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Agressões online viraram parte do jogo político local na Suíça

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Um pôster de campanha desfigurado dos candidatos do Partido Popular Suíço para as eleições parlamentares de 2019. Peter Schneider / Keystone

Ameaças e ataques marcam presença nas disputas políticas regionais e locais, ainda que ataques físicos continuem raros. Pesquisa apresenta dados inéditos sobre violência política a nível local, na Suíça.

A Suíça, com seus cerca de 2.000 municípios autônomos, tem a política de nível local como um  dos pilares de seu sistema democrático. Mas, embora os políticos locais não contem com o mesmo glamour dispensado aos cargos nacionais, sofrem com alguns dos mesmo problemas — incluindo ameaças e agressões, de acordo com um Link externoestudoLink externo publicado esta semana pelo Centro Aarau para a Democracia (ZDA).

A pesquisa entrevistou 1.000 parlamentares locais e identificou que mais de um terço deles sofreu insultos verbais nos últimos 12 meses. Outros 6,4% relataram ataques ao seu patrimônio e 3% foram vítimas de violência física. Agressões online foram direcionadas a 31% dos políticos e notícias falsas também foram comuns — 20% relataram ter sido vítimas de desinformação. As mulheres foram mais afetadas por ofensas.

Como esta foi a primeira vez que um estudo coletou dados de violência política a nível local, é difícil dizer se os ataques estão aumentando ou não. De qualquer forma, a dimensão dos números encontrados é “surpreendente”, especialmente a conclusão de que 36% dos políticos receberam insultos verbais, diz o coautor do estudo Stefan Kalberer. E mesmo que a agressão física seja rara, qualquer violência é injustificável e digna de nota, ele diz.

Kalberer também alerta para os impactos das agressões. No geral, três quartos dos entrevistados declararam estar “satisfeitos” com sua própria atuação política. Mas para 43% dos entrevistados que sofreram algum tipo de ataque, isso os levou a adaptar hábitos online – o que pode levar a uma autocensura ou redução do uso de mídias sociais, diz o pesquisador. As mulheres estão particularmente propensas a reagir dessa forma. Quase um quarto dos entrevistados disse que a violência afetou seu trabalho parlamentar.

Quanto às pessoas que decidiram abandonar a política completamente, as principais razões foram mais prosaicas: falta de tempo e uma percepção de falta de influência. A violência foi, no entanto, um fator para alguns, principalmente pessoas mais jovens ou mulheres.

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‘Particularmente desagradável’

O estudo do Centro Aarau para a Democracia surge na esteira de anos de ataques violentos nas democracias ocidentais. Na Alemanha, o político local Walter Lübcke foi morto a tiros por um extremista de direita em 2019, gerando amplos debates públicos sobre violência política. Desde então, agressões verbais e físicas a políticos no país mais que dobraram, com os Verdes sendo o partido mais afetado no ano passado. Na França, mais de 50 candidatos e ativistas foram atacados fisicamente antes do segundo turno das eleições de julho; no Reino Unido, dois parlamentares eleitos foram assassinados na última década; na Eslováquia e nos EUA, o primeiro-ministro Robert Fico e o candidato presidencial Donald Trump foram baleados este ano.

No ano passado, incidentes com agressõesLink externo, Link externoameaças de morteLink externo ou Link externodanos materiaisLink externo também foram noticiados pela mídia suíça. Mas as Estatísticas do Departamento Federal de Polícia (Fedpol), por sua vez, apresentam um quadro menos crítico e aparentemente mais tranquilo. Em 2023, a Fedpol registrou 290 ameaças contra políticos, registrando uma queda significativa nos casos,  em comparação com 528 registros de 2022.

No entanto, a queda do ano passado ocorreu após três anos da pandemia, que registrou um pico de 1.215 ameaças em 2021. Mas agora, com o tom das ameaças se tornando “particularmente desagradável”, a Fedpol tem tratado mais casos como sérios. No ano passado, 20% de todas as ameaças justificaram uma ação policial; em 2022, apenas 10% dos casos tinham sido levados à polícia.

Formação e suporte

Quando se trata das causas da violência, muitos políticos e analistas – e a Fedpol – apontam para o impacto da polarização, especialmente online, que pode sair do controle. Durante a agressiva campanha eleitoral da França no verão, o ministro do interior criticou as ações de “grupos de ultra esquerda, ultra direita ou outros grupos políticos”.

Muitos países têm tentado descobrir como lidar com os discursos de ódio online. O Digital Services Act da União Europeia, por exemplo, visa forçar as grandes empresas de tecnologia a policiar melhor suas plataformas. Na Alemanha, os cidadãos podem receber multasLink externo de milhares de euros por postar comentários extremos. No Reino Unido, Link externopessoas foram presasLink externo após postarem mensagens violentas durante os recentes protestos.

Em 2022, um relatório do Conselho da EuropaLink externo sugeriu o oferecimento de cursos sobre como lidar com ameaças, a aplicação de leis mais severas contra comentaristas, a criação de campanhas proativas contra discursos de ódio e o uso proteção policial, como medidas de enfrentamento à violência política. Contatos telefônicos de suporte e ajuda também podem ser úteis. “Só de saber que posso ligar para alguém ajuda muito”, disse a política social-democrata suíça Meret Schindler aos jornais Tamedia no ano passado; ela recebeu a oferta de um ponto de contato com a polícia após receber uma carta com ameaças.

Por fim, também é importante ter uma visão geral da extensão do problema, escreveu o Conselho da Europa. Como, por exemplo, criar plataformas para registrar denúncias online, como fez um Link externoprojeto pilotoLink externo em Zurique no ano passado, ou estudar a fundo a violência em pesquisas, como fez o ZDA.

Edição: Benjamin von Wyl/fh
(Adaptação: Clarissa Levy)

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