Um pequeno país espremido entre a UE e a Rússia
A Suíça colabora com a Moldávia para fortalecer a democracia e integrar milhares de refugiados ucranianos. Paralelamente, o país europeu acusa a Rússia de interferir nas suas eleições presidenciais.
A República da Moldávia tem algumas semelhanças com a Suíça: é um país pequeno, neutro, multilíngue e sem litoral. No entanto, essas semelhanças são ofuscadas por diferenças significativas, já que a Moldávia é um dos países mais pobres da Europa.
No centro da geopolítica
O último conflito armado na Moldávia ocorreu há apenas 30 anos. Desde a invasão russa na vizinha Ucrânia, o país atrai a atenção dos analistas internacionais. Na região separatista da Transnístria, que ainda faz parte da Moldávia por direito internacional, estão estacionados cerca de 1.700 soldados russos.
Paralelamente, nenhum outro país recebeu tantos refugiados ucranianos, em proporção à sua população, quanto a Moldávia. Isso significa que o país, onde a água encanada ainda é rara em muitos vilarejos, tem feito grandes esforços para lidar com uma situação que afeta todo o continente.
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Como o país mais pobre da Europa é capaz de integrar 120 mil refugiados ucranianos
Em outubro de 2024, um referendo na Moldávia decidiu que o objetivo de adesão à União Europeia (UE) deveria ser incluído na constituição do país. Pouco mais de 750 mil cidadãos moldavos votaram a favor, enquanto 738.799 foram contra. A proporção favorável foi de 50,38%.
O resultado foi mais apertado do que as pesquisas anteriores indicavam. As forças pró-Rússia também obtiveram um desempenho melhor do que o previsto nas eleições presidenciais.
Suspeitas de compra de voto
Durante a campanha do referendo, um jornalista da swissinfo.ch visitou o país e encontrou moldavos que defendiam os laços estreitos com a Rússia.
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Moldávia decide futuro europeu em referendo histórico
No debate público, costuma-se fazer pouca distinção entre a adesão à UE e à aliança de defesa ocidental, a OTAN. Um moldavo pró-Rússia chegou a afirmar abertamente que defendia a adoção de um sistema federalista para o país.
Há indícios de que a compra de votos tenha desempenhado um papel no resultado apertado do referendo sobre a adesão à UE. No dia da votação, 20 de outubro de 2024, jornalistas da BBC relataramLink externo “evidências da compra de votos”.
A presidente da Moldávia, Maia Sandu classificouLink externo o episódio como “um ataque sem precedentes à liberdade e à democracia”. Ela afirmou que cerca de 300 mil votos haviam sido “comprados”.
Mídias internacionais, como a Deutsche Welle, relataramLink externo que os moldavos que votaram contra a adesão à UE e a favor de um candidato pró-Rússia teriam recebido o equivalente a cerca de 100 francos do governo russo. Embora esse valor não seja suficiente para garantir o sustento de uma pessoa, é uma quantia relevante na economia moldava.
Diáspora da Moldávia
A ampla diáspora moldava foi decisiva para que o referendo sobre a UE atingisse a maioria necessária. Em muitos países da Europa Ocidental, incluindo a Suíça, que não faz parte da UE, os moldavos se mobilizaram para participar da votação.
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Como uma migrante luta pela sua pátria distante
A Moldávia busca fortalecer os laços com seus cidadãos no exterior por meio de um “Escritório para Assuntos da Diáspora”. Nele, a representante Valentina Ceban presta orientação a compatriotas que desejam retornar ao país ou investir em negócios locais.
Papel da Suíça
A Cooperação Suíça lançou um projeto para fortalecer os vínculos entre os moldavos no exterior e sua terra natal. De acordo com o Ministério suíço das Relações Exteriores (EDA), a Suíça já é um dos “principais doadores bilaterais” da Moldávia.
A Suíça também desempenhou um papel fundamental na introdução de uma disciplina escolar obrigatória chamada “Educação para a Sociedade”, que visa preparar os estudantes moldavos para atuar como cidadãos críticos em um estado democrático.
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Suíça promove democracia nas escolas da Moldávia
Durante uma visita a aulas em uma escola de língua romena e outra de língua russa, uma diretora contou uma história impressionante sobre como aprendeu a pensar criticamente: foi seu professor de história nos tempos soviéticos quem lhe ensinou. No entanto, poucos alunos de sua turma entenderam que os professores os estavam incentivando a analisar criticamente os eventos sociais e políticos.
Fundos desviados por políticos corruptos da Moldávia foram escondidos na Suíça. O mais notório deles é Vladimir Plahotniuc. Sua mansão à beira do Lago de Genebra foi confiscada em setembro de 2024. O oligarca, que dominou a política moldava até 2019, adquiriu a mansão por 31,5 milhões de francos.
Cooperação na Moldávia
O jornalista François Pilet analisou as relações entre a Suíça e a Moldávia e concluiu que o fator decisivo será a atuação conjunta da Justiça e da diplomacia.
Nos últimos dois anos, foram realizadas quatro reuniões oficiais entre a Suíça e a Moldávia. Nesse período, a Suíça ampliou seu apoio ao país. O crescente interesse na Moldávia está relacionado à importância geopolítica que ela assumiu após o início da guerra de agressão russa contra a Ucrânia. O país deve continuar no centro das atenções internacionais.
Edição: Mark Livingston
Adaptação: Alexander Thoele
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