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O revés da moeda fiscal de Zug

Assalariados não conseguem mais morar em Zug Keystone

Muitas empresas internacionais são atraídas pelo cantão de Zug (Centro) por causa dos privilégios fiscais concedidos. Essas empresas trazem com elas seus funcionários.

Keystone

O aumento repentino do número de habitantes no cantão tem causado uma drástica alta no preço dos alugueis. Por causa disso, a cidade de Zug será a primeira a criar zonas habitacionais especiais para moradores da classe média.

Cada canto da cidade de Zug é valorizado. Os conjuntos habitacionais, antes acessíveis à população de baixa renda, se transformaram em um excelente negócio para alguns investidores que “atualizam” esses imóveis em apartamentos de luxo caríssimos.

Zug é o cantão mais rico da Suíça, no entanto, muitas pessoas, que nasceram, foram à escola, trabalham e constituíram uma família no cantão, não podem mais continuar vivendo na região.

O sucesso dos benefícios fiscais concedidos pelo cantão tem suas desvantagens: as empresas internacionais que se instalam na região não só criam empregos como também aumentam a demanda em moradia. Vários moradores de Zug, principalmente os da classe média, estão sendo condenados pela especulação imobiliária a deixar seus lares. Segundo os últimos dados da Secretaria Federal de Estatística, Zug matém, de longe, a mais elevada taxa de emigração para outros cantões.

Pioneirismo de Zug

A cidade de Zug decidiu agora cessar o êxodo urbano, criando a primeira cidade da Suíça com zonas especiais para “habitações a preços acessíveis”.

A população, em um plebiscito realizado em 2009, aprovou, com alívio, a inovação em termos de construção e loteamento, que entra em vigor a partir de 1° janeiro de 2011.

Quatro parcelas de terreno da cidade, uma área de 3,5 hectares, serão disponibilizadas para a construção de 300 a 700 apartamentos de classe média. De modo geral, pelo menos metade do espaço construído será reservado para “habitações a preços acessíveis”.

“Acessível” e “bom preço” são termos bem relativos em Zug. Assim, o aluguel de um apartamento de sala e três quartos não poderá custar mais do que 2300 francos mensais e o de um quarto e sala, 1475 francos – sem contar o condomínio.

A cidade nunca pretendeu com isso favorecer a construção de conjuntos habitacionais populares, declarou na cadeia de rádio nacional DRS, Andrea Sidler Weiss, chefe de planejamento urbano de Zug. Quem deve ser beneficiado com o projeto é a classe média. “Minha esperança é que os moradores de Zug, principalmente os jovens, possam permanecer em seu cantão de origem e não mudar mais para fora, como vem acontecendo até agora”.

Lukas Bühlmann, diretor da Associação Suíça de Planejamento Regional VLP-ASPAN, é bem claro, entretanto: “É um primeiro passo, mas a criação de zonas especiais não é suficiente”. O problema afeta todos os segmentos da população.

“Muito promissor”

De acordo com o estudo “promoção habitacional sem fins lucrativos”, publicado pelo Serviço Federal de Habitação (BWO, na sigla em alemão) no início de 2010, o projeto de Zug parece “muito promissor”.

Falta ainda uma experiência concreta, por isso os primeiros resultados também serão positivos para outras áreas afins. Por exemplo, a proporção das áreas residenciais urbanas que serão protegidas da especulação imobiliária ou a possibilidade de taxar mais os imóveis de veraneio em regiões turísticas.

Mesmo problema, causas diferentes

O cantão de Zug não é o único a ter os imóveis mais caros da Suíça. Cantões de baixa imposição fiscal, como Schwyz, também sofrem do mesmo problema e em regiões turísticas como Gstaad e Zermatt, com uma alta procura de residências de veraneio, o preço dos alugueis é exorbitante.

Na cidade de Zurique, por sua vez, a atratividade da cidade levou ao aumento de migrantes, de dentro e fora do país, declarou à swissinfo.ch Brigit Wehrli, diretora do Serviço de Desenvolvimento Urbano de Zurique. “Embora se tenha construído muito, temos uma demanda insaciável por imóveis de todos os preços. Nas áreas residenciais mais cobiçadas, os edifícios velhos são restaurados e transformados em apartamentos de luxo”.

De acordo com o estudo da BWO, 60% dos 500 municípios pesquisados sofrem da falta generalizada de moradia para locação. A ideia de incentivar a construção de habitações sem fins lucrativos, parece, de acordo com a Associação de Planejamento Regional, excelente para muitos outros lugares da Suíça.

Áreas em falta

“O modelo de Zug é teoricamente interessante para Zurique, mas precisa de áreas que ainda não foram construídas. Tal recurso é praticamente inexistente em Zurique “, disse Brigit Wehrli. A cidade já determinou que uma parte dos grandes projetos em curso seja reservada para moradias sem fins lucrativos.

A cidade de Zurique tem cerca de 25% de apartamentos “acessíveis”. Para Brigit Wehrli , Zurique é um modelo em termos de habitação sem fins lucrativos, pois os prédios estão espalhados por toda a cidade e contribuem para uma boa integração. A parte atual do parque habitacional será, portanto, pelo menos renovada.

O problema dos aluguéis caros está focalizado, devido à forte demanda, principalmente nos bairros do centro da cidade. Sempre houve em Zurique uma grande proporção de edifícios mais antigos com moradias acessíve. As novas construções incluem casas e muitos apartamentos em cooperativas habitacionais de baixo custo em bairros suburbanos que ajudam muito a classe média

Segundo as previsões da empresa de consultoria Wüest & Partner, os alugueis dois grandes centros da Suíça, Genebra e Zurique, e suas aglomerações devem aumentar visivelmente nos próximos 12 meses.

Os alugueis em Zurique devem aumentar em 0,4%, enquanto que em Genebra 1%. No entanto, esse aumento é significativamente menor do que nos últimos 12 meses: o aumento desse período foi de 2,5% na Suíça e só na região do Lago de Genebra, até 8,6%. Em Zurique, os preços aumentaram em 2,1%.

De acordo com Wüest & Partner, a recuperação da economia suíça terá um impacto, com pouca defasagem, sobre a demanda do mercado imobiliário nacional suíço.

O saldo migratório de trabalhadores estrangeiros, que estavam entre os principais impulsionadores da demanda, deverá chegar a 75 mil pessoas em 2010. É aproximadamente o mesmo que no ano pré-crise de 2007.

Adaptação: Fernando Hirschy

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