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“Os suíços não são um povo avesso à política”

Eleitores fazem fila para votar em 28 de fevereiro de 2016, na estação ferroviária de Berna. Keystone

90% dos eleitores. O cientista político Simon Lanz demonstra em um estudo que mais pessoas vão às urnas na Suíça do que se supõe. Mas muito poucos comparecem sempre às urnas. Estes 90% são os que estão mais bem informados politicamente, afirma Lanz na entrevista.

Felix Schindler: O senhor descobriu que apenas 10% dos eleitores nunca comparecem às urnas. Somos um povo de democratas-modelo?

Simon Lanz: Não, os suíços não são democratas-modelo. Comparando internacionalmente, a participação nas votações e eleições na Suíça é baixa. Mas até agora os suíços tinham a fama de ser um povo que não gosta de política. Agora podemos comprovar que, num período de cinco anos, apenas 10% nunca votou. Isso significa que 90% da população comparece às urnas. Nem sempre, mas comparece.

Simon Lanz é doutorando no Instituto de Ciências Políticas e Relações Internacionais da Universidade de Genebra. Atualmente participa de um projeto de pesquisa de um ano na Universidade de Mannheim, Alemanha. defacto.expert

Para os partidos isso significa que 90% da população pode ser mobilizada. Mas como levar os eleitores às urnas?

Os eleitores seletivos são muito sensíveis a campanhas eleitorais intensivas. Quanto mais intensiva a campanha, maior a mobilização da população. Temas mais simples facilitam este efeito.

Até agora acreditava-se que não era possível comprar eleitores. Ledo engano?

Não se pode tirar esta conclusão a partir do nosso estudo. Podemos apenas ver se os eleitores comparecem às urnas ou não. Não podemos afirmar nada sobre como eles se comportam nas urnas. É plausível que os eleitores votem motivados por uma campanha intensiva. Mas talvez eles votem ao contrário do que a campanha propaga. Sabemos através de pesquisas anteriores que os eleitores dificilmente se deixam manipular. A maioria vota de acordo com suas preferências pessoais. Isso significa que os partidos têm que focar em levar seus próprios eleitores às urnas e não em convencer eleitores de outros partidos.

O senhor analisou dados de Genebra. Eles são representativos para toda a Suíça?

Analisamos todos os eleitores de Genebra e verificamos se eles votaram ou não. Dados semelhantes a estes existem apenas no município de Bolligen, no cantão de Berna, e na cidade de Saint Gallen. Sabemos que no cantão-cidade de Genebra a participação nas urnas é levemente mais alta do que na Suíça toda, mas temos certeza de que a principal conclusão do nosso estudo também vale para toda a Suíça. Uma grande parte dos eleitores são eleitores seletivos.

Os eleitores seletivos têm um perfil semelhante ao dos que não votam. São pessoas que não se interessam por política, sabem pouco sobre política e não têm preferência partidária. Isso significa que as decisões do povo são tomadas por pessoas apolíticas?

Não, eu não diria isso. O conhecimento político varia conforme o tema. Pode-se dizer que existem muito poucas pessoas que entendem de todos os assuntos. Nosso estudo mostra que as pessoas basicamente comparecem às urnas quando se sentem competentes para tal. Um médico provavelmente irá votar quando o tema for diagnóstico pré-transplante e provavelmente vai ficar em casa quando o tema for a legislação do espaço aéreo.

Ponto de vista

A nova série swissinfo.ch acolhe doravante contribuições exteriores escolhidas. Tratam-se de textos de especialistas, observadores privilegiados, a fim de apresentar pontos de vista originais sobre a Suíça ou sobre uma problemática que interessa à Suíça. A intenção é enriquecer o debate de ideias.

As opiniões expressas nesses artigos são da exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem necessáriamente a opinião de swissinfo.ch.

O que os resultados do seu estudo significam para a democracia?

A informação mais importante que obtivemos é que uma competência política bem definida influencia positivamente o comportamento dos eleitores. Quanto mais pessoas entenderem sobre política, mais frequentemente elas comparecerão às urnas. Isso é muito positivo, pois este fator nós podemos influenciar, por exemplo através de educação para a política. Visto desta perspectiva, a falta de verbas para financiar uma instituição como a Torre Käfigturm, na cidade de Berna, que se ocupa com a formação política dos jovens, é um retrocesso.

Apenas uma pequeníssima parcela da população comparece sempre às urnas. Como o senhor explica isso?

Na verdade existem muito poucos “democratas-modelo”. Da perspectiva da democracia, seria importante que todos os que serão atingidos por uma determinada decisão votassem. Na Suíça, frequentemente apenas metade da população comparece às urnas. Isso significa que determinado tema é decidido por 25% da população, excluindo os menores de idade e os estrangeiros, ambos os grupos que não têm voz de voto. É possível influenciar positivamente estes dados, basta elevar constantemente a porcentagem dos eleitores.

Esta entrevista foi publicada no dia 17 de fevereiro de 2016 nos jornais Tages-Anzeiger e no Der Bund.

As opiniões defendidas neste artigo são exclusivamente de responsabilidade do seu autor e não correspondem necessariamente à posição da swissinfo.ch.

Adaptação: Fabiana Macchi

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