza a homofobia. A Suíça é conhecida como uma “nação de inquilinos”. No final de 2017, 59% dos lares no país, ou seja, 2,2 milhões deles, viviam em imóveis alugados, de acordo…
Este conteúdo foi publicado em
Produtos orgânicos ou de comércio sustentável estão na moda. Sua oferta é cada vez maior nos supermercados do país. Porém não é possível decifrar nos números de venda as razões porque os consumidores os escolhem. Somente quando a decisão é baseada em critérios políticos, é que podemos falar em participação política. Consumo político é…
Este conteúdo foi publicado em
Intitulado “Uma teoria não populista da democracia direta”, o projeto financiado pelo Fundo Nacional de Pesquisa é liderado por Nenad Stojanovic. Defensor convencido da democracia direta, o cientista político explica que não quer se limitar ao campo teórico. Com seu grupo de pesquisadores, o professor pretende experimentar concretamente “uma inovação vinculada à democracia direta com um…
Este conteúdo foi publicado em
Não é sempre fácil aplicar a vontade popular. As iniciativas populares podem ser formuladas na Suíça como um estímulo geral ou – esse é o caso mais frequente – como um texto legislativo já preparado que não pode mais ser modificado pelo Parlamento e Conselho Federal (o corpo de sete ministros de governa a Suíça).…
Este conteúdo foi publicado em
“Eu lhe pergunto,” diz o homem, que acaba de passar pela sala polivalente cheia de cadeiras, ao microfone “por que não colocaram nenhum cinzeiro no novo ponto de ônibus?” Ele faz uma pausa por um momento para dar mais peso às suas palavras. Em seguida, caminha a passos largos de volta ao seu lugar. No…
Este conteúdo foi publicado em
Até agora, o mundo tem com maior frequência apreendido inadequadamente as promessas e os perigos do poder participativo do povo segundo a fórmula praticada na Suíça. Isto deve, porém, mudar, pois a democracia direta suíça proporciona estimulantes lições no sentido de tornar a democracia mais democrática no século XXI. Bruno Kaufmann exerce o cargo de…
Este conteúdo foi publicado em
O novo presidente do colegiado governamental, que sucede ao ministro da Defesa, Ueli Maurer, ressalta a importância de manter boas relações com os países vizinhos, apesar das diferenças na questão da fiscalidade. swissinfo.ch: Seu antecessor gostava de retratar a Suíça como um pequeno país sob pressão do exterior. No seu caso, que imagem gostaria de…
Este conteúdo foi publicado em
No final de maio, às vésperas da decisão do Conselho Federal (governo) sobre a política nuclear da Suíça, cerca de mil estudantes tomaram as ruas de Berna, a capital do país, em protesto contra a energia nuclear. Alguns temas ainda conseguem mobilizar a juventude. O interesse do cidadão pela política ainda não se instiguiu de…
Não foi possível salvar sua assinatura. Por favor, tente novamente.
Quase terminado… Nós precisamos confirmar o seu endereço e-mail. Para finalizar o processo de inscrição, clique por favor no link do e-mail enviado por nós há pouco
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.