A força do povo pela força dos pedais
Os cidadãos que defendem um sistema de transporte que respeite os ciclistas querem que o governo federal intervenha mais diretamente nos governos locais, para que sejam implementados projetos que façam da bicicleta um meio de transporte mais atraente e seguro. Como a Suíça, com uma superfície tão montanhosa, poderia se transformar numa espécie de paraíso para os ciclistas?
Os eleitores suíços provavelmente irão decidir sobre uma iniciativa popular que pretende impulsionar o uso de bicicletas. A iniciativa, com as assinaturas necessárias, foi entregue às autoridades federais no início de março.
Não existe informação disponível sobre quantos quilômetros de ciclovia existem na Suíça. Existem apenas informações específicas para turistas sobre algumas rotas ciclísticas e uma comparação aproximada das ciclovias em seis cidades suíças.
Os defensores do uso de bicicleta, entretanto, são unânimes em afirmar que muito mais poderia ser feito para deixar o meio ambiente mais favorável para os ciclistas, especialmente nas regiões de língua francesa e italiana, onde geralmente as pessoas são mais apegadas ao uso de automóveis.
“A mentalidade é um pouco diferente da Suíça de língua alemã. Mas aos poucos está mudando”, afirma Jean-François Steiert, presidente do grupo Pro Velo (A favor das Bicicletas) e parlamentar pelo Partido Social Democrata.
Ele enumera alguns progressos feitos na cidade de Lausanne e em algumas cidades da França, onde as necessidades dos ciclistas foram ouvidas pelos engenheiros de trânsito.
Marco Romano, também parlamentar e membro do comitê da iniciativa pela defesa dos ciclistas, reconhece que o seu cantão de origem, o Ticino, ainda está muito atrasado neste sentido e tem o status praticamente de um “país em desenvolvimento”. Ele argumenta que a parte sul da Suíça deveria incrementar a infraestrutura para ciclistas, especialmente para os turistas.
Mais do que ciclovias
Em comparação com a Holanda ou a Dinamarca, a Suíça tem uma topografia desfavorável para ciclistas que não gostem de subir ladeiras. Apenas um terço da superfície do país é relativamente plana.
A Suíça é considerada mediana no quesito infraestrutura para ciclistas em comparação com a maioria dos outros países. Mas possui um potencial de desenvolvimento incrível.
Uma em cada dez pessoas trabalha numa distância de 5 km de casa, o que, segundo Steiert, é considerado uma distância ideal para ir de bicicleta.
Para fomentar o uso de bicicletas não é necessário apenas construir ciclovias. É preciso organizar estacionamentos para as bicicletas, áreas com limite de velocidade de 30 km/h, um sistema de pistas duplas para velocidades diferentes, menos semáforos e uma maior consciência a respeito das necessidades dos ciclistas por parte de quem realiza o planejamento urbano.
Infraestrutura
Evi Allemann, presidente da Associação pelo Meio Ambiente e Transporte e membro do Parlamento, vê um grande potencial nas áreas urbanas planas.
“São necessárias várias medidas, maiores e menores, para fazer com que o uso da bicicleta seja mais atraente”, afirma Evi. Ela acha fundamental que se crie uma infraestrutura favorável.
É claro que as cidades e municípios situadas em regiões montanhosas enfrentam maiores dificuldades, mas a popularidade das bicicletas elétricas tem aberto novas possibilidades.
Iniciativas
Pro Velo foi o primeiro grupo a entregar este ano as assinaturas coletadas para a iniciativa.
Após sessões de debates no parlamento, o governo irá fixar a data para a votação nacional.
A proposta está dependendo de mais de 20 iniciativas sobre vários temas relacionados.
São necessárias pelo menos 100.000 assinaturas válidas, e elas têm que ser coletadas ao longo de 18 meses a fim de se chegar a uma votação a nível nacional.
“Pode-se subir montanhas com uma bicicleta elétrica”, afirma Steiert.
Os defensores da causa querem que o apoio do governo federal seja fixado na constituição suíça, exatamente como acontece com as vias para pedestres e trilhas.
O Departamento Federal de Topografia, o órgão responsável pelos dados geográficos referenciais no país, conhece os dados no caso das trilhas. A Suíça possui impressionantes 24.000 km de trilhas nas montanhas.
Campanha
Os responsáveis pelas campanha levaram oito meses para reunir o número de assinaturas necessário para a iniciativa em favor das bicicletas e contam com o apoio de políticos da esquerda e até de centro-direita.
Daniel Bachofner afirma que a reação das pessoas nas ruas, durante a coleta de assinaturas, foi em geral muito positiva.
“A nossa proposta parece sensata até para os motoristas. Explicamos que é do interesse deles ter menos bicicletas nas ruas”, afirma o gerente da campanha.
Segundo Bachofner, a coleta de assinaturas foi especialmente bem sucedida nas regiões oeste de Zurique (Baden, Brugg e Aarau) e em Berna.
“Este resultado se deve ao fato de que nestas regiões havia grupos muito engajados conduzindo a campanha”, esclarece ele.
Ao todo foram reunidas 121.000 assinaturas até dezembro último. Apenas cerca de 105.000 assinaturas foram entregues à Chancelaria Federal no início de março.
Adaptação: Fabiana Macchi
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