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Suíços têm dificuldade em identificar notícias falsas

Um pai e uma filha testam o Escape Addict 2.0, um jogo para educar as pessoas sobre notícias falsas e cyberbullying, em Sion, em 2021.
Um pai e uma filha testam o Escape Addict 2.0, um jogo para educar as pessoas sobre notícias falsas e cyberbullying, em Sion, em 2021. Keystone/Jean-Christophe Bott

A população suíça não parece ser particularmente habilidosa em separar verdade e mentira, aponta um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A pesquisa mostra um cenário com poucas diferenças entre os países, indicando que identificar notícias falsas é um desafio global.

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A Pesquisa Truth Quest entrevistou 40.765 participantes em 21 países analisando a capacidade das pessoas em reconhecer notícias falsas e verdadeiras. No ranking criado pelo estudo, os entrevistados suíços ficaram no terceiro último lugar, à frente apenas dos brasileiros e colombianos. Os EUA e a França também figuraram entre os países com baixa compreensão entre verdade e mentira. Os melhores resultados foram alcançados por participantes da Finlândia, Reino Unido e Noruega.

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O estudo da OCDE apresentou aos entrevistados declarações falsas e verdadeiras nas áreas de saúde, meio ambiente e relações internacionais. Considerando todos os países, os participantes conseguiram identificar corretamente as declarações como verdadeiras ou falsas em apenas 60% dos casos.

A pesquisa mostra que a sátira é o formato mais fácil de ser reconhecido como falso. Em 71% dos casos em que as declarações continham humor, as pessoas conseguiram identificar a falsidade. Em seguida, a desinformação direcionada foi identificada por 64% dos participantes, enquanto apenas 58% das propagandas inverídicas foram reconhecidas como falsas.

Já classificar informações como verdadeiras se mostrou mais difícil: os participantes reconheceram informações corretas em apenas 56% de todos os casos. Os americanos tiveram o melhor desempenho, classificando 63% das declarações corretamente. Os japoneses tiveram a pior marca, apenas identificando corretamente 51% dos casos.

Os participantes suíços demonstraram dificuldades para lidar com a desinformação – definida no estudo como “conteúdo criado e disseminado com o objetivo de enganar”. Os suíços reconheceram peças de desinformação como falsas em apenas 55% dos casos, ficando em último lugar junto com a França. Para os participantes de outros países, foi “geralmente mais fácil” reconhecer a desinformação, em comparação com outros formatos de fake news.

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Também foi difícil para os participantes suíços reconhecerem um conteúdo que foi tirado do contexto de forma enganosa. Nesse quesito, os EUA e a Suíça ficaram em último lugar. Em apenas 50% dos casos, os entrevistados dos EUA e da Suíça reconheceram essas informações como enganosas.

Algumas das declarações analisadas foram criadas por humanos. Outras foram geradas usando inteligência artificial (IA), através do modelo de linguagem do Chat-GPT4. As declarações produzidas por IA foram categorizadas corretamente como verdadeiras ou falsas em 68% dos casos. O índice foi maior do que a taxa de acerto nas declarações criadas por humanos (63%). Consequentemente, a Truth Quest conclui que o conteúdo gerado por IA é mais fácil de ser categorizado corretamente.

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Conteúdo de IA parece mais verdadeiro

Não surpreende que conteúdo falso gerado com inteligência artificial seja mais facilmente identificável. O que impressiona é que o conteúdo verdadeiro gerado por IA seja mais reconhecido corretamente como verdadeiro do que conteúdo criado por humanos.

Até agora, os suíços eram considerados particularmente resistentes a notícias falsas na internet. A habilidade de identificar conteúdos falsos viria do hábito de formar opiniões de maneira independente, como um resultado dos muitos plebiscitos que acontecem no país alpino. O livro Digitalisation of Swiss Democracy afirma que os suíços “têm na rotina um alto nível de avaliação de informações diametralmente opostas, graças às centenas de propostas políticas que avaliaram e campanhas que vivenciaram”.

Isso aumentaria “a resistência a informações duvidosas”, independentemente do canal, de acordo com o livro, publicado em 2021.

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O estudo da OCDE indica que os países em que grande parte da população consome notícias através das mídias sociais tiveram pior desempenho geral. Por outro lado, os países onde essa proporção é mais baixa alcançaram os melhores resultados.

No entanto, a Suíça parece um ponto fora da curva nesta análise. De acordo com o Reuters Digital News Report 2024, a proporção de pessoas na Suíça que acessa notícias pelas mídias sociais é de apenas 37%. No Brasil e na Colômbia, que ficaram em penúltimo e último lugar na Truth Quest Survey, a porcentagem é muito maior: 51% e 61% respectivamente. A Suíça também conta com um sistema de comunicação público amplo e um ecossistema de mídia relativamente forte.

Não há muita diferença entre os países

Para a cientista da comunicação Edda Humprecht, professora em Jena, Alemanha, que trabalhou na Universidade de Zurique por muitos anos, outros fatores pesam nos resultados suíços para além do consumo de mídia. Um elemento, por exemplo, é a capacidade de categorizar corretamente as informações de certas áreas. “Por exemplo, sabemos por estudos sobre educação em saúde que não temos uma compreensão dessa área realmente desenvolvida na Suíça”, disse Humprecht à SWI swissinfo.ch.

Humprecht relativiza a comparação entre os países no estudo da OCDE. Ela considera o estudo “sólido no geral” mas aponta que as diferenças entre os países são “bastante pequenas e não devem ser superestimadas”.

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Humprecht critica o fato de a pesquisa não ter divulgado exatamente quais declarações foram apresentadas aos participantes.

Este também é “um ponto-chave de crítica” para o cientista da comunicação Daniel Vogler, da Universidade de Zurique. Ele acha que o estudo é bem feito por si só: “O estudo parece ser sério. Ele está bem inserido na literatura de pesquisa internacional. A abordagem metodológica é transparente. A abordagem de gamificação usada é bastante inovadora”, disse.

No entanto, assim como Humprecht, Vogler também enfatiza que as “diferenças entre os países são muito pequenas e a incerteza em torno dos exemplos pesquisados é muito grande”. De maneira geral, a Finlândia, que ficou com o melhor desempenho, teve apenas 8% a mais de respostas corretas que a Suíça.

Edição: David Eugster/fh
(Adaptação: Clarissa Levy)

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